
Faltando 15 dias para o fim da campanha de vacinação infantil contra o sarampo e a poliomielite, Minas Gerais ainda não alcançou nem 15% da cobertura para ambas as doenças. O percentual preocupa especialistas e autoridades, já que a meta é atingir 95% do público-alvo, formado por crianças de 1 a 5 anos.
A recomendação é que todos desta faixa etária sejam imunizados com uma dose de reforço, já que o vírus do sarampo está em circulação no Brasil – e o da pólio em outros países. No Estado, são cerca de 850 mil meninos e meninas vulneráveis. Pais e responsáveis devem levar os filhos às unidades de saúde até 31 de agosto.
Amanhã acontece o Dia D da campanha. Todos os postos de saúde dos municípios estarão abertos das 8h às 17h. A expectativa da Secretaria Estadual de Saúde (SES) é a de que 62% do grupo prioritário tenha sido vacinado após a mobilização nacional.
aúde de BH
Motivos
A desinformação é um dos principais motivos para a baixa procura. Pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai diz que a população “relaxou” quanto ao perigo de doenças que não são mais comuns. “Essa situação de controle fez com que as pessoas não colocassem a vacinação como prioridade de agenda. A grande maioria não se protege porque deixa para amanhã e, depois, enrola. Mas esse é um momento de alto risco no Brasil”.
Quem também engrossa o coro de que a escassez de casos favorece o atual cenário é o diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling. “As doses são tão eficazes que fazem as pessoas se esquecerem da gravidade dessas doenças”. Segundo ele, as novas gerações precisam ter a noção de que o sarampo é gravíssimo e pode matar as crianças.
Em Minas, 76 casos da enfermidade estão sob investigação. Caso o vírus chegue ao Estado, Carlos Starling afirma haver chances de milhares de registros serem confirmados. “A doença não respeita limites de território e progride rapidamente de um lugar para o outro. O risco perigo é real”, alerta o especialista.

Reforço
Outro motivo para que menores de 5 anos que já foram vacinados anteriormente sejam imunizados agora é a ampliação da garantia de proteção. Em alguns casos, mesmo quem tomou a segunda dose pode não ter apresentado uma resposta imunológica tão eficaz quanto a esperada. Por isso, médicos garantem que é importante retornar aos postos.
A eficácia do imunizante é 98%. “A campanha é importante porque protege esses 2% em imunidade coletiva. Ou seja, essas pessoas que não responderam à vacina ou que não puderam tomar por alguma contraindicação, ficam protegidas porque convivem com quem não oferece o risco da doença”, acrescenta Isabella Ballalai, da SBIm.
Crianças de 1 a 5 anos devem ser levadas aos postos de saúde, inclusive as que se protegeram anteriormente. Imunizar a faixa etária em um cenário de surto, em que Amazonas e Roraima já registraram casos de sarampo, é essencial para evitar que a doença se espalhe pelo país
Abertura antecipada
Em Belo Horizonte, a cobertura vacinal é considerada baixa pela própria Secretaria Municipal de Saúde. O percentual de crianças protegidas está em 12%. A expectativa é a de que o número cresça a partir do Dia D.
Na capital, os postos começaram a abrir às 7h na tentativa de ampliar a quantidade de vacinas aplicadas diariamente. Antes, o início do atendimento era duas horas mais tarde. No Centro de Saúde Lagoa, na divisa entre Belo Horizonte e Ribeirão das Neves, na região metropolitana, o novo horário ainda não teve adesão.
“Abrir mais cedo não tem sido muito eficaz. As pessoas não estão sabendo que podem trazer para vacinar a partir das 7h. Temos filas imensas à tarde, tivemos até que remanejar funcionários de outros setores para darmos conta da demanda. Mas de manhã segue vazio”, observa a enfermeira Aline Lara.
Ontem, na unidade de saúde, Matheus Oliveira, de 1 ano e cinco meses, foi o primeiro a se proteger contra as doenças. A mãe, Jenaira Sousa, de 21, conta que ficou sabendo da campanha pela televisão. “É importante prevenir, a gente fica preocupado”, afirma.
“Durante o surto é importante que o maior número de crianças seja vacinado para criarmos uma grande proteção” (Ivana Moutinho, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora)
Esforços
Além da procura voluntária dos pais pelo serviço, os postos da metrópole também estão buscando crianças, com o registro de doses atrasado, para completar o cartão. Os agentes comunitários de saúde vão até as casas do público-alvo. Além disso, novos enfermeiros foram contratados pela Secretaria Municipal de Saúde para garantir que a população seja imunizada e a cobertura, ampliada.
Já o Ministério da Saúde afirmou que os dados da imunização ainda são incipientes para cravar que a campanha registra pouca adesão. De acordo com a pasta, muitos estados e municípios não divulgaram as informações sobre a quantidade de doses aplicadas.