Coronel Waldir Figueiredo

Chuva: ‘risco atinge não só as áreas de encosta, mas também as nobres’, afirma chefe da Defesa Civil

Subsecretário fala sobre ações para enfrentar o período crítico em BH

Pedro Melo
pmelo@hojeemdia.com.br
09/10/2023 às 07:00.
Atualizado em 09/10/2023 às 07:08
“Nós temos áreas de alto poder aquisitivo na cidade que também sofreram com desabamentos e inundações", alerta o coronel Waldir Figueiredo (Maurício Vieira)

“Nós temos áreas de alto poder aquisitivo na cidade que também sofreram com desabamentos e inundações", alerta o coronel Waldir Figueiredo (Maurício Vieira)

A temporada de chuva preocupa as autoridades e assombra a população de Belo Horizonte, cidade que convive há décadas com inundações e áreas com risco de deslizamentos de terra. O perigo, no entanto, não está restrito às regiões de encosta, ocupações e vilas. Áreas nobres da capital também podem ser impactadas pelos temporais, o que reforça a urgência por medidas de proteção. O alerta é da Defesa Civil. 

“Nós temos áreas de alto poder aquisitivo na cidade que também sofreram com desabamentos e inundações. Então é importante nós entendermos que todos devem estar preparados, devemos entender que o risco está presente em qualquer atividade humana e em qualquer lugar. Nós atuamos em toda a cidade”, afirma o subsecretário de Proteção e Defesa Civil de BH, coronel Waldir Figueiredo.

Em entrevista ao Hoje em Dia, ele garante que a metrópole está mais preparada para enfrentar esse período chuvoso. Figueiredo cita uma série de obras e investimentos em ações contra enchentes, além do aperfeiçoamento para levar informação em tempo real à população. Confira a entrevista.

A Defesa Civil tem monitorado diariamente os dados dos serviços de meteorologia. Quais são as previsões e como o órgão atua para este período chuvoso?
É bom nós entendermos que a meteorologia é uma ferramenta indispensável para as ações de proteção da Defesa Civil. As previsões meteorológicas de longo prazo, normalmente, têm pouca assertividade. Então, a Defesa Civil trabalha muito com as previsões de curto prazo. Ou seja, o acompanhamento das previsões, se possível, em tempo real na cidade. Mas as previsões que nós temos acompanhado para o período chuvoso estão restritas para os três próximos meses, e a tendência é chuvas dentro da média histórica, ou até abaixo.

Nesta semana, durante a apresentação do plano contra a chuva, a PBH informou que existem cerca de mil imóveis em áreas de risco na cidade. O número é praticamente o mesmo do ano passado, mesmo com balanços que apontam a retirada de famílias em 2023. Por que o número é praticamente o mesmo? Mais pessoas começaram a morar em áreas de risco?
Belo Horizonte é uma referência nacional porque tem um sistema municipal de proteção e Defesa Civil. Dentro desse sistema, participam todos os órgãos da prefeitura, e uma das ações preventivas mais importantes que nós temos é o investimento em obras de contenção de enchentes. Recentemente, o prefeito Fuad Noman anunciou investimentos que estão sendo feitos na contenção de encostas. Ao todo, serão quase 200 obras nas áreas de risco geológico, além de obras de detenção. Ou seja, são intervenções preventivas, estruturais, que vão tornar a cidade mais resiliente para o período chuvoso. É bom dizer que esse trabalho não se inicia nesse ano, é um trabalho de anos de projeto, de execução de designação de recursos. Então o que nós percebemos nesse ano é que Belo Horizonte deverá estar mais bem preparada, mais resiliente do que foi o ano passado. A expectativa nossa é que essas obras feitas pela prefeitura contribuem de várias formas para que nós não tenhamos registros de inundações como nós costumeiramente vemos na cidade.

Mas e as famílias que moram em locais considerados de risco...
Sobre a permanência de pessoas em áreas de risco, a gente entende que tem um ciclo. Muitas vezes a prefeitura retira essas pessoas, mas outras acabam ocupando. Então é um trabalho contínuo, permanente, que é feito pela Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) e pelas outras estruturas de acolhimento.

Dificilmente, nós vamos conseguir zerar a quantidade de pessoas em áreas de risco. Então, nosso objetivo é eliminar principalmente aqueles locais que de alto risco para que não tenhamos pessoas perdendo as vidas, sendo machucadas por conta de fenômenos climáticos que podem ser prevenidos. O objetivo nosso é atuar na prevenção.

Durante muitos anos, a área de risco de maior preocupação era a rua Sustenido, no bairro Novo São Lucas. Lá ainda é o local que mais preocupa? O senhor poderia citar outros pontos de maior preocupação para o risco de deslizamentos?
Nós temos algumas áreas na cidade que são ocupações, e que muitas vezes elas oferecem algum tipo de risco, mas é importante dizer que não é só a rua Sustenido, que é um local que nós já temos um mapeamento, e que rotineiramente são feitas retiradas pessoas em situação de alto risco. No ano passado, foram mais de 80 pessoas retiradas daquelas áreas do Novo São Lucas. O importante é nós entendermos que o risco está espalhado em várias áreas da cidade, e às vezes até em áreas onde temos lotes legalizados com proprietários. É importante que todos entendam que o risco em Belo Horizonte atinge não só as áreas de encosta, ocupações e vilas, mas também áreas nobres que estão sujeitas a riscos geológicos, a riscos de inundação. Nós temos áreas de alto poder aquisitivo na cidade que também sofreram com desabamentos e inundações. Então é importante nós entendermos que todos devem estar preparados, devemos entender que o risco está presente em qualquer atividade humana e em qualquer lugar. Nós atuamos em toda a cidade.

