‘Laranjas’ na mira: PF investiga candidaturas de fachada no PSL-MG, e caso pode chegar a ministro

Daniele Franco e Lucas Simões
29/04/2019 às 20:44.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:26
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Após mirar suspeitos próximos ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), em operação deflagrada ontem para investigar candidaturas-laranja de mulheres no PSL de Minas, a Polícia Federal (PF) vai apurar se houve envolvimento do ministro no caso, se comprovado o esquema de corrupção. Ele foi presidente estadual da legenda em 2018.

Batizada de “Sufrágio Ostentação”, a operação cumpriu mandados de apreensão em sete gráficas do Estado que teriam imprimido materiais de campanha das supostas candidaturas-laranja e apreendeu documentos e computadores na sede do PSL de Belo Horizonte. Ninguém foi preso.

Desde fevereiro, a PF apura a denúncia de quatro candidatas aos cargos de deputadas estadual e federal do PSL, que afirmam terem sido usadas como laranjas do partido no pleito de 2018. Segundo o Ministério Público Eleitoral (MPE), as candidatas acusam o atual ministro do Turismo de ser o pivô do esquema ao cobrar a devolução para o diretório do PSL de parte do dinheiro destinado às candidaturas femininas. O objetivo, segundo a PF, seria maquiar para a Justiça Eleitoral a destinação obrigatória de 30% do dinheiro do Fundo Eleitoral para as mulheres.

]Até o momento, as investigações da PF apontam que as candidaturas-laranja tiveram um custo até 30 vezes maior do que outras do PSL em Minas. “Enquanto uma candidatura de um deputado eleito gera um gasto médio de R$ 10 por voto, no caso dessas candidatas o gasto ficou entre R$ 150 e R$ 300”, disse o delegado federal Marinho Rezende, que conduz as investigações. 

Além da sede do PSL, localizada na rua Inconfidentes, na Savassi, os policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão em Contagem e Lagoa Santa, onde materiais de duas gráficas foram apreendidos, em Coronel Fabriciano e Ipatinga, no Vale do Aço.

Em Ipatinga, a PF fez buscas na residência de Reginaldo Donizete Soares, dono de uma gráfica na cidade e irmão de Roberto Silva Soares, primeiro-secretário do PSL em Minas. 

Segundo o delegado federal Marinho Rezende, na prática, a gráfica de Ipatinga que teria imprimido os materiais das candidatas-laranja não funcionava há dois anos, o que reforça a suspeita da PF sobre o esquema de corrupção. 

“Essa gráfica funcionava em Ipatinga e era dividida, na verdade, em duas empresas registradas, mas trabalhava como uma só. Mas o que nos chama a atenção é que nenhuma das duas tinha atividades há dois anos”, disse o delegado.

Ainda de acordo com Rezende, caso seja comprovado o crime eleitoral, a segunda fase da operação irá investigar os dirigentes do PSL em Minas, incluindo o ministro Marcelo Álvaro Antônio, que presidiu o PSL-MG no ano passado. 

“O envolvimento do ministro Marcelo Álvaro Antônio só será apurado na próxima fase, que, se confirmada a existência do crime, vai investigar tanto as candidatas quanto os dirigentes do partido em Minas durante as eleições, e o ministro era um deles”, explicou Rezende.

Por meio de nota, o Ministério do Turismo informou que “o ministro Marcelo Álvaro Antônio reitera que o partido seguiu rigorosamente o que determina a legislação eleitoral”. No comunicado, o ministro também afirma que “há mais de um mês” se ofereceu “para prestar depoimento às autoridades do caso” e que as investigações são resultado de “uma disputa política local”.

 ALÉM DISSO

A primeira denúncia formal do suposto esquema fraudulento de desvio de verba eleitoral veio da ex-candidata Cleuzenir Barbosa, que concorreu ao cargo de deputada estadual pelo PSL ano passado. Em entrevista ao Hoje em Dia, Cleuzenir disse que foi surpreendida ao receber as mensagens dos assessores do partido pedindo o desvio da verba. “Eles me pediram para transferir R$ 50 mil para uma gráfica com a qual eu não tinha contratado serviços e eu me recusei”, disse. 

Após a recusa, Cleuzenir, que chegou a fazer dobradinha eleitoral com o então candidato a deputado federal Marcelo Álvaro Antônio, afirma que foi excluída dos grupos de campanha e vetada da agenda do PSL para divulgar a própria candidatura.

Cleuzenir mora em Portugal desde dezembro de 2018 e lamenta não ter sido protegida pelas autoridades brasileiras. “O Brasil tem que proteger as pessoas que denunciam esse tipo de irregularidade”, disse a ex-candidata. 

  

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