Um a cada quatro pacientes não trata o hipotireoidismo; medicação é eficaz para garantir bem-estar

Patrícia Santos Dumont
07/06/2019 às 20:33.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:01
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Falta de energia, sonolência, alterações repentinas de peso e humor e memória fraca podem indicar uma série de problemas de saúde. Mas, juntas, revelam uma doença comum, que, embora mereça atenção especial, ainda é negligenciada pelos brasileiros: o hipotireoidismo. Incidente em quase 8% da população, impacta o organismo como um todo. No entanto, 25% dos pacientes não fazem o tratamento adequado. A boa notícia é que basta um comprimido diário para levar uma vida normal.

“Na época, foi bem difícil entender que teria de tomar um remédio para sempre. Mas percebi que não é nenhum bicho de sete cabeças. Hoje, tiro de letra”, conta a bióloga Tuana Morena Marques Santos, de 32 anos, diagnosticada há seis. “Tinha problema com sono e alterações de humor, que acabaram graças ao tratamento. A única briga realmente ainda é com a balança”, brinca, referindo-se ao ganho de peso comum entre os pacientes.

Autoimune

Quase 70% dos casos da disfunção da tireoide são ocasionados por doença autoimune, ou seja, o organismo ataca a glândula localizada no pescoço, que, aos poucos, vai deixando de funcionar. Irreversível, o problema, que afeta mais mulheres que homens, requer tratamento definitivo, feito com reposição diária dos hormônios.

“Brinco que a gente nasce com duas tireoides – uma no pescoço e outra na farmácia. Se a do pescoço não estiver funcionando, a gente repõe com a outra. E não tem nada a ver com a reposição da menopausa. São hormônios seguros, sem efeitos adversos e que não causam câncer”, detalha o médico Adauto Versiani, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional Minas Gerais (Sbem-MG).

Sem sintomas

Paciente do especialista, a engenheira civil Jaqueline Ramos Musman, de 57 anos, por exemplo, nunca conviveu com os desagradáveis sintomas do hipotireoidismo. Há duas décadas, recebeu o diagnóstico por acaso. “Usava anticoncepcional, mas no fim de uma cartela acabei não menstruando. Fiz teste de gravidez, que deu negativo, mas os exames de sangue detectaram uma baixa nos hormônios”, lembra. A alteração do ciclo menstrual é um dos sinais comuns da doença, que, quando não tratada, pode levar à infertilidade. 

Hoje, assim como quando descobriu o problema, Jaqueline leva uma vida normal. A engenheira toma a dosagem máxima do medicamento, o que significa que a tireoide dela já deixou de funcionar. A recomendação dos médicos é ajustar a dose do hormônio a cada três meses, um semestre ou ao ano.

Tratamento

Pesquisa realizada recentemente entre os brasileiros – encomendada pela farmacêutica Sanofi – mostrou que um quarto dos pacientes com hipotireoidismo não fazem o tratamento. Necessário para a correta absorção dos hormônios, o jejum de meia hora posterior à ingestão do remédio é apontado como principal empecilho.

Diretor da Sbem, o endocrinologista Paulo Augusto Miranda, que atua em Belo Horizonte, explica que a adesão à terapia, simples e eficaz, é fundamental. Segundo ele, o jejum é importante para que a dose prescrita pelo médico seja a mesma metabolizada pelo organismo. 

“Toda doença crônica guarda alguma dificuldade quanto à adesão plena. Importante salientar que o tratamento, a simples ingestão do comprimido, é extremamente eficaz. É a melhor reposição hormonal que temos. Pedimos que o remédio seja tomado antes do café da manhã e em horário distinto de polivitamínicos e alguns anticonvulsivantes”, reforça.Editoria de Arte 

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Teste do Pezinho diagnostica doença no recém-nascido

Lembrado sobretudo neste mês, quando é realizada a campanha Junho Lilás, o Teste do Pezinho é o principal caminho para detectar a doença no recém-nascido. Realizado no Brasil desde a década de 1970, a partir da coleta de algumas gotas de sangue do calcanhar do bebê, o exame identifica imediatamente o funcionamento precário da glândula, em função do hipotireoidismo congênito.

Nas crianças, a deficiência, cuja frequência é de 1 para cada 2.500 nascidos vivos, leva ao cretinismo, desenvolvimento inadequado do cérebro que acarreta retardamento mental irreversível. “Por isso, é tão importante o teste”, reforça o endocrinologista Adauto Versiani.

Além do hipotireoidismo, o exame, celebrado mundialmente no último dia 6, detecta, na forma simples, realizada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), outras cinco doenças. Um abaixo-assinado digital propõe um projeto de lei para estender o espectro de doenças identificadas na triagem. 

Na gravidez

Grávidas com hipotireoidismo também devem redobrar a atenção. O desenvolvimento dos órgãos do bebê, que ocorre nas primeiras 12 semanas de gestação, depende dos hormônios da tireoide produzidos pela mãe, já que o feto, nesse período, é incapaz de produzi-los por conta própria. 

“Uma vez tendo engravidado, é preciso lembrar que é a mãe que passará o hormônio para a criança (nas primeiras 12 semanas). Por isso, é importante que colha o TSH (hormônio estimulante da tireoide) e faça um acompanhamento mais de perto com o endocrinologista ou outro médico que a acompanhe para ajustar as doses durante a gravidez”, detalha o especialista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia.

Crianças com hipotireoidismo não tratado podem ter queda no rendimento escolar, motivado por baixo QI, além de terem o crescimento prejudicado, já que os hormônios da tireoide afetam o organismo de maneira sistêmica. 

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