Em visita ao Norte de Minas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que pode voltar à corrida eleitoral para suceder Dilma Rousseff (PT), se entender que o cenário político necessita de sua participação para que o partido se mantenha no Planalto. “Eu, sinceramente, espero que tenha outras pessoas para serem candidatos. Agora, uma coisa pode ficar certa: se a oposição pensa que vai ser candidata, que vai ganhar, que não tem disputa, que o PT tá acabado, pode ficar certa do seguinte: Se for necessário, eu vou pra disputa e vou trabalhar pra que a oposição não ganhe as eleições. Nós temos um projeto nesse país. O projeto mais exitoso. O projeto que mais fez com que os pobres ascendessem socialmente. Foi o que mais fez com que pobres ascendessem à classe média”, afirmou, em uma longa entrevista à repórter Edilene Lopes, da rádio Itatiaia, com mais de 18 minutos de duração, na manhã desta sexta-feira, em Montes Claros.
Lula disse que pretende voltar a participar mais ativamente da vida política do país, e aproveitou para criticar adversários e, de forma indireta, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que tem atacado o PT e a presidente Dilma.
“Vou voltar a falar, vou voltar a dar palpite nas coisas, porque eu vejo muita gente que já governou esse país, vejo muita gente que já foi deputado, que já foi governador, que não fez nada, e agora fica falando como se fosse salvador da pátria. Então, eles podem estar certo do seguinte: o Lula vai voltar a uma atividade política mais intensa. Vou voltar a viajar o Brasil e quero disputar com eles ideias”, anunciou.
Ele esteve no Norte de Minas para inaugurar uma série de viagens que fará pelo país para debater o Plano Nacional de Educação. Hoje, a partir das 18 horas, Lula participa da abertura do 12° Congresso Estadual da CUT (12°Cecut) e o 44º Congresso da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais, em Belo Horizonte. O ex-presidente falou também sobre a crise econômica, a Operação “Lava Jato”, erros da presidente Dilma Rousseff e impeachment. Confira os principais trechos:
Crise econômica
Chegou o momento em que não houve melhoria em nenhum país no mundo, e a crise chegou aqui, porque o Brasil não está isolado do mundo. O Brasil está interligado ao sistema comercial do mundo, ao modelo de desenvolvimento do mundo. Mesmo assim, eu acho que a presidenta Dilma fez um ajuste econômico agora, com o objetivo concreto de fazer com que a economia volte a crescer.
Erros de Dilma
Lógico que teve erro. Se não tivesse tido erro, não tínhamos chegado onde chegamos, e a Dilma reconhece que houve erro. Houve alguns equívocos nossos na questão econômica, e que a Dilma tentou consertar quando propôs o ajuste fiscal. Ou seja, a gente só pode gastar aquilo que a gente tem. A gente não pode se endividar mais do que aquilo que a gente pode pagar. A Dilma fez essa correção e a Dilma trabalha com a ideia de que vamos ter um 2015 sofrido, com dificuldade, mas na expectativa que vamos ter um 2016 que começa a melhorar.
Corrupção
Os governos do PT permitiram, pela primeira vez na história do Brasil, que fiscalização fosse feita de verdade. Tenho certeza que haverá um dia em que as pessoas vão dizer: - Graças a Deus, houve alguém que permitiu que as coisas fossem colocadas, sabe, da forma mais transparente possível nesse país. É desagradável? É desagradável.
Teve gente do PT que errou? Teve. E eu dizia quando eu tava na Presidência: - Só tem um jeito nesse país de eu não ser molestado por uma investigação. É você ser honesto. Ó, se você cumprir com suas obrigações, se pagar seu imposto corretamente, se você fizer as coisas como a lei diz que você tem que fazer, você não terá problema.
O PT nasceu para mudar a história desse país. O PT cresceu demais, chegou à Presidência, aumentou a responsabilidade. E eu acho que o PT cometeu desvios, porque o PT passou a fazer política igual aos outros partidos. O PT era para ser diferente de verdade. E aí o PT começa a pagar, os erros aparecem. Alguns companheiros do PT são punidos, são. Serão punidos de outros partidos políticos. Serão punidos todos que errarem, todos, todos.
Operação Lava Jato
Eu até gostaria de ter sabido antes. Eu não sabia, a Polícia Federal não sabia, a imprensa não sabia, o Ministério Público não sabia, a direção da Petrobras não sabia. Só ficou sabendo quando teve um grampeamento e pegou o tal do Youssef, que já tinha muitas passagens pela polícia. Porque seria ótimo que a Polícia Federal soubesse que o Paulo Roberto era do jeito que é. Seria maravilhoso, sabe, que, o gabinete de segurança institucional soubesse. Então é assim, você só descobre quando as coisas pobres aparecem.
Veja, veja, veja, isso só foi aparecer em 2014. Depois de dez anos que essas pessoas trabalharam na Petrobras. A Petrobras é uma empresa extra-ordinária, a Petrobras é motivo de orgulho para esse país. É uma empresa que tem quase 86 mil trbalhadores. A gente não pode ficar julgando a Petrobras por causa de um, dois, três, quatro ou dez pessoas que cometeram erro. Aqueles que cometeram erro a gente pune, e a Petrobras segue sendo a empresa mais importante e orgulho do nosso país.
Impeachment
Eu não acredito em impeachment da presidente Dilma. Eu acredito que as dificuldades que nós estamos passando agora serão vencidas na medida que a economia começa a recuperar, e que os programas anunciados pela presidenta Dilma comecem a dar resultado. Veja, ela anunciou um programa de infraestrurtura, de praticamente R$ 189 bilhões, ela anunciou um programa energético de R$ 200 bilhões, ela vai anunciar o Minha Casa Minha Vida número 3, ela anunciou o Plano Nacional de Educação, que vai fazer uma revolução nesse país.
A oposição tem que ter paciência. Eu perdi três eleições. Eu perdia, voltava pra casa, não ficava xingando as pessoas, não ficava falando palavrão. Eu ia pra casa me preparar. Como diria o Brizola, se tivesse vivo, ia pra casa lamber minhas feridas, pra me preparar para outra eleição. Foi assim que eu fiz durante 12 anos: me preparei para vencer as eleições. A oposição precisa para de resmungar, precisa parar de xingar a presidenta. Ela tem que torcer para que esse país melhore, para que esse país volte a crescer, volte a gerar emprego. Ela não pode querer antecipar o mandato. Até porque o povo não aceita golpe. Nós vivemos o Golpe de 64, ninguém quer mais golpe nesse país. Quem quiser ser candidato a Presidente da República, espera 2018. Dispute democraticamente, e vê se ganha as eleições.