Nova peneira: empresas usam jogos e desafios para selecionar candidato criativo e inovador

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
10/02/2017 às 16:02.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:49

Habilidades comportamentais nunca estiveram tão em alta no mercado de trabalho. Ter boa formação acadêmica e experiência profissional sólida contam pontos, claro, mas saber se posicionar em situações inusitadas e ter jogo de cintura diante do inesperado viraram critério de desempate na hora da contratação.

Para avaliar esses diferenciais do candidato, empresas de diversos segmentos vêm aprimorando os processos seletivos. Apenas enviar currículo e participar de entrevista ficou no passado. Em tempos de concorrência acirrada, é preciso demonstrar, na prática, do que se é capaz ao assumir um posto.

Quem almeja uma vaga no Centro Oftalmológico de Minas Gerais, em Belo Horizonte, deve saber disso. Uma das dinâmicas da empresa prevê uma situação hipotética, mas totalmente compatível com a realidade do trabalho. 

"Imagine-se em um barco prestes a virar, em que é preciso criar soluções para que o pior não aconteça. Dentre um grupo de pessoas formulando saídas rápidas, destacam-se as que dão sugestões interessantes e inteligentes”, explica a coordenadora de RH Ana Torres, exemplificando uma das etapas de seleção da empresa: a dinâmica do barco.Flávio Tavares

SIMULAÇÃO – No Centro Oftalmológico de MG, dinâmica de grupo coloca candidatos à prova ao vivenciar “saias justas”

Perfil transparente

Segundo ela, processos como esse possibilitam avaliar características que acabam ocultas nas seleções tradicionais, como reação à extrema pressão, criatividade e potencial de inovação. “O candidato chega com boa intenção, mas, muitas vezes, não consegue executar de forma objetiva o que diz fazer. O que importa são os resultados”, reforça. 

Estar aberto a esse tipo de experiência é indispensável nos dias de hoje, alerta a diretora técnica da Fundação Cefetminas, Deborah Abdala, especialista em mercadologia e planejamento estratégico.

“As empresas têm se concentrado mais na cultura e no comportamento do candidato. Conhecimento técnico, elas mesmas conseguem proporcionar. Já habilidades comportamentais são adquiridas com o tempo”, enfatiza. 

Vá para a dinâmica bem informado sobre a empresa e seja sempre verdadeiro; companhias buscam candidatos alinhados às suas práticas e política interna

Criatividade aguçada

A estudante de engenharia civil Giulia Lodi, de 22 anos, fisgou uma vaga de estagiária ao destoar positivamente dos concorrentes. Eles precisavam gravar um vídeo apresentando-se à empresa e, para isso, ela contou com a ajuda da tecnologia. “Fiz várias pesquisas na internet e produzi um material que não ficou monótono e chamou muita atenção. Queria algo que fosse diferente”, conta. 

Consultora interna de RH da Precon Engenharia, onde a moça participou do processo seletivo, Nayara Viviane Bandeira diz que Giulia acertou em cheio. “Foi a primeira vez que fizemos algo assim. Nosso objetivo era recrutar pessoas alinhadas com o DNA da empresa: criativas e dispostas a enfrentar desafios”. Flávio TavaresPROCESSO VIRTUAL – Seleção da Precon Engenharia incluiu vídeo com apresentação do perfil pessoal; Giulia ousou e foi uma das selecionadas

‘Provas’ obrigam jovens a reagir como no dia a dia 

Mais do que identificar o perfil comportamental do candidato, processos seletivos diferenciados e até tecnológicos são uma importante ferramenta na hora de capturar o público jovem e aproximá-lo da realidade da empresa. 

Uma das mais importantes companhias do país, a Nestlé, baseou-se nos escape games – em que é preciso desvendar um mistério e deixar uma sala trancada – para recrutar 15 trainees. Dispostos em um supermercado montado especialmente para a “prova”, os concorrentes tinham prazo para, trabalhando em equipe, solucionar os casos propostos pela empresa. Antes, os candidatos passaram por uma pré-seleção virtual, incluindo análise curricular e teste on-line.

O método, conforme o gerente-executivo de RH da empresa, Gilberto Rigolon, marca não só uma nova era na companhia, como serve de inspiração para outros processos seletivos. 

“Os candidatos hoje em dia estão cada vez mais preparados, chegam para a entrevista conhecendo tudo. Percebemos que era preciso ter algo diferente, que nos possibilitasse conhecer a pessoa na forma mais natural, como no dia a dia, e sem a pressão do processo seletivo”, afirma. 

Ferramentas ajudam a testar senso de urgência, raciocínio lógico e capacidade de trabalho em equipe

Localiza Aluguel de Carros também aproveitou a experiência dos jogos de escape para selecionar 50 estagiários. De acordo com a gerente de Seleção e Remuneração de Pessoas, Adriana Baracho, o método possibilitou avaliar senso de urgência, raciocínio lógico, capacidade de trabalho em equipe e reação a situações inusitadas.

“Essa parcela mais jovem da população, jovens de 20 e poucos anos que estão saindo da universidade, nasceu na era da tecnologia, das redes sociais. Muitas empresas se valem disso para formatar métodos. Mesmo sendo tendência, é importante que o processo faça sentido para a realidade do cargo e da própria empresa”, ressalta Deborah Abdala, da Fundação Cefetminas.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por