Motoristas com sinais de embriaguez provocam pelo menos 13 acidentes por dia em Minas. Só no ano passado foram mais de 5 mil batidas, atropelamentos e capotagens. Nesta semana, a perigosa combinação entre álcool e direção matou uma mulher em Belo Horizonte. Especialistas cobram mais fiscalização para coibir as imprudências.
Quem comete o abuso transforma o veículo em arma e coloca a própria vida em risco, reforça o consultor em transporte e trânsito, Silvestre de Andrade. Para ele, ocorrências dessa natureza não são acidentes, e sim crimes.
“A pessoa sabe que está propensa a causar um acidente, porque diminui seus reflexos, percepções, equilíbrio e discernimento, está tudo alterado”.
Segundo o engenheiro, quando a política de tolerância zero foi adotada no Brasil com o intuito de acabar com essas ocorrências, houve um reflexo positivo. No entanto, com as mudanças na legislação – hoje, é considerado crime quando o suspeito apresenta concentração de álcool no ar soprado maior que 0,34 miligramas –, o cerco foi se afrouxando. “Cadê as blitze feitas para pegar os motoristas alcoolizados através do bafômetro?”, questiona.
Além disso, o consultor chama a atenção para a ação do judiciário, que muitas vezes não pune os infratores ou demora para aplicar sentenças. “Se a pessoa não sofre nenhuma punição, o recado que se passa para a sociedade é que isso não é relevante, que pode matar com um carro que não tem problema. A sensação de impunidade gera esse tipo de comportamento, que acaba sendo um estímulo”, avalia.
O sentimento de impunidade fica evidente quando um motorista de 43 anos foi flagrado pela sexta vez dirigindo após beber. Nas ocasiões, ele pagou a fiança e foi liberado. Na madrugada da última terça-feira, matou uma mulher de 56 anos depois de fugir de uma blitz na avenida Cristiano Machado, na região Nordeste.
“É um condutor que estava com a carteira bloqueada no sistema. Ou seja, não poderia conduzir o veículo. Ele tinha a ciência deste fato”, afirmou o delegado Rodrigo Fagundes, da Divisão Especializada em Prevenção e Investigação a Crimes de Trânsito (DEPICT) da Polícia Civil.
De acordo com a Polícia Militar, o condutor entrou na rua Jacuí, no bairro Ipiranga, em alta velocidade e bateu em outro carro, perdendo o controle da direção e atropelando três pessoas – matando uma e deixando duas feridas. Preso em flagrante, ele se recusou a fazer o teste do bafômetro, assim como nas ocorrências anteriores.
Punição
A lei diz que a infração por conduzir sob efeito de álcool gera multa de R$ 2,9 mil, podendo ser aplicada em dobro no caso de reincidência em um ano. O condutor responde a um processo administrativo e pode ter a habilitação suspensa por 12 meses. Nestes casos, a pena varia de seis meses a três anos, além da proibição de se obter habilitação.
Em 2018, as punições ficaram mais rígidas para os embriagados que causam morte ou lesão corporal grave. O tempo de cadeia vai de cinco a oito anos, sem direito a fiança, além de multa e CNH suspensa.
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informou que as polícias realizam blitze constantemente. As abordagens integradas têm a coordenação da secretaria e contam com a Polícia Militar, Rodoviária Estadual e Federal, Civil, BHTrans, Guarda Municipal, Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) e a Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo (Suase).
Nesta semana, a pasta doou à PM 44 etilômetros adquiridos com recursos do Fundo Estadual de Segurança Pública (Fesp), um investimento de mais de R$ 417 mil. “Os equipamentos foram destinados para o projeto ‘Lei Seca - Campanha Sou pela vida. Dirijo sem bebida’, e possibilitarão a ampliação das blitze que visam coibir a direção de veículo sob influência de álcool”.