O senhor poderia nos dar exemplos desses outros locais?
Nós temos alguns locais que são monitorados. Eu não citaria até mesmo para evitar qualquer tipo de constrangimento e algum tipo de especulação. Mas é importante nós entendermos que todas as áreas da cidade merecem atenção, merecem ser monitoradas, e esse trabalho é feito de maneira bastante criteriosa e leva em consideração o monitoramento das ameaças que nós temos, relativas a fenômenos climáticos. Essa atenção deve ser dada a todas as áreas da cidade, todos nós estamos sujeitos a ocorrência de fenômenos climáticos, e as chuvas podem cair de forma abrupta e ser concentrada em determinadas áreas.

Mas muitas pessoas ainda moram próximas a encostas, suscetíveis a desmoronamentos. O que pode ser feito para proteger essas pessoas? Existe alguma medida de retirada?
Ninguém ocupa uma área de risco porque quer. Muitas vezes as pessoas não têm um local mais seguro ou por não terem recursos para investimento, mas é importante entendermos que a vida é o bem maior que nós temos. Então a ocupação em áreas de risco na cidade não é algo recente, o processo de ocupação de encostas vem da própria história da evolução da cidade. O poder público procura fazer aquilo que é da sua responsabilidade com relação às obras de infraestrutura.

Instaladas em 2009, ainda no governo Marcio Lacerda, as placas que indicam áreas sujeitas a alagamentos em BH chegaram a ser criticadas. Como o senhor avalia a medida quase 15 anos depois?
Elas obedecem orientações da própria ONU. Têm um motivo muito básico: as pessoas têm o direito de ter informações. Existem muitas pessoas que transitam pela cidade, mas não moram na cidade. Eu sei que muitas vezes as pessoas se incomodam com essa sinalização e às vezes até pensam que isso desvaloriza o imóvel. Mas eu acho que esse é um sentimento egoísta, pois a vida das pessoas que transitam pela cidade, o direito a essa informação, eu entendo que ele é sagrado e temos o dever e a obrigação de comunicar a população.

Outra alternativa de prevenção, mais recente, é a possibilidade de receber avisos pelo WhatsApp. Como esse serviço vai funcionar?
Já temos na nossa estrutura a possibilidade de emitir alertas públicos na plataforma nacional, ou seja, as empresas de telefonia, as empresas de televisão, elas são obrigadas por lei. Mas agora estamos implementando a emissão de alertas através do WhatsApp, que é uma parceria inédita.

Nós já estamos em todas as redes sociais, e esse novo esforço reflete uma orientação internacional para que as pessoas estejam informadas sobre os perigos.

O que o usuário precisa fazer para ter acesso a esse novo suporte?
Essa mensagem pelo Whatsapp é emitida através da diretoria de meteorologia de BH na plataforma nacional da Defesa Civil, mas ela só chega às pessoas cadastradas em Belo Horizonte. Para se cadastrar é só você criar um contato com o código 61 e o número 2034 4611. Quando nós temos uma situação de risco aqui em Belo Horizonte, a nossa diretoria de meteorologia daqui de BH entra na plataforma nacional de alertas públicos e manda um alerta que cai justamente na rede do app de todos os cidadãos que estão na rede de BH cadastrados. 

Mas o fato de o prefixo ser 61, de Brasília, causa um pouco de estranheza à população. Qual o motivo?
É 61 porque faz parte da plataforma nacional, que é de Brasília. É uma forma dos núcleos de Defesa Civil regionais de cada estado concentrarem todas as informações de condições climáticas e possíveis fenômenos em um só lugar. Apesar de ser de Brasília, quando nós, aqui da Defesa Civil de Minas, encaminhamos um alerta para Brasília, ele é encaminhado para as pessoas de Minas ou que estejam aqui no Estado. Por conta dessa participação na plataforma nacional, a partir de agora, se você estiver no Maranhão e houver algum alerta de risco emitido por alguma Defesa Civil do Maranhão, você vai receber no seu WhatsApp, mesmo você sendo de outra cidade, porque o aplicativo consegue fazer a identificação de que você está naquela região.

Isso é participação comunitária na proteção. Isso é uma informação de graça e que todos nós podemos receber e que pode salvar vidas. Isso é estratégia nacional de redução de riscos de desastres.

Atualmente, a população recebe alerta de forma geral da cidade. A Defesa Civil trabalha em algum projeto para tentar aperfeiçoar o serviço do WhatsApp e deixar mais específico para alertar de forma direta a um morador da Vilarinho de que o local pode ter uma inundação?
Nós temos algumas ações aqui de forma mais particularizada. É muito difícil você fazer um alerta e ter precisão absoluta para dizer que horas aquela chuva vai cair, e qual região vai ser afetada. Então não é uma tarefa muito simples fazer isso pelo WhatsApp. Mas durante o monitoramento do que acontece na cidade, em alguns casos, principalmente nos níveis de alerta de chuvas que nós temos na cidade, nós conseguimos emitir alertas específicos para aquelas pessoas, seja pela imprensa, pelas redes sociais, de locais que estão sob risco de alagamentos. E isso é muito importante para pessoas que estão se dirigindo para determinadas regiões da cidade, tenham cautela em relação às chuvas que estão ocorrendo naquela região.

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