Trajetória de sucesso começou com "Travessia"

Hoje em Dia
13/06/2015 às 15:43.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:28

Músico, compositor, jornalista e escritor. Fernando Rocha Brant tem uma vasta e bela trajetória. Vítima de complicações ocorridas de uma cirurgia de transplante de fígado, o mineiro faleceu na noite dessa sexta-feira (12).

Fernando Brant nasceu em Caldas, no Sul de Minas, em 9 de outubro de 1946. Aos cinco anos mudou-se para Diamantina, no no Vale do Jequitinhonha, e aos 10, foi a capital mineira. Em BH, passou o resto da infância e adolescência. 

Quando começou a cursar a faculdade de Direito aumentou o seu envolvimento com música e literatura. Chegou a trabalhar como escrivão do Juizado de Menores, mas, no início dos anos 60, conheceu o amigo Milton Nascimento. 

A primeira letra veio em 1967, após ser convencido por Milton. A música era "Travessia", composição que, naquele mesmo ano, obteve o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro. Aquele foi o estopim da carreira de sucesso de Milton.

Já como jornalista, em 1969, Brant conseguiu trabalho na revista "O Cruzeiro". Nesse mesmo ano, em Belo Horizonte, Brant e os amigos começaram a articular o projeto que se tornaria o "Clube da Esquina". 

Com mais de 200 canções, Milton, Lô Borges, Tavinho Moura e outros membros do Clube se tornaram uma referência. Entre os grandes sucessos estão clássicos como "San Vicente", "Saudade dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)", "Ponta de Areia", "Maria, Maria", "Para Lennon e McCartney", "Canção da América" e "Nos Bailes da Vida", entre muitas outras.

DEPOIMENTO

Veja alguns relatos dados por Fernando Brant ao site Museu Clube da Esquina

FAMÍLIA
"Minha mãe é de Pitangui, Minas Gerais, e meu pai é de Diamantina. Veio pra Belo Horizonte, estudou aqui, e foi ser promotor lá em Pitangui. Aí, lá em Pitangui, tinha aquele negócio do footing. As moças andando em volta, os rapazes na beirada olhando. E aí ele gostou da minha mãe, só que ela era quase noiva e ele era tímido pra danar. Então ficava aquele negócio assim, olhando. Um dia, esse seu Joaquim, que era amigo dele, empurrou ele pra cima dela, e aí tudo começou. Acabaram casando."


INFÂNCIA
"Eu nasci em Caldas. E, segundo minha mãe, nesse dia a terra tremeu. [Risos] Caldas é uma terra meio… geologicamente tem uma confusão no negócio de urânio, sei lá. . Só sei que a minha mãe falava isso: que a terra tremeu. Eu fiquei lá em Caldas até antes de fazer cinco anos.. Eu lembro que eu fiz meu quinto aniversário já em Diamantina. E eu lembro por causa de uma coisa interessante que aconteceu. No dia desse meu aniversário de cinco anos — lá em casa não tinha geladeira, não usava essa coisa —, choveu pedra. Então a minha mãe foi lá no quintal, deixou uma bacia, pegou aquelas pedras de gelo e pôs nos refrigerantes. [Risos]"


DIAMANTINA
"Eu cheguei em Diamantina e fiquei lá até nove anos e meio, quase 10 anos. Fiz um monte de amizade, vivia na rua. Quer dizer, brincando em enxurrada quando chovia, jogando bola. Morava em frente à praça de esportes, então nadava. Muita bolinha de gude, finca, essas coisas que menino usava na época. Meninos e meninas, porque as minhas irmãs participavam disso também. Finca é uma brincadeira que tem que ser em terra. Não pode ser muito dura. A finca é um negócio de ferro, um negócio desse tamanho assim. Você faz uma casa do seu lado, outra do outro, então cada um joga até errar, até não conseguir fincar. Toda vez que você finca, você vai fazendo a lista pra ligar pra você rodar. E quem voltar primeiro pro seu lugar ganha. É uma brincadeira que hoje é difícil, porque só tem asfalto."


DITADURA
"Eu devia ter uns 15, 16 anos quando começou o abuso dos militares. O meu pai, que era um juiz, gostava do PSD, e começou a discussão na mesa. O meu irmão trazia as notícias estudantis, do absurdo, e o meu pai também começava a achar um absurdo. Todas as coisas de política, as coisas comuns, do dia-a-dia, a gente conversava e era uma coisa muito pacífica.

FORMAÇÃO MUSICAL
"O meu pai gostava de música. Ouvia muito rádio, que tocava música boa da pré-bossa nova. Tito Madi, Elizeth Cardoso, Agostinho dos Santos. Então eu acompanhava essas coisas, lia jornais também. A primeira vitrola que chegou em casa foi o meu irmão mais velho que comprou, que também trouxe os discos de música americana e já também do começo da bossa nova. Quer dizer, foi aos pouquinhos. Primeiro através do rádio. Se bem que desde pequeno, lá em Diamantina, ouvia muito a Rádio Nacional, porque a Rádio Nacional era a TV Globo da época, então todo mundo ouvia. Os cantores todos participavam dos programas. Ali tinha as novelas dos adultos e tinha a da gente, “Jerônimo, herói do Sertão”, que era um faroeste brasileiro. E tinha os programas de auditório em que cantavam Ângela Maria, Emilinha Borba, Marlene, Cauby Peixoto. Eu acho difícil a música não entrar na vida da gente. A música, essa que a gente vai ouvindo, é trilha sonora da vida da gente. De Diamantina, eu lembro de uma música que era assim: “Era de madrugada, ia raiando o dia/ Quando em minha casa bateu Maria”. Era um samba que tocava na Rádio Nacional."



Travessia

Primeira canção escrita por Brant, em 1967, após insistentes pedidos de Milton Nascimento. No mesmo ano, a composição fica em segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, quando Milton é eleito o melhor intérprete, alavancando sua carreira nacionalmente. 
 

Ponta de Areia

Considerada uma das principais canções da dupla Milton e Brant, lançada em 1975, no disco Native Dancer, em parceria com o saxfonista americano Wayne Shorter. Foi gravada por ícones da música nacional, como Elis Regina e Nana Caymmi, e pelo renomado grupo Earth Wind and Fire. Abaixo uma versão recente da jovem cantora Esperanza Spalding, apontada hoje como uma das principais estrelas do jazz norte-americano.      Maria Maria   Outra canção histórica de Fernando Brant, lançada em 1978, no álbum Clube da Esquina 2.

 

  Canção da América   Na verdade, a música é inspirada em "Unencounter", composta por Milton Nascimento, em 1979. A versão em português, feita por Brant, ficou conhecida como uma espécie de hino à amizade. Ela ficou marcada também pela trilha sonora de homenagens a Ayrton Senna, já que era a música preferida do piloto de fórmula 1.

 

* (Com informações do Museu do Clube da Esquina)

 

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