(Flávio Tavares)
A rede Hotéis Othon entrou nesta terça-feira (27) com pedido de recuperação judicial. De acordo com a empresa, a medida foi necessária devido à grave crise que o setor de turismo vem enfrentando no país desde 2015. A rede encerrou as atividades, neste mês, das unidades que tinha em Belo Horizonte e Salvador (BA), e mantém operações hoteleiras em nove cidades brasileiras, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo.
Questionada se o pedido de recuperação judicial afetaria o pagamento dos acertos trabalhistas dos 175 funcionários do Othon Belo Horizonte, a empresa preferiu não se pronunciar. Informações não oficiais dão conta que a rede prometeu aos empregados o pagamento efetivo das demissões, que estão feitas aos poucos.
De acordo com Diogo Paixão, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas Gerais (ABIH-MG), o fechamento do Belo Horizonte Othon Palace pegou todo o setor hoteleiro de surpresa.
“Todo mundo está prevendo o final de uma onda negativa. Desde a Copa do Mundo, o setor lidou com a crise e com o excesso de oferta e alguns fecharam. Mas compreendemos que o pior momento já passou e os hotéis sobreviventes voltariam a ter bons resultados”, afirmou Paixão. “O fechamento aconteceu muito mais por uma questão interna da rede do que pelo mercado hoteleiro em Belo Horizonte”, concluiu.
Já o consultor e especialista em hotelaria Maarten Van Sluys acredita que os problemas financeiros da rede Hotéis Othon são reflexo de uma intensa mudança que está acontecendo no setor. Enquanto novos hotéis são abertos sob uma perspectiva de engenharia inteligente – visando maior economia em gastos de água e energia elétrica, por exemplo –, os mais antigos têm de lidar com altos custos de funcionamento.
“A rede Othon tem um modelo de trabalho mais antigo, tanto que ela vem diminuindo com o passar do tempo, em vez de expandir”, afirmou o consultor, acrescentando que os problemas também são vivenciados em empresas menores. “Os hotéis antigos, de origem familiar, localizados especialmente no Centro da cidade estão sofrendo muito com a concorrência. Os novos hotéis são feitos com iluminação de LED, menos elevadores, toda a concepção para se ter menos gastos”.
Desde 2014, quando a capital mineira foi uma das sedes da Copa do Mundo, a cidade recebeu 43 novos hotéis. Outros dois empreendimentos estão previstos para serem inaugurados em Belo Horizonte em 2019, um na Savassi e outro na avenida dos Andradas. Por outro lado, outros 24 foram fechados num período de quatro anos.
A capital conta atualmente com 128 hotéis e boa parte dos demitidos do Othon tem boas chances de reinserção ao mercado de trabalho. Segundo Van Sluys, 55 dos 175 funcionários já estariam com novos empregos. “A referência do Othon é muito boa no mercado”, explicou.
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Destino do edifício
O Belo Horizonte Othon Palace ficava localizado em um edifício bastante privilegiado da capital mineira: avenida Afonso Pena, esquina com rua da Bahia, bem em frente ao Parque Municipal. Mas a localização central não é suficiente para que uma grande rede se interesse por investir em um novo hotel no local.
De acordo com Van Sluys, quanto mais tempo um hotel fica fechado, menores são as chances de ser reaberto com o mesmo tipo de negócio. “Primeiramente, vão tirar todos os móveis do hotel fechado, para vender os ativos, o que já descaracteriza o empreendimento. E caso o hotel feche e reabra muito tempo depois, gera-se uma desconfiança nos clientes, que não sabem como ficou a nova concepção. Melhor nesse setor é fechar e já abrir no dia seguinte sob novo comando, o que chamamos de 'virar a bandeira'”, explicou o consultor.
Alguns edifícios onde funcionaram hotéis ganharam novas funções em Belo Horizonte. O Hotel Excelsior, próximo à praça Rio Branco, foi transformado em um residencial com kitnets. Já parte do Hotel Del Rey, próximo à praça Afonso Arinos, é usada hoje pela Prefeitura de Belo Horizonte.
A rede Othon não se manifesta sobre o futuro do edifício, nem afirma se está à venda. Veja a nota enviada pela empresa sobre o pedido de recuperação judicial:
“A Hotéis Othon entrou nesta terça-feira (dia 27/11) com pedido de recuperação judicial. A decisão foi comunicada com pesar pela empresa e justificada pela grave crise que o setor de turismo vem enfrentando no país desde 2015, com importante impacto na rede hoteleira. Com esta medida, a companhia pretende equacionar seus compromissos com os credores e se recuperar para voltar a crescer. A empresa reafirma, no entanto, o seu compromisso com a continuidade das operações hoteleiras no Rio de Janeiro e em outras oito cidades: São Paulo, Araraquara, São Carlos, Matão, Fortaleza, Natal, Recife e Macaé.
Recentemente, a rede fechou duas unidades no Brasil (Salvador e Belo Horizonte), após 40 anos de atividades. “Tentamos evitar ao máximo o fechamento destas unidades, promovendo uma série de ajustes e uma importante reestruturação interna nos últimos quatro anos. Tínhamos esperança de assim ganhar fôlego financeiro para mantê-las em pleno funcionamento, mas o cenário econômico de profunda retração, este ano, não permitiu a retomada do crescimento do setor, infelizmente", diz a diretoria da Rede”.