Vetor potencial: temor é o de que 'primo' do Aedes aegypti dissemine febre amarela nas cidades

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
17/02/2018 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:24
 (Pedro Gontijo)

(Pedro Gontijo)

A descoberta do vírus da febre amarela em insetos do tipo Aedes albopictus no Leste de Minas Gerais aumenta a preocupação de a doença avançar para as áreas urbanas. No passado, pesquisas já mostraram o potencial de transmissão do “primo” do mosquito da dengue. 

Chamado de “Tigre Asiático”, por ter origem na Ásia, o inseto contaminado foi encontrado por pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC), no ano passado, nas cidades de Itueta e Alvarenga, ambas no Leste do Estado. 

Com hábitos muito próximos aos do Aedes aegypti, o mosquito se diferencia pela capacidade de circular tanto na zona urbana quanto na rural. Ao contrário do transmissor da dengue, que é “morador” de centros urbanos.

Até o momento, todos os casos de febre amarela descobertos são fruto de contaminação no meio rural. O receio agora é que o “Tigre Asiático” se contamine na mata e siga para as cidades espalhando a doença. “É preocupante, mas não é desesperador. O que precisa ser feito é um controle vetorial mais rígido nas áreas urbanas e periféricas para evitar transmissão”, afirma o pesquisador e diretor do IEC, Pedro Vasconcelos. 

Ele explica que ainda é cedo para afirmar categoricamente sobre a capacidade de transmissão da doença pelo Aedes albopictus. Mas lembra que, no passado, por meio de pesquisa feita em conjunto com o Instituto Oswaldo Cruz e uma instituição francesa, eles comprovaram que, em laboratório, ele é vetor de febre amarela. Agora, estudos seguem para checar se o mesmo ocorre na natureza. 

No entanto, já causa preocupação. O próprio Ministério da Saúde informou que acompanhará as próximas etapas da pesquisa a fim de adequar os trabalhos às descobertas. 

“A possibilidade é de ele, no futuro, se tornar transmissor potencial da doença”Pedro VasconcelosPesquisador do IEC

Surto

Antes do resultado final dos estudos, especialistas da área já começam a juntar indícios e afirmam ter sim motivo de alerta. Coincidência ou não, o Leste de Minas, onde se descobriu a presença dos mosquitos infectados, foi uma região de explosão de casos no ano passado. Foram ao menos 150 confirmações da doença na regional, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). 

“Claro que há chances de o albopictus ter agravado o surto no leste mineiro em 2017. Ele tem a capacidade de fazer a conexão entre a zona rural e o meio urbano e está em grande quantidade no Estado”, destaca virologista Flávio Guimarães da Fonseca. 

A infectologista Silvia Hees de Carvalho concorda com o aumento dos riscos de contaminação e explica que a situação na porção leste do Estado amenizou neste ano basicamente por dois fatores. 

Primeiro, porque só é possível ter febre amarela uma vez na vida. Logo, uma parcela da população ficou imune. Segundo, porque, com o aumento dos casos, muitos recorreram à vacinação. “Aliás, a única forma de se prevenir é com a vacina. Que é segura e necessária agora”, observa. Até o momento, mais de 3 milhões de mineiros ainda não foram imunizados. 

Para a professora do Departamento de Microbiologia da UFMG, Erna Kroton, a luz amarela foi acesa nos grandes centros urbanos. Ela lembra que, na capital, onde vários bairros são arborizados, há uma forte presença dessa espécie de mosquito. “Pelo menos 5% dos insetos Aedes de BH são do tipo albopictus. No interior, o índice sobe para 30%”, informa. 

A SES-MG explica que a descoberta da contaminação desse mosquito não altera a forma de controle vetorial no Estado, já que todos os potenciais vetores já são combatidos sistematicamente. 

“Destaca-se que a circulação dessa espécie de Aedes, conforme informado pelo IEC, é mais silvestre que urbana, e que não há qualquer conclusão sobre o potencial de transmissão dessa espécie em relação à febre amarela”, diz, em nota. 

A pasta ressalta que os estudos ainda estão em andamento e que diversidade de vetores não seria justificativa para casos confirmados no Leste de Minas, onde não há casos confirmados neste ano. Editoria de Arte / N/A

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