Alto índice de reprovação de alunos pode ser reflexo de ensino distante da realidade

Simon Nascimento
scruz@hojeemdia.com.br
05/09/2018 às 20:35.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:18
 (Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação)

(Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação)

A falta de atualização do currículo, a formação dos professores e o relacionamento das escolas com os alunos são apontados por especialistas como motivos para o baixo rendimento registrado pelo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Em Minas Gerais, o número de reprovações no ensino médio superou o registrado nacionalmente nas instituições da rede pública.

A cada cem estudantes mineiros, 21 não foram aprovados entre o 1º e o 3º anos, conforme o Ideb divulgado na última segunda-feira pelo Instituto Nacional de Educação e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). No Brasil, a média é de 18 reprovações em uma centena de alunos. 

“Minha impressão é de que a escola não tem política de ensino atrativa. Possui linguagem distante dos jovens. Com as novas mídias, então, aumentou ainda mais a distância”, coloca Eduardo Mortimer, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O distanciamento entre instituições e estudantes pode ser amenizado com políticas de ensino que tragam a realidade dos alunos para a sala de aula, acrescenta o especialista. “Se a escola conseguir contextualizar temas de interesse dos alunos à metodologia de ensino, os resultados podem ser melhores”, diz. 

Performance

A preocupação com o desempenho estudantil também afeta a fase final do ensino fundamental, do 6º ao 9º anos. Neste período, o índice de desaprovação no país é de 13 a cada cem alunos e, em Minas, é de 16. O Ideb mensura a performance dos educandos das redes pública e particular.

No estudo referente a 2017, o Estado já havia se destacado negativamente por não atingir a meta estipulada como ideal pelo Ministério da Educação nos anos finais do fundamental e no nível médio. 

“A formação dos professores é fragmentada, não trabalha com uma leitura da escola compreendendo novos alunos e novas configurações de família. Precisamos pensar a escola como um dos espaços de vivência dos estudantes e não como o único”, afirma a escritora e mestre em educação Jane Patrícia Haddad. 

Valorização profissional e salarial dos docentes e reformulação no currículo do ensino médio são defendidas pela educadora. “A geração não conversa com o que o currículo atual propõe. É preciso escutar alunos e professores para adequá-lo com a vida contemporânea”, expõe a especialista.

Escola perde sentido para quem repete ano sucessivamente

O índice de reprovação dos alunos no Estado também é refletido na distorção de idade e série de estudo, conforme o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A cada 100 alunos na fase final do ensino fundamental, 20 estavam com atraso escolar de dois anos ou mais. No nível médio, entre uma centena de estudantes, 27 já foram reprovados por duas ou mais vezes. 

“Aquele estudante que fica ali por duas, três vezes, acaba desmotivado e a escola perde o sentido para ele. Espera os 18 anos para fazer uma prova como o Enem para concluir o ensino médio”, explica a mestre em educação Jane Patrícia Haddad. 

Em 2015, quando a penúltima edição do Ideb foi divulgada, o índice de desaprovação em Minas era de 20% para o ensino médio e de 14% para o ciclo final do ensino fundamental. 

Procurada, a Secretaria de Estado de Educação informou que trabalha, por meio de campanhas e projetos, para melhorar a qualidade do ensino.

A pasta esclarece que “entre as medidas tomadas para a melhoria da qualidade do Ensino Médio pode-se destacar a abertura de turmas no Ensino Médio noturno, a criação da Rede de Educação Profissional, que ofereceu mais de 44 mil vagas em 34 cursos, e a oferta do Ensino Médio em Tempo Integral (que hoje chega a 79 escolas)”. 

Nas próximas semanas, o Instituto Nacional de Educação e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) divulgará o Censo Escolar de 2017 com as informações detalhadas sobre o desempenho dos alunos por série. Neste levantamento, será possível verificar em qual ano o número de desaprovação é maior. No estudo, o Instituto também apresentará as taxas de abandono dos estudos em Minas Gerais.Editoria de Arte

  

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