Best-Seller canadense “Destrua Este Diário” também faz sucesso no Brasil

Elemara Duarte - Hoje em Dia
18/01/2014 às 08:45.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:25
 (Samuel Costa/Hoje em Dia)

(Samuel Costa/Hoje em Dia)

Virou mania no Brasil. O título do livro manda detonar geral e lá dentro também. Mas violência nua e crua é o que menos acontece. O lúdico e recém-lançado “Destrua Este Diário” (Editora Intrínseca, 224 páginas, R$ 19,90) tem estimulado mesmo é a expressão criativa.

Lançado em 2007 “lá fora”, o livro foi idealizado e escrito pela ilustradora canadense Keri Smith, que falou com o Hoje em Dia sobre seu best-seller. A interativa publicação chegou ao Brasil há cerca de dois meses e tornou-se um dos mimos de Natal mais desejados, especialmente pelos jovens, e continua no topo das vendas.

“Destrua Este Diário” ficou em oitavo lugar entre os mais vendidos de 2013, categoria “não-ficção”, no site especializado em mercado editorial PublishNews. Na primeira semana de janeiro, ele pulou para o terceiro lugar, mas na categoria “geral”.

Sucesso aqui e no exterior, a edição norte-americana vendeu mais de 1,5 milhão de livros. Kerri diz o livro foi publicado em todo o mundo em dezenas de idiomas. “Tantos que eu perdi o controle”, admite. Uma contagem da editora brasileira estima pelo menos 14 línguas.

Por que detonar um livro?

A reportagem procurou esta resposta. O primeiro passo foi deixar o lançamento em algum ponto comercial, à mercê dos anônimos. Não deu muito certo. “Olhavam e não tinham coragem. Parece que o livro é meio sagrado”, define o proprietário da livraria Asa de Papel, Álvaro Gentil, onde fizemos o “test-drive”.

A solução foi seguir as dicas ao lado de pessoas abordadas na rua. O estudante Guilherme Santos Colares, “protegido” pelo pastor Max, aceitou o desafio intitulado “Pintura com a língua. Lamba esta página”, mas deixando o cão cumpri-lo. Max cheirou o livro, não lambeu, mas deixou uma respeitosa baba cair na página. Pelo interesse, desafio cumprido.

A equipe tomou gosto ou o vício pela transformação do livreto e encontrou o estudante Luiz Henrique Salatiel, 17 anos. Ele seguiu a dica para rasgar uma das páginas fazer um cone e beber água nele e, também, para arrastar o livro no chão. “Água com gosto de papel. Achava que os livros eram só para ler”, diverte-se.

O escritor Luiz Claudio de Paulo, na sugestão de “preencher uma página com a mão esquerda” escreveu: “Quero treinar esta mão antes de morrer”. Boa! Outro participante, que preferiu não se identificar, colocou na “página de pensamentos felizes”, que “Liberdade é o direito de transformar-se”. Afinal, é isso que o livro propõe.

E na internet...

O livro que transforma leitores em criativos e inofensivos “destruidores” já tem no Facebook brazuca (/destruaestediario) mais de 32 mil curtidas, desde novembro.

No YouTube, há milhares de vídeos de leitores em todo globo mostrando o processo e o resultado de suas intervenções. Um único vídeo chegou a ter mais de meio milhão de visualizações.

“Isso é legal para quem é tímido. Algumas coisas, o livro pede para fazer em público, na rua. Você nunca teria coragem de fazer essas coisas se alguém não te mandasse”, avalia Bruna Vieira, em outro vídeo, no blog dela, o “Depois dos Quinze”.

Leitor/destruidor assumido, o estudante de medicina Frederico Valim, de 21 anos, de Belo Horizonte, comprou o livro para si, para a irmã e para uma amiga. “Minha irmã não teve coragem e na página para ‘tomar um banho’ com um livro, ela pediu para eu fazer”, conta às gargalhadas.

Depois de pronto, “Destrua Este Diário” deverá ser enviado pelos Correios para o próprio dono. “Chega em um ponto que nem dá para mexer mais. A ideia é guardar”. Uma lembrança e um ensinamento para sermos mais ousados, divertidos e transformadores.

Entrevista - A ‘artista de guerrilha’ Keri Smith fala do poder da liberdade

A escritora e ilustradora canadense e “artista de guerrilha” Keri Smith deixa bem claro: “Destrua Este Diário” não é uma ação de marketing. Com a publicação ela quer é quebrar paradigmas, inclusive os de consumo, além de transpor bloqueios criativos e questionar o que é habitual. E quem não gosta de ter liberdade? Ao Hoje em Dia, ela fala sobre a ideia.

Que fenômeno é este provocado pelo seu livro?
O sucesso de meu livro é incrível e humilhante para mim, agradeço todos os dias por todos os e-mails que recebo. Parece que “Destrua Este Diário” já atingiu pessoas de todo mundo e não se limita a uma cultura apenas. País por país, ele continua a levar diversão para as pessoas com o conceito de “destruição criativa”. Pode ser a primeira vez que as pessoas estejam recebendo permissão para destruir algo que elas sempre foram orientadas a manter intocado. Isso torna-se catártico, num mundo que é muito controlador e perfeccionista. Quando você começa a fazê-lo, torna-se um pouco viciante.

Como é o retorno dos leitores?
Tenho recebido muitos e-mails de pessoas que estavam passando por um momento difícil. Elas dizem que o livro proporcionou-lhes uma maneira de sair de seus problemas e que lhes deu um novo olhar para a vida. O livro ofereceu a elas uma tarefa específica para ser concluída, mas nada que seja muito trabalhoso.

A que se deve isso?
Eu também passei por um momento difícil, quando eu era mais jovem. Agora, eu me surpreendo ao ver este livro atingido pessoas que passam por algo semelhante. Como isso acontece? Escrevi este livro tantos anos depois, quando a minha vida estava boa. Será que houve pedaços do meu passado lá dentro? Mas então eu não percebi isso (a identificação dos leitores com algo triste que ela tinha passado tempos atrás).
Os leitores não estão respondendo à minha dor, mas ao meu processo de cura. Dei a mim mesma um espaço seguro e divertido de existir fora do mundo real, um espaço que era só meu, foi como eu me encontrei novamente depois de anos de sentimento perdidos. Ao desafiar a mim mesma para encher uma página de cada vez, se desenvolveu um relacionamento mais profundo com o livro e, eventualmente, eu tinha dezenas deles preenchidos com todos os tipos de experiências. Quando você está em um lugar escuro, às vezes, ao fazer um rabisco, mesmo que pequeno, você se sente bem. “Sim! Eu fiz alguma coisa hoje!” É uma atitude muito mais poderosa do que parece!

Qual a coisa mais bizarra que fizeram com seu livro?
Foram muitas. Mas, uma delas, veio de um dentista. Ele usou toda a sua tecnologia de equipamentos odontológicos para destruir o diário.

Algum livro novo?
Eu tenho outros doze livros em versão e agora estou trabalhando em dois novos, a serem publicados no outono de 2014.

 

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