Música-chiclete: canção que martela na cabeça segue fórmula, mas tem antídoto

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
12/04/2017 às 15:36.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:06

Atire a primeira pedra quem nunca se pegou cantarolando uma mesma música repetidas vezes, mesmo aquela que diz odiar. E quanto tempo perdeu tentando entender porque a música “grudou” na sua cabeça? Calma! Não conseguir desapegar de um hit não põe em risco seu gosto musical. A culpa é do compositor. A boa notícia é que tem jeito de evitar as músicas-chiclete. Se não for possível ficar longe do veneno, ou seja, canções que seguem a fórmula compasso rápido + repetições ritmadas + batidas e melodias simples, aí vai o antídoto: ouça-as até o fim.

Músico profissional há quase 40 anos, Flávio Mannuel, diretor da Melody Maker, escola de música de Belo Horizonte, coloca na conta da técnica a responsabilidade pelas músicas grudentas. Segundo ele, a estrutura da composição, mesmo que não tenha sido conscientemente pensada, determina se a música “pega ou não pega”. 

“A parte rítmica de uma canção é algo muito natural, primitivo. O homem das cavernas já se comunicava com sons e ritmos e qualquer pessoa, mesmo que não tenha tido estudo musical, se sente impelida a batucar ou movimentar o pé quando ouve um som”, explica. 

Fácil "digestão"

Arranjos menos complexos são os campeões quando o assunto é “tirar a paz” do ouvinte. Basta lembrar de sucessos como “Ai Se Eu te Pego”, de Michel Teló, que bombou nas paradas de 2011, e do hit recente de Tiago Iorc. “Amei Te Ver” tem não só o tempo considerado “limite” para fazer sucesso – quatro minutos –, como a métrica perfeita para fixar na cabeça. 

“Veja como o refrão é simples e a repetição rítmica está presente. Essas são as características por trás da música-chiclete, mas que o leigo não percebe”, explica o especialista, referindo-se à composição do músico brasiliense.

Outro exemplo citado pelo profissional é o hit Proud Mary, da extinta banda californiana Creedence. Apesar de ser curta e ter letra diversa, a música mantém o mesmo desenho melódico, simples e constante, totalizando apenas três partes. 

De acordo com o músico, a fórmula desta e de outras canções que viraram febre no Brasil, anos atrás ou mais recentemente, acompanha a cultura musical do país. 

“Por esse motivo as músicas clássicas não são uma unanimidade, nem grudam na cabeça. O arranjo é complexo demais e pouco digerível. Nesse contexto, quanto mais simples, melhor”, avalia. 

Arranjos rítmicos com pouca instrumentação têm sempre mais chance de virar chiclete em relação às composições muito sofisticadas, lembra o músico.

Músicas grudam porque:

– Têm batidas simples, de gosto popular
– Repetem palavras ou frases
– Têm repetições rítmicas e um desenho melódico
– Têm mensagens fáceis de gravar

Ranking das músicas mais citadas na pesquisa inglesa de 2016. Hits têm em comum o estilo: pop, rock, rap, e R & B:

1º – Bad Romance (Lady Gaga)
2º – Cant’ Get You Out of My Head (Kylie Minogue)
3º – Don’t Stop Believing (Journey)
4º – Somebody That I Used to Know (Gotye)
5º – Moves Like Jagger (Maroon 5)
6º – California Gurls (Katy Perry)
7º – Bohemian Rhapsody (Queen)
8º – Alejandro (Lady Gaga)
9º – Poker Face (Lady Gaga)

‘Desescutar’ a canção pegajosa é proposta para mudar o ritmo

No fim do ano passado, pesquisadores da Universidade de Londres, na capital inglesa, publicaram um estudo sobre as músicas-chiclete e alertaram os incomodados com os hits pegajosos sobre algo, até então, inimaginável. Quer tirar a música chata da cabeça? Escute-a até o fim!

O motivo, conforme os cientistas, é que somente assim é possível encerrar o looping no qual o cérebro é forçado a entrar quando em contato com determinada melodia.

“Quando um comportamento compulsivo não pode ser evitado, é preciso torná-lo menos irresistível. Em vez de se esforçar para parar de pensar na música, a ideia é que pense nela de forma diferente, ouvindo-a até o fim”, reforçou também o diretor do Centro de Ansiedade e Fobias do White Plains Hospital, nos Estados Unidos, Frederic Neuman, endossando a pesquisa inglesa. 

Para quem não suporta mais “cantar” determinada canção a dica é recorrer à internet. No site Desescute, por exemplo, é possível substituir uma música chiclete por outra. A premissa é a mesma do Unhearit, que também ajuda a eliminar o hit que ficou cravado na cabeça. As músicas que tocam on-line e sem parar são escolhidas aleatoriamente por cada uma das ferramentas. Vale tentar.

 Ouça a seleção do HD:

​- Como Uma Deusa (Rosana)

​- Hoje (Ludmilla)

- 10% (Maiara & Maraísa)

- Work (Rihanna)

- Beto Barbosa (Adocica)

- MMMBop (Hanson)

- Moves Like Jagger (Marron 5)

- Amei Te Ver (Tiago Iorc)

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