Mais de dois anos após a intoxicação por dietilenoglicol na cerveja "Belorizontina", fabricada pela Backer - que deixou dez pessoas mortas e várias com sequelas -, familiares das vítimas acreditam que ainda é possível responsabilizar os envolvidos.
Nesta segunda-feira (23), começam os depoimentos das testemunhas e, até quinta (26), 28 pessoas são esperadas no Fórum Lafaiete, no Barro Preto, região Centro-Sul de BH.
Cristiano Mauro Assis Gomes é umas das vítimas. A esposa dele, Flávia Schayer Dias, será ouvida na quinta-feira (27) e diz ainda confiar nos tribunais. "Espero que realmente aconteça justiça. Quero sempre acreditar na Justiça", diz.
Ela se emociona ao ressaltar o desgaste de ter que relembrar novamente todo o processo. Segundo Flávia, Cristiano segue em tratamento.
Rodrigo Borges, filho de João Roberto Borges, outra vítima que ainda vive os efeitos da intoxicação, conta que a mãe, Maria Augusta, será ouvida em depoimento marcado para a terça-feira (24). "A gente fica meio sem expectativa ou perspectiva de coisa boa. Esperamos justiça. É o caminho a ser seguido e vamos percorrê-lo", diz Rodrigo.
O que diz a Backer
Sobre mais esse passo no processo, o fundador da Backer, Munir Lebbos, afirma, por meio de nota, que a empresa segue colaborando e tem total interesse na apuração dos fatos. Veja nota na íntegra:
“Temos total interesse na apuração dos fatos associados às cervejas produzidas anteriormente à 2020 e, por isso, seguimos contribuindo ativamente com as investigações e com o trabalho dos órgãos de controle e fiscalização".
Fase de instrução
Os depoimentos desta semana fazem parte da fase chamada de "instrução de julgamento". Durante esse processo, são ouvidas testemunhas, peritos e réus. A reportagem apurou que, nesta semana, cinco vítimas devem ser ouvidas. Dentre as testemunhas, um funcionário do Ministério da Agricultura e um delegado da Polícia Civil também devem prestar depoimento.
No total, são esperadas 28 pessoas, que foram arroladas como testemunhas pelo Ministério Público. Há possibilidade de alguma optar por prestar o depoimento por vídeo-conferência.
Não há limite para cada depoimento. A data para ouvir testemunhas de defesa e réus será marcada posteriormente. Os réus podem acompanhar os depoimentos, se desejarem.
Relembre o caso
Em janeiro de 2020, pessoas que consumiram a cerveja Belorizontina, produzida pela Backer, apresentaram sinais de intoxicação. Análises realizadas nas cervejas da marca constataram a presença de substâncias tóxicas: o monoetilenoglicol e dietilenoglicol.
Em junho daquele ano, a investigação da Polícia Civil indicou que a contaminação ocorreu devido a um furo no sistema de refrigeração de um dos tanques utilizados pela cervejaria.
Em agosto de 2020, um relatório do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) confirmou a ocorrência de contaminações desde janeiro de 2019, afastando a possibilidade de ser um evento isolado.