Barragem em Barão de Cocais sobe para nível 3 de risco e pode se romper a qualquer momento

Mateus Rabelo e Rosiane Cunha
22/03/2019 às 22:10.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:55
 (Google Street View / Reprodução)

(Google Street View / Reprodução)

O nível de alerta de uma das barragens da mina de Gongo Soco, da mineradora Vale, em Barão de Cocais, na região Central de Minas, subiu de 2 para 3, na noite desta sexta-feira (22), deixando a cidade em alerta máximo para um possível colapso na estrutura. Este último nível de segurança significa risco iminente de rompimento ou rompimento já acontecendo. A informação foi confirmada pela Defesa Civil do Estado, que disse que a barragem Sul Superior, com cerca de 4,8 milhões de m³ de rejeitos de minério, corre o risco de se romper a qualquer momento.

De acordo com a Defesa Civil, a empresa independente contratada pela Vale para fazer vistorias na barragem informou nesta sexta que estava subindo o nível de alerta após nova avaliação da estrutura. Por causa da gravidade da situação, uma reunião de emergência foi marcada para esta tarde entre representantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Defesa Civil, Vale e Polícia Militar, Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e Agência Nacional de Mineração (ANM).

Após o encontro, que terminou por volta das 21h, como medida protocolar, às 21h30 foram acionadas as sirenes de alerta na cidade. Sete viaturas do Batalhão de Choque já estão na cidade para ficar de prontidão caso seja necessária uma remoção de emergência de moradores.

“A defesa civil do estado vai agora a noite para Barão de Cocais para durante a madrugada rever o plano de contingência e amanhã bem cedo fazer novos estudos para que no mais tardar na segunda possamos fazer um treinamento com os moradores da zona secundária, que são aqueles no raio de 10km onde a lama poderia chegar em caso de rompimento”, explicou o coronel Flávio Godinho, porta-voz da Defesa Civil.

De acordo com o prefeito da cidade, Décio Geraldo dos Santos (PV), ainda não se sabe o motivo da mudança do nível de risco. "Não tem nada oficial, o que sabemos é que passou do nível 2 para 3, não sabemos o motivo também. Mas, já acionamos a Defesa Civil do Estado e do município. Nós reuniremos com a diretoria da Vale no escritório da empresa na cidade para saber o que faremos em seguida", disse.

Ainda segundo o prefeito, apesar do alerta máximo, não há motivo para pânico na cidade. "Rompimento não tem, e a zona de autossalvamento já foi toda evacuada quando o nível de alerta subiu para 2. Ou seja, não há risco para a população. O que há são pessoas na zona secundária. Estamos esperando a Defesa Civil para saber quais procedimentos tomar e vamos conversar com a diretoria da Vale para saber exatamente o que aconteceu na barragem. Estamos em estado de alerta", completa.

A área de autossalvamento da cidade, ou seja, que corria risco imediato em caso do rompimento da barragem da mina de Gongo Soco, foi evacuada em 8 de fevereiro. No total, 428 pessoas deixaram suas casas às pressas na ocasião.

Ainda segundo o coordenador da Defesa Civil, agora, com a mudança de nível de risco, novos procedimentos de segurança serão tomados. De acordo com o órgão, na zona secundária, há cerca de três mil residências. A partir deste sábado (23), ou no mais tardar na segunda (25), todos passarão por um treinamento, para, em caso de rompimento, poderem evacuar suas residências em segurança. Segundo o órgão, as casas desta zona, que ficam há dez quilômetros da barragem, seriam atingidas entre 30 minutos e uma hora após o rompimento. 

“Se a população de Brumadinho tivesse a oportunidade de ser evacuada de suas residências, nós não teríamos mais de 300 mortos. A evacuação, ela causa um desconforto para a pessoa que é retirada de sua zona de conforto, mas a intenção da evacuação é preservar a vida das pessoas, e dar dignidade para que ela seja acolhida em local custeado pela Vale. Essa é a preocupação do Governo de Minas, de dar total acolhimento a essas pessoas que forem retiradas de suas residências”, ressalta Godinho.

Em nota, a Vale informou que acionou o protocolo para início do nível 3 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) para a Barragem Sul Superior da mina Gongo Soco. "Essa medida preventiva se faz necessária tendo em vista o fato do auditor independente ter informado a condição crítica de estabilidade da barragem. Com o nível 3, foi acionada a sirene de alerta que cobre a Zona de Autossalvamento (ZAS), como reforço de medida preventiva, já que a evacuação da área próxima à barragem foi realizada em 8 de fevereiro".

A Barragem Sul Superior da mina de Gongo Soco é uma das dez barragens a montante inativas remanescentes da Vale e faz parte do plano de descaracterização anunciado pela empresa.

Vizinhos em pânico

O problema em Barão provocou pânico na cidade vizinha de São Gonçalo do Rio Abaixo. Moradores evacuaram diversas residências na noite desta sexta, após a sirene da mina de Brucutu, que pertence à Vale, também ser acionada. 

De acordo com o prefeito da cidade, Antonio Carlos, a sirene foi acionada de forma equivocada, que a mina de Brucutu segue sem problemas. "Conversei com o diretor da mina de Brucutu dizendo que a barragem sul de Gongo Soco mudou de nível e teve que acionar a sirene. Mas, ainda não se sabe a causa que fez tocar as sirenes na nossa cidade, pode ter sido um engano", disse o prefeito em um áudio por WhatsApp.

Segundo um morador de São Gonçalo, que diz ter escutado a sirene, o fato provocou uma histeria na população. "A cidade está em pânico após a sirene tocar. A todo momento vemos carros de polícia passando e os moradores estão deixando suas casas e indo para as ruas em desespero sem saber o que fazer", disse o morador.

Em Barão de Cocais, os moradores também ouviram a sirene. “Eu moro às margens do Rio São João e fica um pouco distante da barragem. Mas, está todo mundo comentando e mandando áudio que a sirene tá tocando e dizendo que a barragem passou para o nível 3, com suspeita de rompimento. A orientação que recebemos é que se algo de grave acontecer, os carros da prefeitura iriam passar aqui e avisar para a gente sair, mas isso não aconteceu”, contou uma moradora.

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