
SÃO PAULO – Preparar professores mais abertos ao diálogo e cientes de que o aprendizado está relacionado ao contexto social dos estudantes. Esse é um dos principais desafios para a formação de docentes diante da implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A estruturação de políticas públicas para as redes de ensino do país foi discutida ontem durante um ciclo de palestras realizado em São Paulo. Gestores, pesquisadores e educadores brasileiros e até estrangeiros debateram como implementar a BNCC, aprovada no fim de 2017, nas escolas.
O encontro foi organizado pelo Itaú Social e pelo Instituto Ayrton Senna. Para a professora da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Linda Darling-Hammond, é importante que a preparação dos professores das redes estadual e municipal não se atenha somente aos conteúdos pedagógicos estabelecidos no documento.
“Nós estamos tentando adaptar os alunos ao currículo, e não o currículo aos alunos. Não basta só saber o conteúdo. O professor tem que entender como as crianças aprendem, qual o contexto de vida delas e precisa se adaptar”, frisa a educadora, que participou de um processo semelhante na educação do país norte-americano.
Uso de tecnologias
O texto da base prevê o uso de tecnologias de comunicação e plataformas digitais no aprendizado. Porém, professores apontam que adaptar essas exigências do documento a contextos de escolas rurais, indígenas, quilombolas e em locais de grande vulnerabilidade social é outro gargalo na implementação da BNCC.
Muitas escolas no país ainda não têm infraestrutura adequada para receber os alunos e garantir o aprendizado, como explica a coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Seabra, no interior da Bahia, Jana Barros. “Falar de implementação de BNCC não é só falar da construção de conteúdo. É preciso pensar também em um espaço físico que dê dignidade e identidade aos estudantes”, diz.
Nas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que coordena, Jana perguntou o que os estudantes gostariam que fosse alterado com a base. Os alunos, no entanto, apontaram uma série de problemas estruturais, como cadeiras pequenas e iluminação precária.
“Diante das limitações, estamos trabalhando sequências didáticas sobre qual seria a iluminação adequada, por exemplo. Vamos escrever um projeto de adequação para as salas, estudaremos condições ideais para que esses alunos possam aprender e encaminharemos o documento produzido à secretaria”, afirma a professora.
Habilidades e competências
A Base Nacional Comum Curricular é um documento que estabelece um conjunto de habilidades e aprendizados que crianças e jovens do ensino básico devem ter assegurados em cada etapa da educação. O material inclui conteúdos curriculares, como o que deve ser visto em cada área do conhecimento, e competências que o estudante deve ter, como pensamento crítico e cooperação.
As redes estaduais e municipais devem elaborar, a partir da BNCC, os próprios currículos e propostas pedagógicas, conforme as particularidades regionais. As mudanças devem ser colocadas em prática até o fim de 2019.
Procurado, o Ministério da Educação (MEC) informou que a organização das redes será de cada Estado, no caso do ensino médio, e por municípios, para os ensinos infantil e fundamental.
Em nota, a Secretaria de Educação de Minas Gerais informou que as discussões para a implementação da BNCC e a elaboração do currículo já estão avançadas no Estado e ocorrem em parceria com os municípios. Em fevereiro, uma comissão formada por várias entidades foi criada para articular os debates.
Até o momento, as discussões já chegaram a 618 cidades, abrangendo 102 mil profissionais e 2.778 escolas. Além das reuniões quinzenais de um comitê que foi criado, 12 encontros regionais serão realizados no Estado em junho e julho. A primeira versão da BNCC será disponibilizada para consulta pública no próximo mês. Após as contribuições, será elaborada uma versão final para apresentação ao Ministério da Educação.
*A repórter viajou a convite do Itaú Social