Um a cada cinco mineiros vive na pobreza; 739 mil não ganham mais que R$ 145 por mês

Renata Galdino e Lucas Eduardo Soares
06/11/2019 às 21:08.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:35
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Um a cada cinco mineiros sobrevive em condições de pobreza. São 4,1 milhões de pessoas recebendo, no máximo, R$ 420 mensais para dar conta de despesas básicas, como água, luz e comida. O número corresponde a 20% dos habitantes. Desses, 739 mil são obrigados a se virar com apenas R$ 145 a cada 30 dias. Os dados referentes a 2018 constam na “Síntese de Indicadores Sociais”, divulgados nesta quarta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Maurício VieiraAos 50 anos, Sebastião recebe R$ 400 do INSS e ainda precisa pagar por empréstimo que foi feito para comprar barracão na região Nordeste de BH

Para especialistas, a falta de investimentos em políticas públicas, como transferência de renda, geração de emprego e acesso à educação, contribuem para o cenário. “Houve retrocesso, e a desigualdade social é gritante. A probabilidade é piorar com a redução nos investimentos sociais e a precarização do trabalho”, frisa o coordenador do Polos de Cidadania da UFMG, André Luiz Freitas Dias, programa que atua em comunidades de extrema vulnerabilidade social. 

Segundo ele, a situação é bem crítica nas regiões do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. Mas até a capital não fica fora das estatísticas. De acordo com o IBGE, 316 mil moradores de BH (12,7%) sobrevivem com até R$ 420 mensais.

Exemplo

Com o extrato bancário em mãos, Sebastião Gonçalves, de 50 anos, mostra o último depósito em conta de R$ 400, a única quantia que tem para passar o mês. O dinheiro vem do INSS, já que está afastado para fazer hemodiálise.

Morador há quatro meses da Favela da Luz, na altura do bairro Jardim Vitória, região Nordeste da metrópole, do valor recebido pelo benefício ainda precisa pagar o empréstimo de R$ 10 mil, que fez para comprar o barracão, com vista para um córrego imundo. “Às vezes, estou almoçando e sinto um cheiro muito ruim. Dá vontade de parar de comer”, conta.Maurício Vieira / N/A

 Morador de favela, Eduardo faz bicos e se ressente de ter largado estudos

Qualificação

"É preocupante. Essas pessoas sobrevivem com menos da metade de um salário-mínimo. Para melhorar, é preciso emprego e educação, que possibilita a inclusão no mercado de trabalho e aumento da renda”, destaca o economista José Eustáquio Simões, professor das Faculdades Promove.

Se tivesse tido a oportunidade de estudar, o pedreiro Eduardo Gomes da Silva, de 34 anos, acredita que estaria vivendo outra realidade, ganhando mais do que os R$ 400 que consegue por mês. “Parei na 5ª série”, conta o rapaz, natural de Almenara, no Vale do Jequitinhonha.

Hoje, ele mora em um barracão de dois cômodos, também na Favela da Luz. Para chegar ao local, é preciso atravessar um córrego, onde esgoto das casas é despejado, e subir degraus íngremes e tortuosos.

“Vivo nessa situação. Faço alguns bicos, levantando casa ou reformas, mas também faço tudo. O importante é não mexer com nada errado”, afirma o rapaz.

Ações em andamento

Em nota, a Secretaria do Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) informou que, a partir de 2020, vai intensificar a orientação, capacitação e repasses de verba para regiões com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) mais baixos. Conforme a pasta, 1.174 Centros de Referência de Assistência Social (Cras) no território acompanham mais de 229,6 mil famílias em vulnerabilidade social.

Nos programas de transferência de rendas, como Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada, são atendidas mais de 3,5 milhões de pessoas. A aposta para geração de renda é incentivar a criação de espaços de comercialização para empreendimentos econômicos solidários.

Já a PBH, também em nota, informou que, como medida de enfrentamento à pobreza extrema, lançou, em abril deste ano, uma série de ações para fortalecer a proteção e a garantia dos direitos, especialmente para famílias mais pobres e vulneráveis, que vivenciam situações de perda ou violências.

Destaca-se o Programa de Assistência Alimentar e Nutricional Emergencial, criado em 13 de setembro, destinado a quem não tem renda. O auxílio é de R$ 600, dividido por seis meses.

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