Ciclistas protestam contra paralisação das obras de ciclovia na avenida Afonso Pena, em BH
Manifestação foi convocada pelos coletivos de ciclistas após Tribunal de Justiça publicar prazo para manifestação das partes antes da sentença final
Dezenas de ciclistas BH foram às ruas nesta quinta-feira (5) em apoio à construção da ciclovia na avenida Afonso Pena, paralisada desde abril do ano passado pela Justiça após questionamentos do Ministério Público. O ato teve início na Praça da Rodoviária, no Centro, e os manifestantes fizeram, de bicicleta, o percurso que a ciclovia pretende abranger, até a Praça da Bandeira, no Mangabeiras, região Centro-sul da capital.
O protesto foi convocado pelos coletivos de ciclistas após o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) dar um prazo para as partes envolvidas no processo se manifestarem, antes da sentença final.
Cicloativista e editor do projeto Ciclo Rota BH, projeto que estuda e divulga o ciclismo em Belo Horizonte, Cristiano Scarpelli explica que uma das medidas tomadas pelos grupos de ciclistas da capital foi, desde já, protocolar um pedido para que o Conselho Municipal de Política Urbana (Compur) paute o licenciamento urbanístico exigido pelo Ministério Público.
Cristiano participou do GT Pedala, grupo criado em 2012 para promover o diálogo entre o poder público e cidadãos interessados em fomentar o uso da bicicleta na cidade como meio de transporte. Ele apresentou contrapontos que tem levado ciclistas a se mobilizar a favor da retomada das obras da ciclovia.
“Em 2019, a empresa de engenharia Fratar foi contratada para fazer contagem veicular na avenida e estudo de impacto das obras. Conforme o estudo da Fratar, o fluxo de veículos no pequeno trecho que a ciclovia suprime faixa poderia triplicar que ainda assim as duas faixas restantes atenderiam a contento à demanda. Em 2024 e 2025, eu gravei mais de 368h de vídeo no alto da Afonso Pena e constatei que nunca ocorre congestionamento no local em que dizem que a ciclovia atrapalhou o trânsito”, explicou Scarpelli.
Benefícios da ciclovia
Com o ato, os ciclistas pretendem chamar a atenção para o apoio à obra, apresentando contrapontos às questões levantadas pelo MP e, também, ressaltando benefícios que, segundo eles, a ciclovia da avenida Afonso Pena traria.
Uma das questões que impediria a construção da ciclovia, na avaliação do MP, seria a preocupação com a segurança no trânsito, o que Cristiano rebate.
“Em subidas, a falta de ciclovia deixa tudo mais perigoso, pois o ciclista vai estar mais devagar, o que suscita comportamentos agressivos por parte dos motoristas. As estatísticas corroboram esse raciocínio. Dados do Infosiga de SP apontam que somente 1% dos acidentes de trânsito com bicicletas decorrem de quedas, sendo quase todo o resto decorrente de colisão com motorizados. Perceba que o MP está preocupado com esses 1%, pois alega que uma ciclovia na descida vai resultar em quedas e esquece do problema maior, sendo que as quedas também não deixam de existir sem a ciclovia“, argumenta.
Perigos para os ciclistas em BH
Em abril de 2024, pouco tempo depois da pausa das obras, o ciclista e artista Fabrício Bruno da Cruz, de 38 anos, morreu após ser atropelado por um ônibus no Centro de BH. O caso mobilizou ainda mais quem reivindica uma cidade segura para os ciclistas.
“Perdas humanas são sempre muito dolorosas, especialmente quando sabemos que podem ser evitadas de maneira simples e barata. Eu já perdi alguns amigos por atropelamentos e é triste ver que a sociedade ainda encare essas mortes como acidentes ou fatalidades. Não são”, pontua Cristiano.
“Essas mortes podem ser evitadas construindo mais ciclovias. Para você ter uma ideia da distorção de valores, a ciclovia da Afonso Pena retira menos de 1,6% de espaço dos carros, tem potencial para atender até 3 mil viagens de bicicleta por dia e tem o propósito de salvar vidas“.
O que diz a Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informa que as obras estão suspensas, liminarmente, por decisão judicial e que a ação que gerou a suspensão está aguardando sentença de mérito. O Hoje em Dia também entrou em contato com o MPMG e irá atualizar esta matéria caso receba o posicionamento.
Leia mais