Atingidos pela tragédia são abrigados em hotéis de BH

Guilherme Guimarães
Publicado em 27/01/2019 às 23:32.Atualizado em 05/09/2021 às 16:15.
 (Flávio Tavares)
(Flávio Tavares)

Viver longe de casa, angustiado pela busca de um parente ou amigo desaparecido – sem saber se estão vivos – e com mais incertezas sobre o amanhã. Assim estão agora os moradores de Brumadinho “transferidos” para Belo Horizonte após a tragédia que chocou e entristeceu Minas Gerais. Centenas de pessoas foram trazidas à capital mineira – muitos chegaram em carros da Polícia Militar e táxis que teriam sido custeados pela Vale – e estão sendo alocadas em hotéis de diversas regiões da cidade.

Um dos estabelecimentos, que recebeu pelo menos 80 pessoas, fica no bairro Gameleira, região Oeste de BH. 

“A polícia me buscou onde eu estava. Vieram comigo duas donas, dois meninos e outro rapaz. Fomos para Inhotim de carro e de lá nos trouxeram para cá. Estamos sendo bem tratados, graças a Deus, mas bom mesmo seria estar na casa da gente, mas lá nós correríamos riscos”, disse o desempregado Ariston Barbosa dos Santos, de 52 anos, mais conhecido como “Ceará” e que morava sozinho em Brumadinho. 

Desde o último sábado os desabrigados e/ou moradores de áreas classificadas como “de risco” pelas autoridades estão chegando com as mãos vazias.

“Eram dez horas da noite quando chegou a assistente social para tirar todo mundo que estava no meu bairro, o Pires. Tive que vir só com a roupa do corpo, sem documento nenhum. Estou nesse hotel pedindo a Deus para sair daqui de boa, porque não tenho lugar de ficar, não tenho para onde ir. Onde eu morava ainda há risco de mais tragédia”, lamentou Ceará.

Na porta do hotel um pastor evangélico tentava confortar as pessoas que estão à procura de parentes desaparecidos ou que foram obrigadas a deixar suas casas. “Momento difícil, mas Deus não esquecerá de ninguém. Basta crer”, dizia, com a Bíblia sob o braço.

Desabrigados contam que a Vale providenciou o envio de roupas e itens de higiene pessoal para os hoteis


Volta para casa

“Nossa situação não é fácil. Lutamos muito para conquistar as coisas, mas perdi tudo que eu tinha. Tudo a lama carregou”, relembra. “Quero saber quando vão resolver o nosso problema. Minha casa acabou, só lama, barro”, desespera-se o servente de pedreiro Virgílio Pessoa, 60 anos, morador do bairro Parque da Cachoeira, área onde até agora foram encontradas mais vítimas sem vida.

“Quero pegar minha indenização e mudar. Para Brumadinho não quero mais”, diz ele. “Voltar lá, não quero”, reforça. “Quero viver em outro lugar. Ninguém tem sossego em Brumadinho mais, acabou”, desabafou o servente, que perdeu um amigo na tragédia e chegou a BH acompanhado de esposa e neto. 

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