Infidelidade financeira: três em cada 10 pessoas omitem do marido ou esposa parte dos gastos

Paulo Henrique Lobato
31/05/2019 às 19:41.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:54
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

Moradores de Belo Horizonte, a empresária Márcia Machado, de 39 anos, e o servidor público Marco Aurélio Dias, de 41, têm perfis diferentes quando o assunto são as finanças do lar. Ela é mais gastadeira. Ele, econômico. “Às vezes, meu marido me questiona: ‘Nossa, você gastou muito no salão’. Fica horrorizado. Só que não brigamos por causa disso”.

Mas nem sempre é assim em outros lares: 46% dos casais no Brasil admitem brigas por questões financeiras. É o que revela levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com o Banco Central.

Das duplas que se enquadram nesta estatística, 38% afirmam que o principal motivo das discussões é o gasto do parceiro ou da companheira, além da respectiva condição financeira.

“Não contar sobre compras, deixar as sacolas no carro, omitir dívidas e ter aplicações e investimentos financeiros escondidos do parceiro é uma grande quebra na confiança” Annalisa Dal Zotto, Planejadora financeira e sócia da Par Mais

Esta situação ajuda a explicar outra realidade para três em cada 10 entrevistados, que confidenciaram omitir do marido ou esposa parte das compras. 
Entre os itens ocultados, 32% não revelam a aquisição de roupas, calçados e acessórios. O percentual é de 27% no caso de maquiagem, perfumes e cosméticos. Outros 25% referiram-se a comida ou guloseimas. 

No entanto, esconder as compras de quem ajuda no orçamento do lar é um perigo. “O que ocorre é que há pouca educação financeira e cada um se relaciona com finanças de um jeito diferente, o que leva a atritos. Não contar sobre compras, deixar as sacolas no carro, omitir dívidas e ter aplicações e investimentos financeiros escondidos do parceiro é uma grande quebra na confiança”, alerta Annalisa Dal Zotto, planejadora financeira e sócia da Par Mais, do setor de investimento financeiro.

Daí a importância de o orçamento ser elaborado em conjunto. “A pessoa acredita que planejar é pagar contas, mas planejar é fazer contas. É fazer um orçamento com aquilo que vai chegar”, diz a especialista.

É saudável que este planejamento seja feito a dois. Já a omissão de gastos pode comprometer não só o orçamento do lar como a própria relação. Quem explica é Annalisa, casada com o técnico da seleção masculina de vôlei, Renan Dal Zotto. 

“O casamento é uma sociedade. Quando um sócio omite despesas para o outro, pode causar problemas no negócio. O mesmo ocorre no casamento. É difícil que o relacionamento vá pra frente com tantas mentiras. Adiar a conversa pode causar ainda mais problema. Se a situação já está no extremo e um dos parceiros está endividado pode acabar se afundando mais ainda”, diz.

Não é o caso de Márcia e Marco Aurélio. Um sempre conta ao outro o que comprou para si próprio. Márcia até deu uma diminuída nos gastos: “Fiz uma planilha. É a melhor maneira de me ajudar a entender onde está o meu gasto”. 

Dividir a conta ajuda uma relação saudável, diz especialista

Os casais brasileiros estão conversando mais sobre orçamento do lar. A pesquisa do SPC em parceria com a CNDL e o Banco Central concluiu que 85% fazem parte desta estatística, num crescimento de 7 pontos percentuais em relação ao levantamento de 2018.

A assistente social Regiane Rodrigues, de 34 anos, e o servidor público José Cardoso, de 37, levam o assunto a sério.

“Temos dois tipos de orçamentos. Um é o coletivo, destinado ao nosso lar. O outro é o individual. Tenho o meu e ele, o dele”, disse a assistente social.
Eles estão juntos, levando-se em conta a época do namoro, há 13 anos. Desde o início, um sempre teve conhecimento das finanças do outro, o que reforça o companheirismo. 

Especialistas destacam a importância de a história de pessoas que planejam viver um romance ser transparente. Rafael Villard, educador financeiro e trader (investidor do mercado financeiro), usa um exemplo que foi realidade para vários casais para reforçar seu pensamento: 

“Você convida a mulher pra sair e é o primeiro encontro. Passam o dia inteiro juntos, gastam com bebidas e refeições e, no final, quem paga a conta? Deixando de lado os aspectos culturais e até um pouco machista, hoje acredito que rachar a conta pode ajudar muito o casal para um relacionamento estável e econômico”.

Mais importante do que isso, diz ele, é um mostrar ao outro, no primeiro encontro, quem financeiramente a pessoa é. “Não tente mudar a pessoa que você é. Um restaurante muito caro apenas pode impressiona-lá e você pode criar falsas expectativas e estragar a relação”, adverte.

Além Disso

Conversar sobre o orçamento do lar fica ainda mais importante diante da constatação da Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) de que 61% dos consumidores já admitiram ter aproveitado oferta de crédito para fazer compras por impulso.

A entidade concluiu que dividir o valor de uma compra em várias prestações é um hábito comum do brasileiro, mas os economistas da CNDL fazem um alerta: “é preciso ter cuidado para que o uso do crédito não se transforme em uma armadilha para o bolso”.

Outro dado preocupante constatado é que 13% dos entrevistados não acham necessário qualquer tipo de análise ou avaliação antes de contratar uma modalidade de crédito. Editoria de Arte

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