"Cidade Jardim"?

BH tem mais árvores em bairros ricos do que nos pobres, mostra estudo

Capital repete "padrão de desigualdade social comum a grandes cidades sul-americanas", destaca pesquisa; estudo considera ainda que arborização é tão importante quanto rede elétrica ou saneamento

Da Redação
portal@hojeemdia.com.br
16/04/2024 às 19:31.
Atualizado em 16/04/2024 às 20:21
Contrastes na capital conhecida como 'cidade jardim' foram incluídas em estudo feito por universidade paulista (Valéria Marques / Hoje em Dia)

Contrastes na capital conhecida como 'cidade jardim' foram incluídas em estudo feito por universidade paulista (Valéria Marques / Hoje em Dia)

Em tempos de polêmica devido à supressão de árvores na Pampulha para a realização da Stock Car - evento esportivo marcado para agosto, cuja pista irá circundar o Mineirão -, Belo Horizonte foi tema de estudo de uma universidade paulista a respeito de arborização.

E ao mapear a distribuição de árvores pela cidade, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) identificou que elas estão mais presentes em bairros de maior poder aquisitivo, repetindo o que o estudo identificou como "padrão de desigualdade social comum a grandes cidades sul-americanas".

Em todo o país, foram mapeadas mais de 250 mil árvores. O levantamento analisou o acesso da população a áreas verdes e encontrou diferenças relacionadas a poder aquisitivo e até faixa etária. Os pesquisadores sustentam que, "num contexto de mudanças climáticas, infraestrutura verde de uma cidade se torna tão importante quanto rede elétrica ou de saneamento".

Bairros mais ricos de BH são mais arborizados que os mais populares, aponta levantamento de universidade paulista (Valéria Marques / Hoje em Dia)

Bairros mais ricos de BH são mais arborizados que os mais populares, aponta levantamento de universidade paulista (Valéria Marques / Hoje em Dia)

A Unesp destacou, também, que 2023 foi o ano mais quente já registrado na história, segundo a Organização Meteorológica Mundial. E que os brasileiros puderam experimentar essas mudanças nos termômetros na própria pele. Segundo levantamento do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ligado ao Governo Federal, ano passado foram registradas pelo menos nove ondas de calor, períodos em que a temperatura máxima diária supera a temperatura média mensal em 5 ºC ou mais, ao longo de pelo menos cinco dias.

Arbori (Divulgação / Unesp)

Arbori (Divulgação / Unesp)

"Diante do desafio de adaptar nosso estilo de vida a condições climáticas que rapidamente estão se tornando mais exigentes e menos confortáveis, os planejadores urbanos e pesquisadores estão lançando olhares mais detalhados para elementos e estratégias com potencial para mitigar os efeitos das ondas de calor nas grandes cidades. Dentre estes elementos está a arborização urbana", destacou o estudo.

Os especialistas apontam que a presença de árvores em vias públicas pode ajudar a equilibrar o clima urbano por meio de três fatores: a absorção de gases de efeito estufa, o sombreamento proporcionado pelas copas das árvores e o processo de evapotranspiração das folhas. Como benefícios acessórios, a presença das plantas colabora para retardar o escoamento da água da chuva, e torna o espaço viário esteticamente agradável e convidativo ao cidadão.

Agora, um trabalho de pesquisadores ligados ao Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação e ao Centro de Estudos Ambientais da Unesp, campus de Rio Claro, e à Universidade Oxford analisou a arborização urbana em Belo Horizonte, a sexta maior capital do país. No último ano, a cidade conviveu com quatro ondas de calor. Em uma delas, em setembro, registrou a maior temperatura da sua história: 38,6°C.

Comunidades na periferia têm menor quantidade de árvores em BH (Valéria Marques / Hoje em Dia)

Comunidades na periferia têm menor quantidade de árvores em BH (Valéria Marques / Hoje em Dia)

Em outro recorte, a pesquisa também comparou a distribuição de árvores na estrutura viária de BH com informações socioeconômicas do município. Os pesquisadores constataram que o número de árvores na capital mineira diminui em regiões em que vivem populações de menor poder aquisitivo, reforçando aquilo que a literatura tem chamado de “luxury effect”.

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