Vale tudo para entrar 2016 com o pé direito

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
31/12/2015 às 07:00.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:30
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

O que para alguns é apenas uma alteração no calendário, para outros é momento de renovar a fé e fazer novas apostas para o ano que vai começar. Nesse caso, o Réveillon é a oportunidade de colocar em prática as superstições que trazem sorte, amor e fortuna para os próximos 12 meses.

A enfermeira Natália Geórgia Lourenço Bragança, de 29 anos, além de não abrir mão de cores tradicionais na festa de Ano Novo, sempre levanta o pé esquerdo durante a contagem regressiva para a meia-noite, para entrar no ano seguinte com o pé direito.

“Isso significa que a gente quer começar da melhor forma e que tudo dê certo. Também acredito que as cores tenham grande influência na energia que queremos preservar para o ano que vai vir. O branco transmite paz, o amarelo e o dourado representam o ouro, a riqueza”, diz, revelando as escolhas.

Recomeço

Apesar de sempre seguir esses rituais – com mais intensidade de 2010 para cá –, Natália confessa desconhecer a origem deles, como a maioria dos adeptos. “Fiquei sabendo pela televisão sobre estudos e relatos de especialistas em superstições, pessoas que estudam energias positivas e negativas. Mas a origem não sei qual é”, conta a enfermeira.

Para a socióloga e professora do mestrado em Estudos Culturais Contemporâneos da Universidade Fumec, Cristina Leite, criar meios de lidar com aquilo que soa absurdo e sem explicação é uma tentativa de circular pelo mundo de maneira menos penosa.

“Nosso mundo é tão absurdo e nossa vida é um mistério tão grande, que precisamos criar mecanismos para que, em algum nível, a gente possa controlar isso. A eficácia das superstições não é concreta, é simbólica, mas elas reorganizam as coisas para a gente”, explica.

Renovação

A médica Ana Carolina Andrade Pinto, de 31 anos, também acredita nisso e não abre mão de repetir algumas simpatias nessa época do ano. Para ela, mesmo se não trouxerem o efeito desejado, mal também não farão.

Na casa dela, toda a família gosta de comer lentilhas na noite de Réveillon. Já o frango fica proibido de entrar no cardápio nesse dia. “Porque ele cisca para trás e não queremos um ano ruim”, diverte-se.

Ana Carolina também faz questão de usar uma peça íntima nova durante todo o dia 31 e outra na virada. Desde 2013, a escolha tem sido pelas de cor amarela. Para ela, a fé nesses momentos é importante para compreender e enfrentar as adversidades.

“Coisas ruins acontecem para nos ensinar o que precisamos. Basta olharmos direito para vermos que precisávamos de determinadas lições para crescermos, independentemente de que aspecto for”.

Para especialistas, a busca pelo sobrenatural traz esperança e conforta as pessoas

Na prática, a passagem de um ano para outro não é diferente da mudança comum de uma quinta para uma sexta-feira. Mas, segundo a psicanalista e professora do curso de Psicologia da PUC Minas Paula de Paula, a transição de dezembro para janeiro tornou-se emblemática.

“Você já imagina que outra vida seja possível e isso acontece com a gente passando a apostar em alguma coisa. Pode ser na palavra de Deus, para os mais religiosos, ou em uma superstição, por exemplo. É sempre uma aposta e ela não tem nenhuma garantia. É como fazer compras no shopping e receber talões para concorrer a prêmios. As pessoas sempre apostam”, compara Paula.

De acordo com a psicanalista, recorrer a determinados valores e símbolos é o que faz com que o ser humano consiga entender que houve uma passagem. “Não tem diferença nenhuma, na verdade, mas, do ponto de vista da simbologia, tem muita. Por isso muita gente recorre a gurus, astros, horóscopos. São sempre elementos capazes de nutrir as pessoas de esperança”.

Amuletos

A socióloga Cristina Leite, da Universidade Fumec, diz que solucionar um problema de maneira simbólica é eficiente, já que nossa sociedade vive no modelo chamado de “meia crença”. “É como aquele ditado: ‘não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem’”.

O segredo, nesses casos, conforme Cristina, é seguir algumas receitas, criadas há anos por pessoas que desconhecemos e em circunstâncias que ignoramos, mas que nos passam a sensação de que conseguiremos dominar espaços e ter controle sobre a natureza. São práticas que existem para nos oferecer mais conforto e ajudar a encarar desafios.

“A vida é difícil. Pegamos o jornal todos os dias, com um monte de notícias ruins e não podemos fazer nada. Às vezes, parece que estamos na fila para que algo ruim aconteça”.

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