Baixo nível do Rio Doce compromete transporte de passageiros em balsas

Ana Lúcia Gonçalves - Hoje em Dia
15/10/2015 às 06:56.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:03
 (LEONARDO MORAIS)

(LEONARDO MORAIS)

GOVERNADOR VALADARES – O barulho do remo de madeira batendo nas pedras do rio Doce indica mais um deslocamento da balsa com passageiros em Governador Valadares, no Leste do Estado. Por causa da seca, esse tipo de transporte está sendo feito com muita dificuldade. Das quatro embarcações, duas estão atracadas.

Elas encurtam o caminho de trabalhadores e estudantes, que pagam R$ 1,75 por viagem. “O rio não é mais navegável. Só tem pedras”, lamenta o balseiro Antônio Duarte Araújo, de 55 anos, conhecido como Baral. Ele só conseguiu manter a atividade porque ampliou de dois para 30 metros de comprimento a passarela de madeira que dá acesso à balsa.

O pontilhão improvisado chega quase ao meio do rio. “O restante do trajeto é pedreira”, ressalta Baral, conduzindo a embarcação com a força dos braços. Numa cidade com altas temperaturas quase o ano inteiro, como Valadares, o trabalho é sacrificante.

O serviço, que encurta o caminho entre a Ilha dos Araújos a vários pontos da cidade, é encerrado às 22h. Sozinho, Baral transporta cerca de cem passageiros por dia. A demanda do balseiro aumentou mais de 75% por causa das duas balsas que estão paradas. “Tem que chover logo, senão eu também terei que parar”, lamenta. Ele afirma que em 15 anos na atividade nunca viu o rio tão seco.

Os passageiros também estão preocupados. “Sem essa, teríamos que dar uma volta enorme e enfrentar todo o trânsito da cidade para chegar deste lado”, diz a pedagoga Dalva Teles, de 31 anos.

A musicoterapeuta Nancy Montenegro, de 42, ressalta que as balsas também são atrações turísticas e opções de lazer em Valadares. “As pessoas gostam desse passeio”, disse.

Triste cenário

O rio Doce tem vazões máximas em janeiro e fevereiro e mínimas em setembro, no fim do inverno. Mas, segundo Valdir Ferreira, de 52 anos, há 30 trabalhando na extração de areia, o curso d’água nunca esteve tão seco nesta época do ano. O carroceiro Rodrigues da Silva, de 58, confirma. “Tirei o sustento da minha família neste rio e hoje ele não dá peixe, areia e nem tem água. Triste demais”.

Segundo o ambientalista Henrique Lobo, o nível do rio Doce está muito baixo na região de Ipaba, situação que é considera assustadora. “A vazão é menor que 100 metros cúbicos por segundo, e neste período de final da seca sempre teve foi de 300. A compactação dos solos nos últimos 50 anos empobreceram as nascentes”, explica.

De acordo com Lobo, no Leste de Minas (Bacia do Rio Doce) não há captação profunda. A formação geológica não permite encontrar água a 100 ou 200 metros de profundidade como em outras regiões. A profundidade média atual do rio Doce é 50 centímetros nesta região.

“Esperamos que a chuva prevista para o período do final de outubro a março aumente o volume do rio Doce. Porém, não será uma chuva forte”, avisa. O especialista arrisca outra previsão, que ele chama de “conta de padeiro”. “A próxima enchente do rio Doce ocorrerá entre 2031 e 2032, porque a ocorrência é a cada 18 anos”.

Além disso, os rios Itambacuri e Traíra estão secos na região de Valadares. “O Traíra nunca havia secado antes”, alerta.
 

Igam baixa portaria restringindo captação para consumo no Suaçuí Grande e Pará

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) publicou as portarias 29 e 30, de 9 de outubro, que declaram situação de escassez hídrica nas imediações das estações Vila Matias, no rio Suaçuí Grande, e Carmo do Cajuru, no rio Pará. O primeiro banha municípios do Leste de Minas, Vale do Jequitinhonha, e o outro o Centro-Oeste do Estado.

Foi avaliado que a média das vazões diárias de sete dias consecutivos, observadas nas estações, são inferiores a 50% e 70%, respectivamente. A declaração de situação crítica de escassez previne ou minimiza os efeitos da seca e a degradação ambiental.

Deverá haver redução de volume de água captado: 20% para o consumo humano, dessedentação animal ou abastecimento público; 25% para irrigação; 30% para o consumo industrial, agroindustrial e mineração; e 50% para as demais finalidades. A restrição vai vigorar, inicialmente, por 30 dias a partir da data de publicação das portarias.

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