Tragédia faz Vale aposentar barragens e paralisar Minas

Tatiana Moraes (*)
29/01/2019 às 23:09.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:18
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

De um lado, alívio. Do outro, desespero. O anúncio de que a Vale irá acabar com dez barragens construídas à montante em Minas representa, ao mesmo tempo, o fim da apreensão para muitos moradores, mas também um forte impacto aos cofres dos municípios mineradores. A “aposentadoria” das estruturas foi confirmada ontem pela companhia.

A expectativa é a de que a produção da multinacional no Estado seja reduzida em 40 milhões por ano – o equivalente a 28,4% do que foi extraído pela empresa de janeiro a setembro de 2018.

O processo técnico para desfazer as estruturas, chamado de descomissionamento, pode durar de um a três anos, dependendo da barragem. Atividades de diversas minas serão suspensas, disse o presidente da Vale, Fábio Schvartsman. 

A quantidade de empreendimentos a serem embargados não foi informada. Procuradas, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) e a Vale não declararam quais são as barragens à montante operadas pela mineradora.

Já o titular da Semad, Germano Vieira, disse que a medida é positiva. "Ainda não fomos acionados, mas aguardamos com muita ansiedade", pontuou. Ainda de acordo com ele, não há previsão de quando o projeto será apresentado ao governo de Minas.

Críticas

A decisão desagradou à Associação de Municípios Mineradores (Amig). “Se a Vale disser que vai minerar a seco, vamos aplaudir e pular de alegria. Mas foi uma falta de respeito avisar por ‘bilhete’ que as operações serão suspensas, sem uma preparação dos municípios que foram explorados por décadas, não é certo. A Vale foi feita em Minas, ela não pode jogar as cidades mineradoras na lata de lixo”, criticou o consultor de Relações Institucionais e Desenvolvimento Econômico da entidade, Waldir Salvador.

Ele destaca que as localidades dependem da atividade e precisam de tempo para desenvolver projetos para diversificar a economia. 

Em Itabira, na região Central, a previsão é a de que a mina seja desativada em dez anos e há algum tempo a cidade já se prepara para engordar o caixa com outras receitas que não sejam os royalties da mineração. “Se a mineradora apenas sair da cidade, sem preparo, a economia para”, afirmou. 

ecretário de Desenvolvimento Sustentável)

Prefeito de Nova Lima, Vitor Penido de Barros também faz críticas. “Caso isso aconteça, não só aqui, mas as prefeituras de Ouro Preto, Santa Bárbara e Itabira vão fechar as portas. Metade da minha receita vem da mineração, e essa decisão vai provocar muito desemprego”. 

O chefe do Executivo frisou que o rompimento em Brumadinho foi “gravíssimo e a Vale deve ser responsabilizada”. “Não estou dizendo que sou a favor das barragens e que não me preocupo com a segurança. Não é isso”, ponderou.

Para que não haja demissões, cinco mil empregados devem ser remanejados. A assessoria da Vale não soube informar por quanto tempo o emprego deles estará garantido. 

Embora os postos de trabalho não sejam afetados em um primeiro momento, impactos são inevitáveis. “Ainda não sabemos qual a dimensão do rombo, mas ele é grande”, afirmou o coordenador do curso de economia do Ibmec, Márcio Salvato. 

 

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