Veja o relato do voluntário que foi resgatar uma vaca e encontrou o 2° ônibus sob a lama

Juliana Baeta
28/01/2019 às 15:26.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:16
 (Nelio Costa )

(Nelio Costa )

Ao sair para fazer o resgate de uma vaca que estava atolada no fim da tarde desse domingo (27), o brigadista voluntário Nelio Costa, de 62 anos, acabou encontrando o segundo ônibus soterrado pela lama. A vaca acabou tendo que ser sacrificada, mas a empreitada fez com que ele encontrasse o veículo e indicasse o caminho para os bombeiros. 

Segundo conta, ao chegar aos arredores da região da Mina do Feijão havia acabado de acontecer uma confusão entre voluntários que faziam o resgate dos animais e a coordenação oficial da área, que impedia o acesso dos voluntários. 

"O acesso foi fechado com tapumes, mas os voluntários deburraram a barreira. Alguns grupos pegaram os tapumes para utilizar como apoio para a vaca que estava atolada. Descobri que eram duas vacas, e como um grupo estava carregando vários objetos e eu estava sozinho, resolvi seguir por outro lado, um caminho que era mais direto para chegar a um dos animais", lembra.

Enquanto um grupo seguia em direção a vaca que estava mais atolada -  e que acabou tendo que ser sacrificada posteriormente -, o brigadista se embrenhou para o outro lado, em direção a vaca que aparentava estar em situação menos grave.   

"Então fiquei ali sozinho, perto dela, para ela se acostumar comigo, com meu cheio, e não se assustar ou ficar desesperada. Vi que ela não estava atolada, mas ilhada. Comecei a observar o entorno e vi uma peça azul no meio da lama, o que atraiu minha atenção. No primeiro momento achei que fosse uma caixa d'água, mas quando bati, percebi que era metal e comecei a escavar', lembra.

Ao escavar um pouco mais a estrutura com um canivete, ele descobriu a inscrição "Autorizado Denatran" e entendeu do que se tratava. Ele passou a gritar para as pessoas que estavam na região, distantes cerca de 100 metros para fazer o alerta.   
 
"Também passei a acenar para os helicópteros que sobrevoavam a área. Depois de um tempo outros moradores da região chegaram e conseguimos tirar um pedaço da lataria, que deixamos visível no local para indicar para os bombeiros", relata. 

Ele também lembra que enquanto escavava, pensava em todas as pessoas que poderiam estar no veículo e nas tantas outras que ainda estão debaixo da lama. "É uma alternância de sentimentos, eu custei a conseguir dormir a noite. A lama ali é muito densa, por diversas vezes atolei o meu pé fazendo aquele caminho. E tem muitos galhos também, em cima do ônibus mesmo havia uma árvore bem grande".   

O voluntário acredita que o trecho onde o ônibus estava fica entre a margem da lama e a estrada. "E dentro do helicóptero não dava para perceber isso, porque havia muito lama em cima. Eu só consegui perceber porque estava ali do lado e no mesmo nível da lama", lembra.

Trabalhos voluntários

"Algumas pessoas até questionam porque tem gente preocupada em salvar animais enquanto há seres humanos ali, mas já tem centenas de pessoas auxiliando nessas operações de busca das pessoas. E os animais também são vidas que estão sofrendo. Tenho um sítio ali perto que fica no meio de uma mata, então eu tenho todo esse contato com pássaros, macacos, esquilos, bichos diversos, e isso acabou me despertando uma sensibilidade também com essas vidas. E de todo modo, foi graças à vaca que eu encontrei o ônibus", relata Nelio. 

Além disso, ele acredita que o impedimento de voluntários para atuarem no local é uma incoerência. "Até entendo a preocupação com pessoas que não têm o mínimo treinamento, mas há pessoas preparadas também e dispostas a ajudar. Eu frequento a região desde pequeno, tenho treinamentos como brigadista, mas acho uma incoerência impedir o acesso de voluntários, principalmente do pessoal de resgate dos animais, porque quanto mais o tempo passa, mais difícil fica socorrê-los". 

Ele também cita como exemplo os trabalhos dos brigadistas voluntários, como ele, no combate a incêndios florestais. "Há um movimento para dificultar a ação dos brigadistas, mas a maioria deles mora na região, está mais perto. Como são os primeiros a chegar, às vezes, quando eles começam a atuar no combate de um incêndio florestal, eles impedem que um pequeno fogo se torne um incêndio sem controle", conclui. 

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