Fome Panc: curve-se ao sabor de plantas consideradas ‘estranhas’

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
24/03/2017 às 09:29.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:52

Muito comuns em canteiros e quintais, cultivadas até em vasos com intuito meramente ornamental, as Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc, como são chamadas) são verdadeiras iguarias. A maioria, porém, ainda rara na mesa do brasileiro, como as flores comestíveis. Confundidas frequentemente com ervas daninhas e até com mato, caso da begônia trepadeira e do peixinho da horta, quando vão parar na cozinha, porém, se transformam em sucos, geleias, saladas e refogados nutritivos e saborosos (confira receitas ao final da matéria). 

Estrelas em muitos pratos “da roça”, taioba e ora-pro-nóbis são classificadas como Panc. Ao lado de lírios e outras espécies coloridas vêm conquistando paladares sofisticados, chegando com tudo à gastronomia contemporânea. Um dos motivos, aponta o chef de cozinha Jackson Cabral, é o fato de permitirem máximo aproveitamento (do caule às flores) e extração de sabores muitas vezes inusitados. “É possível inventar muitos pratos com cada um dos ingredientes e comer coisas diferentes todos os dias. São um boom na gastronomia”. 

Coordenador do curso de gastronomia nas Faculdades Promove, em BH, Jackson diz que é possível, por exemplo, preparar bolo com jenipapo verde. Velha conhecida dos mineiros, a taioba também é prato cheio na culinária brasileira. Substitui, inclusive, o repolho no preparo do charuto, famosa receita da cozinha árabe. 

Cunhado em 2008, o termo Panc nomeia plantas com um ou mais usos alimentícios e que não sejam comuns no dia a dia da maioria da população

Experiência sensorial

Jackson Cabral ressalta que fazer análise sensorial é fundamental para aproveitar bem a Panc. “Dica é procurar conhecer o produto antes de comê-lo, buscando informação e conhecendo o sabor. A partir daí, inventar receitas e novas formas de uso fica mais fácil”.

Uma das principais fontes de conhecimento sobre o tema é o livro ‘Plantas Alimentícias não Convencionais (Panc) no Brasil’, de Valdely Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi. 

“O número de espécies tóxicas na flora brasileira é pequeno em relação ao de plantas comestíveis, valiosas não só para matar a fome, mas pelos aspectos nutricionais. É importante conhecê-las antes”, alerta a professora de botânica Marina Alvim, do Instituto Metodista Izabela Hendrix.

Marina coordena o projeto Verde Comunitário, que fomenta o cultivo agroecológico no espaço urbano. Um dos locais de BH escolhidos pelo grupo para plantar legumes variados e, claro, Panc, foi o vão livre entre o Museu de Minas e do Metal e o Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade. 

Pepino, beterraba, tomate, salsinha e cebolinha, são cultivadas ao lado de beldroega, suculenta e serralha. Crua ou refogada, a folha tem lugar cativo na cozinha da apresentadora “natureba” Bela Gil. Cristiano Machado/Hoje em DiaPRAÇA DA LIBERDADE - Projeto Verde Comunitário mantém canteiro comunitário de legumes e plantas não convencionais

Onde comprar em BH:

– Feira Terra Viva, na Floresta (feiraterraviva.com.br)
– )
– Marcelina Belmiro, no Edifício Maletta (Instagram)
– Horta Frutos da União: Rua Serra da Boa Esperança, 91 - Conjunto Ribeiro de Abreu

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Lírio amarelo

Nome científico: Handroanthus chrysotricus

Receitas:
1) Patê de flores: selecione e lave as flores e botões e pique-os. Em duas colheres de sopa de azeite com sal, orégano e pimenta refogue uma ricota (400 gramas). Adicione as flores (350 gramas), mexa e deixe murchar. Conserve em geladeira e sirva quente ou frio. Como o sabor é bastante forte, dispensa alho. Pode-ser usar menos flores.
2) Botões salteados: Doure na manteiga cebola e outros temperos a gosto. Acrescente generosa quantidade de botões inteiros. Eles murcham e mantêm boa consistência. Refogue por alguns minutos em fogo baixo. Sirva quente acompanhado de arroz integral, carne ou peixe. Os botões também podem ser grelhados ou gratinados.

