Nem mesmo a multa de quase R$ 1.500 tem impedido o abandono de veículos nas ruas de Belo Horizonte. No ano passado, foram 109 notificações por mês computadas pela prefeitura – um total de 1.312. O número é maior que o registrado em 2017, quando 776 advertências foram aplicadas por conta da infração.
Dos proprietários comunicados em 2018, 210 não retiraram os automóveis das vias e acabaram multados. Nesses casos, é a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) que remove os carros e os leva para um galpão no aterro da BR-040, Noroeste da cidade.
Deixado ao relento, o automóvel vira carcaça, com risco tanto para a saúde pública quanto para a segurança. Foi com medo da proliferação de doenças que moradores da rua Adonias Filho, no Santa Maria, Oeste da capital, denunciaram em outubro do ano passado o abandono de um Gol na via.
Lá, o automóvel teria permanecido por três anos. “Podia ter bichos dentro do carro e a rua é cheia de crianças”, contou a aposentada Isabel Paulina de Oliveira, de 68. A queixa deu resultado: o dono do veículo removeu a carcaça.
“Em 80% dos casos, são os proprietários que retiram e dão a destinação para o bem, uma vez que a multa é alta. Mesmo assim, há quem não tome providências”, disse o subsecretário municipal de Fiscalização, José Mauro Gomes.
A SLU prepara edital para leiloar 220 veículos e carcaças abrigados no galpão da BR-040. O certame está previsto para ser divulgado até o fim deste ano
Fiscalização
Conforme o gestor, fiscais vistoriam os bairros conforme cronograma de trabalho da subsecretaria e após denúncias de moradores.
Ainda segundo José Mauro, muitas vezes não é possível remover a carcaça por conta do estado em que se encontra. Também há casos em que nem se pode acionar o proprietário, porque o chassi está bem danificado.
O subsecretário de Fiscalização reforça que o automóvel deixado ao relento pode absorver água da chuva e tornar o ambiente favorável à proliferação do Aedes aegypti. “Outro problema são usuários de drogas morando nos veículos”, complementa.
Professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB ), da UFMG, Paulo Garcia também alerta para o risco de animais peçonhentos. “Entre outros bichos que podem se desenvolver na carcaça, como aranhas e escorpiões. Até cobras se escondem no lixo”.
“O rato, por exemplo, transmite a leptospirose e pode até matar”, acrescenta a professora Michelle Timóteo, do curso de enfermagem das Faculdades Promove.

Sem solução
Para os moradores da rua Tenente Durval, no Santa Tereza, Leste de BH, o perigo ronda a segurança pública. Um ônibus estacionado há três anos na via, segundo eles, já teria até facilitado a ação de bandidos.
“Estamos doidos para esse ônibus sair daí, é perigoso, porque ninguém vê o que acontece atrás dele. Além do assalto, junta muito lixo e, no Carnaval, virou quase que um banheiro público. Todo mundo urinava aí”, reclama a pensionista Julieta Monducci, de 82 anos, que vive na região.