Mel de melato do Norte do Estado vai receber selo de denominação de origem

Eduardo Avelar - Hoje em Dia
29/03/2015 às 12:05.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:25

Uma parceria entre a Codevasf – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e a Funed – Fundação Ezequiel Dias está viabilizando a criação de um selo de denominação de origem para um mel produzido no Norte do Estado, e poderá se estender a todo território mineiro.

Trata-se do projeto criado para o desenvolvimento da produção do mel de melato, ou “honeydew”, como é conhecido no mundo este mel especial.
O Honeydew mineiro é originário da Mata Seca do Estado, cuja descoberta se deu ainda em 2009 pela bióloga Esther Bastos, doutora em Ciências com especialização em entomologia, e diretora de pesquisas da Funed.

Ao receber uma amostra de mel do amigo e apicultor da cidade de Janaúba José Calazans, a bióloga e apaixonada pelo assunto percebeu que aquele produto tinha algumas características diferentes do mel tradicionalmente produzido aqui no Brasil. “Com o clima mais frio, o mel não cristalizava, o que é comum no mel tradicional, e sua cor mais escura e sabor marcante, mas com menos doçura, me levaram a fazer uma análise mais aprofundada”.


Novos açúcares

Nas análises químicas, constatou-se que esse mel apresentava mais dois tipos de açúcares, além da glicose, frutose e sacarose presentes no mel de florada tradicional: melezitose e erlose. Descobriu-se, então, se tratar do mel de melato, cuja origem vem de uma secreção produzida por insetos, o que proporciona, além desta característica dos açúcares, um nível elevado de minerais.

Em Minas, essa produção ocorre durante a florada da aroeira que, no mês de maio, atrai centenas de insetos e abelhas, proporcionando este fenômeno da natureza.

As “lágrimas” produzidas durante a florada das aroeiras pela secreção dos pulgões que se alimentam da seiva da arvore endurecem com o tempo e, mesmo após este período , se transformam na única alternativa para as abelhas produzirem este mel tão especial.

A florada das aroeiras acontece em maio. Nesse período, os pesquisadores montam estruturas sob a copa das árvores para acompanhar a produção.


Surge mais um ícone em nossa gastronomia

A pesquisadora da Funed explica que o mel de melato é bastante apreciado na Europa – onde é produzido, por exemplo, na Floresta Negra, na Alemanha.

“No Sul do Brasil, encontramos mel de melato também, mas as abelhas o produzem a partir da seiva de uma árvore típica da região, a bracatinga. O mel de aroeira, com características de honeydew, só foi encontrado mesmo nessa região pesquisada”, esclarece a Esther.

Sobre os aspectos econômicos e sociais, Esther exalta as enormes e abrangentes possibilidades deste projeto. “Com alto valor agregado e a produção acompanhada pela Codevasf, e mesmo pelas cooperativas, este projeto pode se tornar mais uma importante ferramenta para o desenvolvimento econômico e social do Norte de Minas”.

O próximo passo, segundo ela, é “agregar valor culinário ao produto”, e a proposta, agora, em parceria com o Projeto Territórios Gastronômicos, será apresentar aos grandes chefs e profissionais das cozinhas de Minas as diversas qualidades de mel, em especial o de melato, para que eles aprofundem seus conhecimentos e possam utilizar com mais frequência nas suas criações.

“Com esta parceria, certamente teremos muito mais valor agregado ao nosso produto genuinamente mineiro. Será um sonho”, finaliza a apaixonada doutora do mel.


Pesquisadora parte em busca de apoio

Assim, a pesquisadora pôs o pé na estrada, e buscou apoio para continuidade deste trabalho na Codevasf, cuja sede fica em Montes Claros. A ideia era aprofundar as pesquisas para o desenvolvimento da produção em Janaúba e estendê-las para outras cidades do Norte de Minas.

Com o apoio imediato da empresa, logo o trabalho cresceu e hoje já atinge 50 cidades, com a produção aumentando a cada dia, envolvendo centenas de famílias, associações e cooperativas no projeto.

Ainda segundo Esther Bastos, sua iniciativa de implantar o registro da Denominação Geográfica no INPI para o Honeydew – Mata Seca já está em fase adiantada de projeto, e assim que iniciar seu mapeamento na região Norte, este poderá se estender para todo o Estado, contemplando também com a denominação de origem geográfica os diversos tipos de mel de floradas.



Propriedades Medicinais

Além dos planos para a gastronomia, Esther exalta, com otimismo, as possibilidades de utilização do mel de melato de Minas Gerais como uma grande arma para o combate a doenças a partir de suas características químicas e nutricionais.

Estudos apontam ainda que o mel de melato da aroeira possui propriedades medicinais particulares, como ação antimicrobiana. Segundo ela, uma segunda pesquisa, desta vez financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tem o propósito de mostrar a atividade desse mel para a bactéria H. Pylori, ou Helicobacter Pylori, que pode levar à gastrite ou até mesmo ao câncer no estômago. “A ideia é direcionar um resultado de modo que a gente possa introduzir esse mel no medicamento”, afirma Esther.


Carpaccio de carambolas com mel

Ingredientes para 2 pessoas:
- 2 carambolas cortadas em finas fatias
- 200 ml de creme de leite fresco
- Folhas de coentro
- Flor de sal
- Pimenta-do-reino moída na hora
- Mel
- Flores de coentro
- Pimenta rosa (semente de aroeirinha)


Preparo
Em dois pratos, disponha as estrelas de carambola cobrindo todo o fundo. Bata o creme de leite até o ponto de chantilly. Misture sal, pimenta do reino e o coentro bem picadinho. Coloque uma colher de creme no centro de cada prato e decore com flores de coentro por cima. Na hora de servir, salpique flor de sal, pimenta-do-reino moída e pimenta rosa quebrada por cima e finalize com fios de mel.
 

 

 

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