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Begônia trepadeira


Outros nomes: trailing begonia, bantérg, jarui, ging zi ge

Receitas: 
1) Empanada: selecione folhas jovens, lave-as com cuidado para não quebrar ou amassar. Bata quatro ovos, orégano, sal e alho a gosto. Passe as folhas na mistura e em seguida na farinha de trigo ou de rosca. Frite em óleo quente, escorra e sirva quente. Ficam super crocantes. 
2) Chá-suco: colha as folhas-ramos terminais. Para eliminar o pigmento e o sabor ácido ferva e coe, mas não bata no liquidificador. Dilua e adoce a gosto. Se desejar, adicione suco de limão. 
3) Arroz com begônia: prepare o arroz de forma usual e quando estiver quase secando, adicione as folhas. O caldo rosado das folhas dará cor ao prato. As folhas também podem ser refogadas puras ou com carnes e adicionadas a massas e sopas. 

  

  

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 Peixinho da horta


Outros nomes: orelha de lebre, orelha de cordeiro, pulmonária

Receitas:
1) Peixinho à dorê: colhas as folhas jovens, lave-as e escorra bem ou centrifugue. Bata quatro ovos, sal, orégano e alho. Use goma de mandioca ou farinha de trigo para empanar. Frite em óleo quente e sirva quente. 
2) Omelete: lave e pique as folhas bem fininhas. Bata os ovos (dois a três por pessoa) com sal e temperos a gosto. Adicione grande quantidade de folhas picadas para sentir a textura e o sabor. Despeje a mistura em uma frigideira com azeite ou manteiga e deixe cozinhar. Pode-ser adicionar hortaliças, presunto ou queijo.
3) Molho de macarrão: cozinhe a massa e escorra. Refogue as folhas picadas fininhas na manteiga com sal e alho. Incorpore-as ao molho de tomate. 

  

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Ipê amarelo

Receitas:
1) Flores salteadas: colhas flores no pé ou no chão, limpe-as e deixe somente as pétalas. Salteie-as como usual para outras verduras. Doure alho, sal e outros temperos a gosto na manteiga ou azeite e acrescente as flores, “puxando” na frigideira. Sirva quente. 
2) Flores empanadas: selecione flores frescas e lave-as. Bata quatro ovos com sal, orégano e pimenta do reino a gosto. Passe as flores na mistura e empane na farinha de trigo ou de rosca. Frite em óleo quente, escorra e sirva. 
3) Salada com flores: prepare a salada de sua preferência com verduras e/ou frutas que desejar e decore com as flores frescas já lavadas. Tempere com azeite, limão ou shoyo. 

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Murta


Outros nomes: jasmim-laranja, murta de cheiro, jasmim da Índia

Receitas:
1) Geleia: colhas os frutos maduros, lave-os e esmague em uma peneira de arame para extrair a polpa e reter as sementes. Adicione metade de açúcar cristal em relação ao total de polpa. Mexa até dar ponto. A geleia fica levemente picante e pode ser usada como molho agridoce em carnes e molho vermelho em massas. 
2) Refresco: aproveite as sementes da peneira e adicione água. Misture e coe. A cor (escarlate) e o sabor são bem fortes. Se preferir, use como polpa concentrada. 
3) Chá de flores: colha flores frescas, lave-as e use um punhado para um litro de água. Esquente a água, junte as flores e coloque tudo em uma garrafa térmica. Espere alguns minutos antes de beber.

RECEITA do chef Jackson CabralFlávio Tavares

MOLHO VERDE - Chef usou Panc conhecidas ao preparar massa

- Tagliatelle à bolonhesa com PANC

Ingredientes: 
300 gramas de tagliatelle ou outro tipo de massa longa (fresca ou comprada em supermercado)
200 gramas de molho à bolonhesa preparado como de costume
1 folha de mostarda
5 a 6 folhas de ora-pro-nóbis
1/2 folha de taioba
Azeite a gosto

Modo de preparo:
Prepare a massa e o molho e reserve. Pique a mostarda, a taioba e o ora-pro-nóbis bem fininhos, como se faz com couve, e refogue-os no azeite. Incorpore os ingredientes ao molho e acrescente à massa. Para decorar, salpique folhas picadas sobre </CW>o prato e use um raminho de ora-pro-nóbis.

Rendimento:
2 porções

– Suco verde de talos de mostarda e taioba

Aproveite os talos retirados da taioba e da mostarda para preparar um suco. Adicione uma laranja inteira e bata no liquidificador com pouca água. Não precisa adoçar. Dois talos rendem uma taça. 

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