Toque feminino amplia espaço no Corpo de Bombeiros

Renato Fonseca - Hoje em Dia
30/11/2013 às 09:07.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:28
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

Se um casarão está em chamas, a coragem delas fala mais alto, e quando acontece um afogamento, mergulham de cabeça para trazer a vida à tona. Há exatos 20 anos, sempre que alguém grita por socorro a ajuda pode vir, também, de um braço delicado mas destemido. Em 1° de dezembro de 1993, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) ganhava um toque feminino, com a entrada das primeiras mulheres na corporação.

Com força e determinação, elas romperam a barreira do preconceito, conquistaram um merecido espaço e hoje trabalham dia e noite a serviço da comunidade. Passadas duas décadas, o contingente feminino ainda é pequeno na corporação: são 440 bombeiras em um universo de mais de 5 mil homens. Mas, se comparado à época das pioneiras, já é quase sete vezes maior.

Quem viveu essa transformação e agora trilha os caminhos da admiração e da confiança conquistados junto à tropa é a major Kênia Prates Silva Maciel de Freitas. A oficial tem a maior patente feminina hoje no Corpo de Bombeiros. Aos 39 anos, tendo dedicado os últimos 19 à corporação, orgulha-se de fazer parte dessa história. Filha de militar, ingressou inicialmente na PM, que era integrada ao CBMMG. Mas, o carinho e a afinidade com o Corpo de Bombeiros, mudaram o rumo da carreira.

Novos voos

Hoje, ela trabalha na Diretoria de Atividades Técnicas, na região Central de BH. Mesmo com a alta e respeitada patente, major Kênia espera ainda alçar novos voos na vida militar, mas sem tirar os pés do chão. “Claro que sonho em ser coronel, mas tudo tem o seu tempo. Me tranquilizo sabendo que Deus está no controle de tudo e é ele quem dá o norte” , aponta.

Casada e mãe coruja assumida da pequena Thaís, de 7 anos, a militar, que já atuou durante anos em ações de resgate e salvou centenas de vidas, sorri, toda prosa ao dizer que faz o possível para dedicar mais tempo ao marido e à filha.

“A família é o começo de tudo e deve ser valorizada. Sou apoiada a todo momento. Estar com eles é o que me proporciona o equilíbrio que preciso para seguir em frente”.

Nas alturas

Aprovada no concorrido vestibular de engenharia química da UFMG, em 2001, aos 18 anos, Karla Lessa Alvarenga Leal abriu mão do curso e enfrentou, com a cara e a coragem, a resistência machista de algumas pessoas. Até o pai precisou ser convencido antes de a jovem ingressar nos Bombeiros. Após muito estudo e dedicação, tornou-se a segunda mulher capaz de pilotar um helicóptero da corporação.

Com mais de 130 horas de voo, Karla conta que o serviço aéreo começa logo ao nascer do sol, às seis e meia da manhã. “A maioria das ocorrências, cerca de 60%, envolvem atendimento pré-hospitalar de acidentes em rodovias. O serviço é muito puxado, mas gratificante”, afirma a capitão, que ainda completa: “É muito prazeroso. Sempre que pousamos em um local somos recebidos por uma população que se orgulha em dizer que nos respeita. As crianças estão sempre falando que querem ser bombeiros.”

Participação delas trouxe mudanças na corporação

A chegada da mulher ao Corpo de Bombeiros, onde a referência na prestação do socorro era dominada pelo universo masculino, trouxe mudanças positivas. Organizadas e atentas a cada detalhe, elas modificaram o ambiente de trabalho e conquistaram o respeito dos militares.

É o caso da chefe da guarnição de combate a incêndio, sargento Elizabeth Moreira Daros, de 44 anos. Formanda na primeira turma que ingressou na corporação, a militar conhece como poucos o 1° Batalhão, no Centro da capital.

Impecável

Vestida em seu uniforme impecável, com o cabelo preso, maquiagem leve, unhas bem feitas e brincos discretos, ela se emociona ao lembrar casos que vão do céu ao inferno, e vice-versa. Entre os milhares de fatos que a marcaram, a sargento lembra-se de um dia especial que começou ruim, mas terminou com sorrisos. Há cerca de dez anos, após atender a três ocorrências, todas com óbito, a militar, chateada e esgotada, conta que um táxi acelerado entrou no Batalhão por volta das 20h. Entre os passageiros estava uma grávida prestes a dar à luz.

“Levamos ela para uma maternidade, mas, no meio do caminho, a mulher começou o trabalho de parto. Paramos a viatura e tivemos que fazer o parto em plena movimentada avenida Amazonas. Era o término de um dia sombrio com a feliz chegada de uma criança”, relembra a sargento Elizabeth.

São Paulo foi pioneiro

São Paulo foi o primeiro estado brasileiro a aceitar o ingresso de mulheres no Corpo de Bombeiros. A presença feminina na corporação paulista ocorreu em 1959.

Em Minas, a mudança veio somente três décadas depois.

Em 18 de maio de 1993, foi publicada uma lei pelo então governador Hélio Garcia, prevendo que pelo menos 5% do efetivo deveria ser de mulheres. Oitenta candidatas foram aprovadas no primeiro concurso. Após as provas práticas, houve duas desistências e 67 se formaram.


 

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