Casos de dengue e outras doenças podem aumentar após desastre em Brumadinho

Raul Mariano
05/02/2019 às 20:55.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:24
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Não bastasse o rastro de destruição que deixou pelo menos 134 mortos, o desastre de Brumadinho, na Grande BH, ainda pode provocar surtos de doenças infecciosas como dengue, febre amarela e esquistossomose. O alerta é da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio de estudo realizado no município após o rompimento da barragem da Mina do Feijão, há 13 dias.

Até o momento, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), não houve registro de enfermidade atípica, mas já são monitorados pelo órgão os males cuja transmissão acontece pela água e pelos alimentos. Houve quatro casos de diarreia notificados na região afetada pelo desastre, apesar de nenhum ter evoluído para estágios mais graves. 

De acordo com a Fiocruz, o risco de surtos tem relação com condições pré-existentes na cidade. Em Brumadinho há três doenças das citadas no levantamento. A partir da tragédia, a expectativa é de aumento no número de pessoas infectadas.

A principal hipótese é de que, com a interrupção ou redução do abastecimento, a população comece a armazenar água de forma inapropriada e, assim, crie um ambiente favorável para a proliferação de mosquitos vetores, no caso da dengue e da febre amarela. 

Em relação à esquistossomose, transmitida por caramujos, o desequilíbrio do ecossistema causado pela chegada da lama à bacia do Paraopeba pode promover uma proliferação desses vetores, potencializando o perigo de contaminação da população.

O problema se agrava, de acordo com o estudo da Fiocruz, se for levado em conta que grande parte de Brumadinho e municípios ao longo do rio “não são cobertos por sistemas de coleta e tratamento de esgotos”.

Reincidência

Membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) da Fiocruz, Mariano Andrade da Silva destaca que o rompimento da barragem na Grande BH é semelhante à tragédia de Mariana, ocorrida há pouco mais de três anos, após o colapso da estrutura de Fundão. “Naquele caso, os moradores de Barra Longa não tinham nenhum caso registrado de dengue antes de 2015 e, depois, tiveram 3 mil”, explica o pesquisador. 

O cuidado diário com a higiene também é essencial para evitar contaminações, afirma a coordenadora do curso de enfermagem das Faculdades Promove, Débora Gomes Pinto. “A população precisa lavar bem todos os alimentos, sobretudo frutas e verduras”, afirma. “Evitar andar descalço é importante, principalmente para as crianças, uma vez que a esquistossomose é transmitida pelo contato com o caramujo”, acrescenta a docente. 

Por nota, a Vale informou que atua junto com os órgãos de saúde e disponibiliza “fumacês” para conter a proliferação de vetores que transmitem doenças como dengue e febre amarela. 

Já a Fundação Renova, criada para coordenar as ações de reparação de danos em Mariana, disse monitorar os indicadores de saúde dos municípios atingidos pelo rompimento de Fundão, “a fim de identificar possíveis alterações no perfil de morbidade e mortalidade”.

Ao todo, 1.090 domicílios foram afetados pelo rompimento da barragem da Mina do Feijão, no dia 25, impactando diretamente 3.485 pessoas

Biodiversidade

O levantamento da Fiocruz também aponta impactos profundos no rio Paraopeba. De acordo com o documento, a degradação vai “produzir alterações significativas na fauna, flora e qualidade da água, como perda de biodiversidade, mortandade de peixes e répteis, inviabilização de sistemas de abastecimento de água e migração de espécies animais”.

Diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Marília Melo explica que a situação de toda a bacia ainda está indefinida, mas a turbidez da água – referencial técnico para medir os impactos dos rejeitos no rio – está acima do limite em pelo menos 42 quilômetros do curso d’água.

“Percebemos também que a lama contém metais como ferro, manganês e alumínio”, relata Marília. “Esses materiais tendem a se sedimentar no fundo do rio e só depois de análises de laboratório vai ser possível definir medidas de controle”, explica.

As cidades de Caetanópolis, Paraopeba e Pará de Minas, todas na região Centro-Oeste, têm sistemas de abastecimento que usam água do rio Paraopeba e estão sendo diretamente afetadas. Além disso, comunidades ribeirinhas e tribos indígenas fazem uso do rio para pesca e irrigação.

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