A via sacra pela noite tem terminado no zero a zero? Seus amigos te apresentam os mais incríveis pretendentes, mas no fim o príncipe sempre vira sapo e a princesa, ogra? Não perca as esperanças. Se encontrar um grande amor parece quase impossível, fazer as pazes com o cupido e laçar um namorado tem ficado mais fácil. É que os entusiastas do movimento “solteiro sim, sozinho nunca” resolveram se unir por um bem maior: dar um empurrãozinho na vida amorosa dos “encalhados” e promover o encontro entre corações perdidos.
Em Belo Horizonte, a situação é a seguinte: sobram solteiros – 1,09 milhão, segundo o Censo Demográfico 2010 – Levantamento de Informações Territoriais: Aglomerados Subnormais, do IBGE – mas também não faltam opções de festas e encontros para uni-los. É claro, tudo depende da circunstância, ou melhor dizendo, do santo bater. E, como tudo na vida, nem sempre dá certo. Mas não custa tentar.
Cansada de amargar dois anos de solidão, a advogada Virgínia*, de 39 anos, resolveu ir para o tudo ou nada. Encorajada por uma amiga, experimentou o último evento do Speed Dating Brasil realizado em Belo Horizonte, no início deste mês.
A experiência, garante ela, foi positiva. “Iria novamente. De fato quem está ali quer compromisso sério, mas, infelizmente, nem sempre, a coisa acontece”, comenta, enquanto ensaia uma segunda vez na balada do cupido.
O “Encontro Rápido”, em português, não tem mistério. Sucesso nos Estados Unidos há mais de 15 anos, o “rodízio”, formato em que se organiza, é muito simples. Pelo site da empresa, quem quer participar faz um cadastro, paga o valor estipulado, que dá direito a petiscos e drinques durante a noite, e no dia da festa participa da rodada de amizades. A ideia é fazer com que todos – em média 30 pessoas, entre homens e mulheres – se conheçam para, a partir de então, pensarem no algo mais.
“As mulheres ficam fixas em seus lugares e os homens circulam toda vez que o sino toca, a cada quatro minutos. No fim do tempo previsto todo mundo já sabe quem é quem”, detalha o coordenador de Marketing da empresa, Ivan Viveiros.
Cada festa tem também uma faixa etária para homens e mulheres. O “filtro” facilita na hora de encontrar o par perfeito. Terminada a fase de conhecer uns aos outros, cada participante preenche um formulário classificando em sim, não ou talvez a empatia com os companheiros de paquera. O casal cuja avaliação positiva for recíproca, ou seja, que der sim um para o outro, recebe, no dia seguinte, a ficha completa do companheiro em questão, com e-mail e telefone. Aí é torcer pra dar certo.
Há cinco anos em terras brasileiras, a Speed Dating Brasil não tem informações de quantos casais já se formaram nos encontros. Em média são realizados de seis a oito eventos por mês em São Paulo, e de três a quatro no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Aqui, a próxima oportunidade de encontrar a tampa da panela é no dia 31, a partir das 19h, na Choperia Albano´s do Lourdes.
Evangélicos
Mas a paquera, em geral, não acontece só em mesas de bar regadas a chope e conversa fiada. Para os mais, digamos, conservadores, como os evangélicos, que têm princípios de vida muito bem definidos, também há fartas possibilidades para encontrar a cara-metade. Prova disso é a história de Lílian Texeira, de 29 anos, e Wander Pereira, de 42.
Casados há oito anos, eles se conheceram na festa Em Busca da Costela Perdida, realizada há mais de 20 anos pela Igreja Batista Getsêmani. O nome da festa é uma alusão a uma passagem bíblica, mas a programação é bem diversificada e atende bem a todos os gostos, inclusive a quem já achou o par perfeito. “Quem já tiver achado a costela também pode ir”, brinca o pastor Davi Lago, que organiza o evento.
Este ano, a festa ainda não aconteceu, mas quem estiver em busca de uma companhia duradoura pode se programar para a Festa Country, no próximo dia 16, realizada pela Igreja Batista da Lagoinha. O evento acontece no Centro de Preparação Equestre da Lagoa (Cepel), na região da Pampulha, e tem como um dos principais objetivos colaborar com a paquera.
