Juliana Guimarães*
O ceratocone é uma das doenças oculares pouco conhecidas e com capacidade para comprometer a qualidade da visão. A campanha “Junho Violeta” é promovida durante este mês para conscientizar a população sobre os riscos dessa condição, que pode levar à necessidade de um transplante ou à cegueira.
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) aponta que quase triplicou o número de pessoas na fila de espera por um transplante de córnea, entre 2014 e 2024, passando de 10.734 para 28.937. Minas Gerais é um dos estados com a maior lista de espera, juntamente com São Paulo e Rio de Janeiro, somando mais de 12,5 mil indivíduos. O ceratocone é considerado uma das principais causas para essa evolução.
A patologia danifica a córnea, estrutura transparente na frente do globo ocular, cujo espessura é reduzida, aos poucos, deixando-a em um formato similar a um cone. Em alguns casos, considerados mais graves, a córnea está tão empurrada para fora, que é possível observar o formato cônico com a pessoa de perfil.
Apesar de cada vez mais comum, ainda não se sabe a origem do ceratocone. A genética é uma das grandes suspeitas, podendo influenciar alterações em diversas regiões do corpo, inclusive a superfície da córnea, deixando-a assim, mais fina, pela perda de elementos estruturais, como o colágeno.
Normalmente, os indivíduos coçam os olhos por puro prazer, pelo cansaço visual - por exemplo, após longos períodos sem piscar ou em frente a telas - e ao sentirem um tipo de incômodo, principalmente por determinados tipos de alergias e quando o tempo está seco, característicos do outono e inverno.
Os indivíduos com alergias, como sinusite e rinite, são mais propensos a desenvolverem a patologia, uma vez que sentem uma necessidade mais frequente de esfregar os olhos.
Os riscos também são considerados maiores entre adolescentes e jovens adultos. O período começa aos 10 anos e se estende até os 25, podendo progredir ainda até os 40. Vale recordar que o ceratocone pode acometer apenas um olho, apesar de ser o tipo menos comum, sendo sua evolução, muitas vezes, assimétrica.
Quanto mais rápido o diagnóstico, melhores são as alternativas para tratamento. A avaliação médica analisa os exames tradicionais em consultório e o histórico individual. Os exames complementares podem ser indicados, como a topografia computadorizada, para definir o grau de comprometimento da membrana.
Apesar de ser um problema sério, os casos considerados mais leves podem ser resolvidos com o uso de óculos. Um pequeno avanço já indica a necessidade de lentes de contato com ajuste à superfície do globo ocular.
Os níveis intermediários requerem soluções como os aneis intracorneanos e o crosslinking, uma técnica para endurecer a parte traseira da córnea. Ambas têm a função de adiar uma possível cirurgia, recomendada apenas quando não existe outro recurso. O agravamento pode culminar na cegueira e requer paciência, uma vez que muitas pessoas estão, infelizmente, numa fila que segue crescendo, à espera de doadores.
*Oftalmologista