Viúva de jornalista reforça em depoimento suspeita de morte motivada por trabalho investigativo

Ana Lúcia Gonçalves - Hoje em Dia
22/05/2015 às 18:39.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:10
 (Reprodução)

(Reprodução)

A viúva do jornalista Evany José Metzker, de 67 anos, decapitado em Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, voltou a ser ouvida nesta sexta-feira (22). No depoimento ao delegado Emerson Morais, chefe da equipe do Departamento de Investigações de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) que está na cidade para apurar o crime disse acreditar que o marido morreu em função do trabalho investigativo que desenvolvia na região.

“Mas nunca soube de supostas ameaças que ele estaria sofrendo. Conversávamos várias vezes por dia e se estivesse sendo ameaçado, eu saberia”, diz a professora Ilma Chaves Silva, de 51 anos. O depoimento durou toda a manhã. A professora Gal, como é conhecida em Medina, cidade onde mora e leciona para crianças do ensino fundamental em uma escola municipal, já tinha sido ouvida pela delegada de Padre Paraíso, Fabrícia Nunes, na terça-feira (19).

Nesse novo depoimento, voltou a falar sobre os costumes do marido com quem vivia há 11 anos, locais que costumava frequentar, seu comportamento e as matérias que costumava fazer para alimentar o blog Coruja do Vale. “Ele gostava de matérias investigativas, de denunciar injustiças. Era corajoso, destemido”, repetiu. De acordo com informações preliminares, Metzker investigava uma rede de prostituição de adolescentes e políticos corruptos na região.

O jornalista estava hospedado em uma pousada da cidade há 90 dias. A professora tem esperanças que a polícia consiga encontrar alguma pista no telefone celular, notbook e no pen drive recolhidos na casa dela, em Medina. Segundo a viúva, causou estranheza a informação de que o marido viajaria para Brasília no dia 14 (data provável da sua morte), porque ele planejava voltar para casa em Medina, neste final de semana.

A suposta viagem teria sido divulgada pelos donos da pensão e pelo blogueiro Valseque Bonfim, do Lente do Vale, que jantou com Metzker na noite que ele desapareceu. “Jantamos e ele foi embora, dizendo que iria viajar para Brasília no dia seguinte”, contou o blogueiro ao Hoje em Dia. “Conversávamos várias vezes ao dia, por telefone e whatsApp. Inclusive na noite do dia 13, pouco antes de sair da pousada para jantar e desaparecer. Acho que saberia se fosse fazer essa viagem”, rebateu a viúva.

Investigação

Segundo informações da assessoria de Comunicação do DHPP que está em Padre Paraíso, a equipe continuará os trabalhos neste final de semana. E não há prazo previamente determinado para a conclusão dos trabalhos, porque não há somente uma linha de investigação. Dez pessoas já foram ouvidas. A polícia tenta fazer uma reprodução dos últimos passos de Metzker.

Na quinta-feira (21) a equipe do DHPP esteve no local onde o corpo foi encontrado em busca de vestígios, mas não revelou se alguma coisa foi encontrada. “Nenhuma linha investigativa pode ser descartada. Temos de trabalhar com todas as possibilidades, com apuração detalhada, criteriosa e abrangente”, avisou o delegado Emerson Morais. Conforme a assessoria, o clima na cidade de Padre Paraíso era de tranquilidade nesta sexta-feira (22).

Crime

O jornalista estava desaparecido desde o dia 13 de maio. O corpo dele foi encontrado na última segunda-feira (18) em uma região de difícil acesso e com grandes erosões, na comunidade rural Pioneiras. As mãos estavam amarradas, sem calças e com uma camiseta do seu blog, o Coruja do Vale. Ao lado estavam vários documentos de Metzker, como a Identidade, cartões de crédito, folhas de cheque e uma carteira funcional do jornal impresso Atuação que virou o virtual Coruja do Vale.

Como estava com a aliança e um relógio supostamente de ouro, a PM descartou que tenha sido vítima de um latrocínio (matar para roubar). O Corpo de Bombeiros chegou a ser acionado para ajudar nas buscas pela cabeça, mas antes que chegasse à cidade ela foi encontrada pelos investigadores e militares a 100 metros do corpo. O crânio estava quebrado, sem os olhos e pele.

Segundo o auxiliar de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, Francisco Coury, o “Chicão”, o adiantado estado de decomposição do corpo não permitiu apurar a causa da morte. “Não havia sinais de violência nos membros inferiores ou superiores, toraxica ou dos órgãos genitais. Faltava o maxilar, olhos, face, carne mas certamente foi em razão da ação de animais necrófagos”, explicou.

O corpo abandonado na zona rural também teria sofrido com a ação da chuva. O avançado estado de putrefação também não permitiu apurar se o jornalista foi decapitado vivo ou morto. “Devido aos sinais de morte, a fase gasosa de putrefação, há um inchaço da região peniana”, justifica, desmentindo boatos de que tenha sido agredido nos órgãos genitais.

A data provável da morte é 14 de maio. Uma pesquisa suplementar (reação vital) será feita pelo laboratório da Polícia Civil em Belo Horizonte e a previsão é que o resultado saia em 45 dias.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por