Com restrições a bebidas alcoólicas, cigarro e comportamentos que fujam aos instituídos pela igreja, esses ambientes oferecem música de qualidade e programação diversificada a cada nova edição.
No Santo Cristo Golpel Pub, por exemplo, no bairro Cidade Nova, na região Nordeste, as sextas-feiras são dedicadas ao forró. Programa já garantido pelos noivos Felipe Simões, de 23 anos, e Samara Bárbara Miquilino Rosa, de 22. Eles não se conheceram lá, mas garantem que as festas promovidas pela igreja deram um ajudinha no namoro. “Sempre preferimos ir a lugares onde as pessoas tinham o mesmo pensamento, cristão, que o nosso”, afirma.

Mesma forma de pensar de Marinésio dos Santos, de 25 anos, e Caroline Alves, de 21, que estão há um ano no “processo de conquista”, como Caroline classifica o namoro. Tudo graças à Festa dos Namorados, promovida pela Igreja Batista da Lagoinha. A programação do evento prevê um pausa obrigatória de dez minutos para que todos os presentes se conheçam melhor. “Eu paro tudo e digo: agora vocês têm dez minutos para conhecer dez pessoas”, conta o pastor Leandro Almeida, um dos responsáveis pelo evento. *Nome fictício.
Correios elegantes com mensagens melosas de amor
Quem não lembra do programa Em Nome do Amor, apresentado por Sílvio Santos? Era uma espécie de bailinho onde os casais, após a dança, escolhiam se queriam manter a paquera ou trocar de par. Foi partindo dessa ideia que a artesã Gabriela Santos, de 28 anos, imaginou e fez nascer um evento em Belo Horizonte.
Batizada com o mesmo nome do programa, a festa, que já aconteceu seis vezes em locais como as praças Raul Soares e da Liberdade, inclui os antigos correios elegantes com mensagens “melosas” de amor, varal de poesias e músicas que vão do brega ao sertanejo no melhor estilo dor de cotovelo. O objetivo, claro, é formar casais.
O “bailinho” – que de baile, na verdade, não tem nada – não foi o responsável pelo “desencalhe” da Gabi, mas no fundo até que ajudou. “Comentei um dia com uns amigos: não é possível que não tenha um homem nessa cidade para namorar. Bastou o comentário para arranjar uma paquera”, brinca.
Há seis meses ela abandonou a “solteirice”, ao conhecer o educador Paulo Fernandes, de 45 anos. Garante, porém, que a festa continua, para alegria geral dos que estão em busca de formar um par. A receita, ao que tudo indica, funciona.
“Já vi muita gente que se arrumou por lá, mas não sei ao certo de casos que viraram namoro”, comenta a artesã. Amiga dela, a estudante Stephanie Viggiano, de 24 anos, ainda não teve a sorte de se firmar com alguém. “Até hoje, só não participei de uma das festas. Não arranjei namorado, mas sempre rola uma paquera”, entrega.
A próxima edição do encontro, sempre na rua e de graça, ainda não está marcada. Mas os organizadores costumam divulgar os detalhes no Facebook. É só ficar de olho.
Enquanto isso, quem não quer esperar pode se arriscar no Baile dos Solteiros, na dDuck dClub, na Savassi. Lá, quem estiver sozinho tem a opção de desejar ser leiloado e, claro, “comprar” um pretendente. Os lances, como não poderia deixar de ser, em um boate que se preze, são feitos em doses de bebida.
“Tudo não passa de uma brincadeira. E é claro que ninguém é obrigado a pagar para levar, a pessoa, no caso”, reforça o “dono da festa”, Lucas Feliz.
Durante a madrugada, o anfitrião ou leiloeiro, como costuma ser chamado, cadastra a turma solteira e, de tempos em tempos, para o som e anuncia o início do leilão. Lá, tudo é permitido. Só não vale ficar sozinho. A próxima noite já tem data e hora marcados: 13 de setembro, a partir das 23h30. O dDuck fica na Pernambuco, 1.316.
Em Nome do Amor acontece sempre em locais públicos, como a Praça da Liberdad; objetivo da organizadora é ocupar a cidade com corações