Chuvas enchem reservatórios e reacendem turismo, mas situação ainda preocupa

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
16/01/2017 às 08:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:26

Mesmo com casos de alagamentos e deslizamentos de terra em diferentes partes do Estado desde novembro do ano passado, as chuvas volumosas trazem benefícios ao Estado sob diferentes ângulos socioeco-nômicos e ambientais.

O ponto mais positivo e evidente das chuvas é o aumento do volume de água de vários reservatórios, especialmente do sistema Paraopeba, que abastece 55% dos domicílios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). O reservatório está com 60,8% da capacidade – um valor que não alcançava desde junho de 2014.

De acordo com a presidente da Copasa, Sinara Meireles, o aumento no volume dos três reservatórios que formam o sistema Paraopeba aconteceu por dois motivos: as chuvas intensas dos meses de novembro e dezembro e a captação de água diretamente do rio Paraopeba, permitindo que houvesse uma demanda menor pelo uso dos reservatórios.

Com o aumento do volume represado, a população pode ficar tranquila: não há possibilidade de algum tipo de racionamento de água em 2017, diz ela. Mas falta muito para se alcançar o ideal.

“Antes da seca dos anos anteriores, no fim do ano era comum que o sistema Paraopeba tivesse volumes acumulados próximos a 89% da capacidade. Em 2014, caiu para 33% e agora está com 60%. Melhorou, mas está longe do volume que tínhamos anteriormente”, afirma.

Em Belo Horizonte, choveu 103 mm até a última sexta-feira (13), o equivalente a 45% do volume previsto para todo o mês de janeiro, segundo o serviço de Meteorologia PUC Minas Tempo Clima. 

Furnas
Uma das represas mais importantes do país, o Lago de Furnas, chamado de “Mar de Minas”, voltou a ser um cartão-postal. Enquanto em 2014 o volume do lago estava com 22% da capacidade, agora está com 44,4%. Com a estiagem de 2013 a 2015, o volume de água do lago caiu vertiginosamente, afetando não somente a geração de energia da hidrelétrica, como também o turismo e a agricultura da região.

A seca trouxe ainda uma baixa na arrecadação dos municípios banhados pela represa. Cada cidade recebe royalties da Usina Hidrelétrica de Furnas, mas esses valores estão diretamente relacionados ao volume do lago. Os repasses variam de acordo com a extensão da margem de cada município. “No período da seca, os municípios passaram a receber, em média, um quarto do que recebiam de royalties. Com o aumento do volume do lago, a nossa arrecadação já aumentou 50% em relação ao ano passado”, explica Marcos Memento, prefeito de Nepomuceno e presidente da Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago).

Segundo ele, após um período ruim para o turismo da região, agora há um sentimento de otimismo para os comerciantes que possuem restaurantes e pousadas. “Há uma expectativa muito boa para este mês de janeiro”.

Represas cheias são importantes para melhor irrigação na agricultura
Um setor bastante beneficiado pelas chuvas que caíram na Primavera é a agricultura. De acordo com o agrônomo Fúlvio Simão, coordenador do Programa de Pesquisa Estadual de Meio Ambiente da Epamig, além da chuva beneficiar diretamente as plantações – pois a água é fundamental para o desenvolvimento de plantas e árvores –, ela também favorece o aumento do volume dos reservatórios que são usados para a irrigação ao longo do ano. “Com a crise do ano passado, houve produtores do Norte de Minas que, mesmo com a outorga para o uso da água, tiveram que fazer um acordo para usar 70% do que poderiam”, afirma. “Essa chuva contribui para um setor que gera renda, empregos e alimentos para a sociedade”.

Produção de tilápia em lagos volta a ser um negócio lucrativo
A produção de carne e leite também depende de boas chuvas, pois em Minas Gerais boa parte do gado se alimenta no pasto. Além da pecuária, a piscicultura depende profundamente de boas reservas de água. Muitos dos principais reservatórios e represas do Estado contam com a produção de tilápias, um peixe que tem se tornado cada vez mais popular na alimentação dos mineiros. No período de seca, alguns produtores tiveram perdas e, agora, o negócio volta a ser atraente. “Na represa de Três Marias, o volume de água chegou a 5% da capacidade e houve um mortandade grande de peixes e todos os produtores tiveram que migrar a produção para o leito dos rios”, afirma a pesquisadora Elizabeth Lomelino, responsável pela área de piscicultura da Epamig. “A cadeia produtiva já está implantada em quase todos os grandes reservatórios mineiros. Mas ainda é preciso haver uma política de governo sobre a gestão do fluxo de água nos reservatórios. Se não tivermos isso, não há como implantar grandes projetos”, completa. 

A vegetação está mais rica e os mananciais mais preservados
O meio ambiente também agradece. As reservas ecológicas e os parques ganham muito com a chuva intensa. A vegetação fica mais exuberante, os animais são mais estimulados a se reproduzirem, o processo de floração acontece em maior volume. O gerente do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, Marcus Vinícius de Freitas, destaca que as chuvas são importantíssimas para dar fim aos focos de incêndio – somente em 2016 foram 80 focos na unidade de conservação – e para a manutenção dos mananciais de água que estão presentes frequentemente nas reservas florestais. “Após quatro anos de déficit hídrico muito grande, aconteceu um estresse imenso na vegetação do parque e uma mudança no microclima da região. Agora que temos um período mais chuvoso, a vegetação está mais exuberante, e o clima, mais ameno”.

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