Cancelamentos de viagens por aplicativos e alta nos preços geram transtornos para usuários

Raquel Gontijo
raquel.maria@hojeemdia.com.br
23/12/2021 às 15:11.
Atualizado em 29/12/2021 às 00:36

Usuários de aplicativos de transporte em Belo Horizonte reclamam da dificuldade para encontrar motoristas e do cancelamento de corridas nas últimas semanas. Além disso, muita gente diz que o valor subiu e está quase o mesmo preço cobrado pelos taxistas, tradicionalmente mais alto do que os dos apps.

O Clube dos Motoristas por Aplicativo de Belo Horizonte explica que, nesta época de festividades e feriados, o número de chamadas aumenta por conta do aquecimento do comércio para as compras de Natal, deslocamento para viagens e confraternizações de empresas e grupos de amigos, por exemplo. 

A situação é ainda mais agravada com as greves recentes de operadores do transporte público, já que os serviços de carros por aplicativo se tornam a principal opção para falta de ônibus ou metrô, mesmo operando com tarifas dinâmicas. O alto número de usuários em busca de veículos e a oferta insuficiente de motoristas fazem os preços dispararem.

Foi o que aconteceu durante a greve dos motoristas de ônibus de BH, no fim do mês de novembro, e o que aconteceu também nesta quinta-feira (23), com a greve dos metroviários.

Usuários relatam transtornos

Os cancelamentos frequentes são a principal reclamação de usuários, como a médica veterinária Fernanda Freitas. Ela mora na região Central de Belo Horizonte e conta que sempre usa serviços de apps para se deslocar pela cidade. Fernanda conta que a dificuldade de conseguir a corrida se intensificou há cerca de dois meses e piorou muito em novembro. Há algumas semanas, ela e uma amiga precisavam ir a um compromisso no bairro Carlos Prates, região Noroeste da capital. Foram diversas tentativas para conseguir encontrar um motorista, mesmo morando no Centro da cidade, onde há maior volume de veículos.

“A gente pedia o carro e o aplicativo informava que tinha que aguardar 10 minutos, mas quando chegava no fim do tempo, os motoristas cancelavam a corrida. (...) Depois de chamar várias vezes, nós não conseguimos, desistimos e tivemos que pedir desculpas para as colegas que foram  prejudicados”, lembra. 

A profissional também observa que os valores das corridas para determinados lugares também subiram. No último fim de semana, por exemplol, precisou pegar um ônibus e um carro por app para ir à casa da irmã para cuidar do sobrinho, em Nova Lima, na região metropolitana. Na volta, já era noite e usou o aplicativo para volta pra casa. Ela reclama que, se antes costumava pagar cerca de R$ 20, atualmente, tem gastado entre R$ 30 e R$ 40 nesse trajeto, dependendo do horário.

Motoristas

Para o presidente do Clube dos Motoristas por Aplicativo de BH, Warley Leite, a situação está inviável. Ele explica que ss cancelamentos estão ocorrendo em função do baixo valor de repasses e de tarifas mínimas das operadoras, que são menores do que o litro da gasolina. Segundo o representante da categoria, as operadoras descontam 60% do valor total das corridas. Leite afirma ainda que as novas fórmulas de cálculo da tarifa mínima geram lucro apenas para as plataformas e que reduzem o ganho dos motoristas. “Existem certas corridas que não compensam e o motorista entendeu isso, ele aprendeu a fazer as contas”, desabafou. 

Warley diz que, recentemente, cerca de 1,5 mil motoristas foram excluídos dos aplicativos por terem cancelado muitas corridas, o que, na opinião do presidente, dificulta ainda mais que o passageiro encontre profissionais à disposição.

Uber  

Em nota, a Uber, uma das empresas de transporte por aplicativo operante na capital, disse que, com a pandemia, houve um aumento da demanda pelos usuários. Segundo a plataforma, pesquisas recentes apontam que o brasileiro passou a utilizar com mais frequência o serviço “por considerarem os apps de mobilidade mais seguros para se locomover e evitar aglomerações”. 

A Uber complementa que esse cenário de demanda crescente por viagens vem se acentuando ainda mais com o avanço da vacinação e a reabertura progressiva dos espaços e retomada das atividades.

“Nesse sentido, os usuários estão tendo que esperar mais tempo por uma viagem porque, especialmente nos horários de pico, há momentos em que há mais solicitações do que motoristas parceiros disponíveis para atendê-las", diz a nota.

A empresa ainda diz que, com esse desequilíbrio temporário do mercado, também podem ocorrer com mais frequência tanto cancelamentos pelo usuário, que não deseja esperar mais tempo pela viagem, quanto recusa de viagens pelo motorista, que, pelo cenário de demanda em alta, pode presumir que haverá novos chamados de maior ganho na sequência, por exemplo.

Sobre o aumento das tarifas, a plataforma explicou que “nos momentos de desequilíbrio localizado, o mecanismo de preço dinâmico entra em vigor automaticamente”. Segundo a Uber, o preço dinâmico é temporário e atualizado constantemente e, por isso, a dica para os usuários é esperar algum tempo antes de verificar o preço novamente no aplicativo. 

99 POP

A 99 POP, outra operadora de aplicativo de mobilidade em BH, esclareceu que os motoristas são parceiros autônomos e, assim como os passageiros, podem rejeitar corridas. Segundo a plataforma, a recusa da corrida, antes mesmo que seja confirmada para o passageiro no app, evita que os usuários sejam impactados com altas taxas de cancelamento ao procurar por uma viagem e longo tempo de espera para embarcar.

A 99 POP ressaltou que o índice de cancelamento da empresa é de menos de 5% e que é a única companhia, em seu segmento, a permitir que os motoristas parceiros rejeitem, sem limites, corridas antes mesmo de serem confirmadas para os passageiros. 

A empresa declarou que, recentemente, como forma de manter o equilíbrio da plataforma diante dos constantes reajustes dos combustíveis, que impactam negativamente o transporte por aplicativos, reajustou os ganhos dos motoristas parceiros entre 10% e 25%, nas 1.600 cidades do Brasil, onde a empresa opera. Segundo a 99 POP a iniciativa oferece mais ganhos aos motoristas e mantém a oferta do serviço aos usuários, uma vez que a maior parte deste aumento para os motoristas está sendo subsidiada pela empresa, não refletindo, portanto, no preço final ao passageiro.

Diante deste cenário, a saída para os passageiros é ficar se programar com antecedência para sair de casa, principalmente ao se deslocar para compromissos com hora marcada ou para lugares como rodoviárias e aeroportos, para não correr o risco de perder a viagem. 

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