Kalil descarta avanço na reabertura do comércio e BH não tem data para 'reabrir'

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
24/06/2020 às 07:27.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:51
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

A antecipação de decisão contrária a um avanço na reabertura do comércio de BH nesta semana – e de que pode até ocorrer recuo em relação ao que foi realizado desde 25 de maio –, feita ontem pelo prefeito Alexandre Kalil, caiu como um balde de água fria sobre vários setores econômicos da cidade. 

As repercussões foram negativas e houve protestos, sobretudo, entre setores impedidos de operar há mais de três meses por causa da pandemia da Covid-19. A justificativa do prefeito foi a elevação nos números de infectados e de óbitos na cidade.

Em entrevista a uma rádio paulista, Kalil garantiu que não há a possibilidade de retomada de setores como o de bares e restaurantes, shoppings, lojas de roupas e centros de compras neste momento. E que pode, inclusive, fechar estabelecimentos incluídos nas duas primeiras ondas de reabertura. “O que eu posso falar é que eu não vou abrir. Posso falar porque os cientistas já falaram que o momento é perigoso. Isso te garanto, que não vou abrir”, disse. “Não trabalhamos com astrologia, quem vai ditar o que nós vamos fazer são os médicos”.

Não demorou e a manifestação gerou queixas. O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, que tem reclamado de uma suposta resistência de Kalil em dialogar com o segmento, reagiu de forma contundente: “O prefeito parece não saber o que fazer. Diz ter controle total da cidade, mas trata-se de um controle baseado apenas em manter o comércio fechado”, afirmou. “BH é recordista mundial de dias fechados de bares e restaurantes. Isso não é controle, é a falta de conhecimento e de alternativa. Ele não sabe como lidar com o problema”, completou. 

A Câmara de Dirigentes Lojistas da capital (CDL-BH), cujo presidente, Marcelo de Souza e Silva, vem acompanhando de perto os trabalhos do Comitê de Enfrentamento à Pandemia criado pela prefeitura, divulgou nota reforçando a disposição de contribuir com o poder público. Mas sem esconder a insatisfação. “A capital precisa estudar já a reabertura dos outros setores do comércio”, sustentou a entidade. “A CDL-BH reitera sua posição de colaborar efetivamente para que isso aconteça da melhor maneira possível, resguardando vidas, mantendo empresas e garantindo empregos”, completou. 

Feiras
Outro segmento que se considera prejudicado e alijado das discussões sobre a retomada, a exemplo dos bares e restaurantes, é o dos feirantes da capital. A Feira Hippie da Afonso Pena, por exemplo, completou 14 semanas sem funcionar, domingo, e os cerca de 1,5 mil expositores não têm qualquer estimativa de quando devem voltar a operar. 

“Já tem muito expositor desistindo da feira, porque nem se sabe se retornaremos este ano, e não houve sequer uma reunião entre a prefeitura e a comissão dos feirantes. O desânimo toma conta”, relata o fisioterapeuta Juliano Pinheiro Scofield, de 43 anos. 

Com uma barraca de decorações e há 30 anos na Feira, Juliano tem se desdobrado para “botar comida na mesa”. “Recebi duas cestas básicas da PBH e uma parcela do auxílio federal. Tenho feito outras coisas, como dar aulas particulares, mas tudo está a cada dia mais complicado”.

Casa especializada em alta gastronomia de BH anuncia fechamento e amplia lista do setor

Aos quase 5 mil estabelecimentos fechados de maneira definitiva na capital, segundo a Abrasel, se somará mais um, no próximo fim de semana. Fundado há seis anos em Lourdes, o Alma Chef vai encerrar as atividades em grande estilo: sábado, os donos farão uma “live de hambúrgueres”, que depois serão entregues nas casas dos clientes. 

De acordo com Guilherm Kubitz, sócio-proprietário, a decisão de fechar foi motivada pela incerteza provocada pela pandemia. Não se sabe quando os restaurantes poderão ser reabertos nem quando retomarão o faturamento anterior à Covid. “Quando vimos que iríamos passar pela maior crise da história do Brasil, percebemos que teríamos uma morte lenta. Optamos então pela paralisação das atividades”, disse.

Logo no início da pandemia, o restaurante investiu em entregas, em lives e na solidariedade (entregando cem marmitas por dia a moradores de rua), mas isso não foi suficiente para cobrir as despesas. “Entre os restaurantes de alta gastronomia, fomos o que mais ações fez para engajar clientes. Mesmo assim, estávamos faturando menos de 15% do que antes da pandemia”, explicou Guilherme. Alem de 40 funcionários sem emprego, o Alma Chef também irá deixar sem um grande cliente diversos pequenos produtores. “Há pouco tempo lançamos a nova carta de vinhos, com 90% de rótulos produzidos por pequenas vinícolas. Das 160 opções, 30% eram brasileiros”, disse o dono. (Cinthya Oliveira)

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por