Automedicação: quando o remédio é vilão

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
03/05/2014 às 07:37.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:24
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Hábito comum entre os brasileiros, a automedicação oferece riscos sérios à saúde das pessoas. Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontam os remédios como causa número um das intoxicações no país.   No Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, mais de uma pessoa é internada, em média, a cada dia com sintomas de envenenamento por remédios. De janeiro a abril deste ano, foram realizados 161 atendimentos a pacientes nessas condições. No ano passado, o número de internações foi de 545.   Pesquisa feita no ano passado pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTP) revelou também que 54% dos brasileiros costumam tomar remédios por conta própria, e 64% dos entrevistados admitiram que descartam a ajuda do farmacêutico na hora de fazer a compra.   O que nem todo mundo sabe é que qualquer remédio, seja ele de venda livre ou controlada, pode apresentar efeitos colaterais quando administrado incorretamente. “Remédios só são seguros se usados da forma certa”, alerta o vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF/MG), Claudiney Luís Ferreira.   Efeitos indesejados   Na lista dos mais consumidos sem indicação ou acompanhamento estão relaxantes musculares e tranquilizantes, seguidos por analgésicos e antigripais. Usados sem cautela, eles produzem efeitos indesejados como constipação intestinal e dificuldade para urinar e podem levar ao aparecimento de doenças crônicas, como a hipertensão arterial.   “O ideal é que a pessoa não tome remédio mesmo que o considere inofensivo. É preciso consultar um médico de confiança e ter certeza de que o medicamento está sendo corretamente administrado”, explica a toxicologista Patrícia Drumond Ciruffo, do Centro de Informação e Assistência em Toxicologia (Ciat) do HPS João XXIII.   A engenheira ambiental Marcela Poletto Vilas Boas, de 31 anos, segue à risca a recomendação. “Raramente uso remédio. Se estiver gripada, por exemplo, recorro primeiro aos chás naturais. Só se os sintomas persistem ou se vejo que é algo mais sério é que procuro um médico”, diz.    Em 2011, conforme o Sinitox, os medicamentos responderam por 30% dos 29.105 casos de intoxicação registrados no país. Em segundo lugar, com 5%, ficaram os agrotóxicos.   Na próxima segunda-feira, Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, o CRF/MG realiza uma campanha educativa nas estações do metrô e do Move da região central da capital. Farmacêuticos, professores universitários e estudantes de Farmácia estarão nos locais, das 8h às 16h, distribuindo cartilhas informativas e tirando dúvida sobre o uso de remédios.   Bactérias resistentes pelo uso de antibióticos    Cada vez mais propagada entre a população adulta, a automedicação colocou em alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a entidade, o uso inapropriado de antibióticos é uma das principais causas da resistência de bactérias.    Considerados um dos pilares da saúde humana, os antibióticos, em função do uso inapropriado, têm se tornado ineficazes. Um relatório feito pela OMS, baseado em dados de 114 países, alerta para a resistência a vários agentes infecciosos e insiste em sete bactérias resistentes.   Ao longo dos anos, sem eficácia, os tratamentos não surtirão efeito e levarão à morte dos pacientes. Segundo a OMS, os resultados “muito preocupantes” corroboram a resistência aos antibióticos, em particular aos considerados como “último recurso”, utilizados contra certas bactérias resistentes.   A contribuição individual diz respeito ao uso dos remédios apenas com receita e à conclusão do tratamento indicado pelo médico.

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