Universitários e chefes do tráfico: polícia investiga estudantes que vendem drogas em BH

Simon Nascimento
scruz@hojeemdia.com.br
29/11/2018 às 07:00.
Atualizado em 28/10/2021 às 02:26
 (Simon Nascimento)

(Simon Nascimento)

O ambiente universitário está na mira da Polícia Civil. Investigadores apuram o crescimento do tráfico de drogas chefiado por alunos de instituições de ensino superior em Belo Horizonte. O esquema é organizado em redes sociais e comandado por estudantes com elevado poder aquisitivo.

Contato direto com os usuários e domínio das plataformas digitais ajudam a explicar o envolvimento cada vez mais frequente desses jovens no comércio ilegal. Na maioria dos casos, eles vendem entorpecentes sintéticos – LSD e ecstasy – para uma clientela que também tem boa condição financeira.

“Temos investigações em andamento. É um movimento que está crescendo, principalmente nos bares do entorno das universidades e nas festas de calourada, raves”, afirma o delegado Wagner Pinto, chefe do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico.

O policial evita falar sobre os casos, sob a justificativa de que essa é uma “informação sigilosa”. Porém, a prisão de um aluno do 9º período de química da UFMG, ontem, reforça o alerta. O rapaz de 30 anos se encaixa no perfil descrito pela polícia, com um agravante: utilizava os conhecimentos adquiridos no curso para manipular as drogas conforme o desejo dos clientes.

O universitário trabalhava sozinho desde 2014. Ele montou uma espécie de laboratório em uma república onde morava, no bairro São Francisco, Noroeste de BH. Em um site, oferecia LSD, ecstasy, anabolizantes, drogas injetáveis e uma variedade de maconha conhecida como “Vanilla Kush”.

O cannabis, segundo a Polícia Civil, era modificado geneticamente e importado de países europeus, como Polônia e Holanda. Cada grama era comercializado por R$75, devido ao alto nível de tetraidrocanabinol (THC), o princípio ativo da planta. “Um comprimido de LSD era vendido acima de R$ 50”, conta o delegado.

59 mil registros de apreensões de drogas ocorreram em minas em 2018, segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp)

Em todo lugar

Especialistas, no entanto, reforçam que o uso de substâncias sintéticas é um problema recorrente. “Não se pode criminalizar a universidade. Se essas pessoas não fossem universitárias, usariam a droga da mesma maneira”, diz o coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, Robson Sávio Reis Souza. “São pessoas da mesma classe socioeconômica que frequentam os espaços de entretenimento e diversão e ampliam laços sociais”, acrescenta. 

Professor do Departamento de Ciências da Computação da UFMG, Adriano Machado Pereira diz que a web favorece a expansão desses negócios. Para ele, o maior desafio está na falta de fiscalização. No entanto, ele também garante “que no ambiente virtual qualquer ação vai deixar rastros”.

Em nota, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais diz que realiza cursos e palestras para que a instituição se informe sobre temas relevantes e “preocupantes do ambiente escolar”. Conforme o órgão, cabe a cada unidade avaliar medidas a serem tomadas.

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) foi procurada, mas não se manifestou. A assessoria de imprensa da UFMG informou que vai aguardar as investigações.

Além Disso

Em um dos anúncios feitos no site comandado pelo universitário detido pela polícia, o criminoso alertou os clientes sobre o efeito das substâncias vendidas. “Demora muito para bater, não se desespere e não consuma mais/outra coisa enquanto aguarda”, diz. O estudante também mostrava avaliações de usuários. Em um dos relatos, uma pessoa escreveu que o uso de uma droga sintética provocou “visuais psicodélicos”.

O lucro que o aluno de química obteve não foi divulgado. Mas, na república em que morava, foi apreendida uma variedade de drogas avaliada em R$ 400 mil. Balanças de precisão também foram recolhidas. “É uma modalidade criminosa diferente. Para concluir o inquérito, nós estudamos o perfil dos usuários e a forma como é desenvolvida essa venda”, disse Wagner Pinto. Segundo o delegado, o pagamento era feito pessoalmente. “Geralmente, em 90% dos casos, é em dinheiro, nos ambientes próximos às universidades e até mesmo dentro”.

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