
A recém-reformada praça Marília de Dirceu, em Lourdes, nem de longe lembrava um dos lugares mais lindos e refinados de Belo Horizonte nesta quarta-feira (29). Pavimento revirado, carros jogados contra postes, sacos de lixo e muita lama compuseram o cenário de destruição deixado pela enchente da noite de terça (28).
Quando abriu uma cafeteria e confeitaria no endereço nobre há nove dias, Vítor Martins não podia imaginar que passaria por um susto tão grande. A água entrou até mesmo em seu estabelecimento, que está um metro acima do nível da calçada.
“Na hora em que estávamos fechando a loja, vimos a água subindo e ameaçando arrastar os carros. Até tentei tirar o carro da rua, mas a água subiu muito rapidamente e tive que sair correndo do veículo”, afirmou. “Os carros eram arrastados com facilidade, pareciam barcos”.
Por sorte, a cafeteria tem dois andares e foi possível levar os móveis novinhos para o segundo pavimento. “Subimos todo nosso mobiliário. Depois fui ajudar os vizinhos com a limpeza. Eles perderam muito”, disse.
Limpeza
Quem circulou pela Marília de Dirceu e pelas ruas São Paulo e Bárbara Heliodora viu trabalho de limpeza em praticamente todos imóveis. Em lojas, funcionários usavam rodos e vassouras para retirar a lama, enquanto nos edifícios residenciais o trabalho era de limpeza em garagens e Halls de entrada. Em um residencial da rua São Paulo, foi necessário contratar uma empresa especializada em drenagem para retirar a água que cobriu veículos.
Também estavam na praça várias máquinas e caminhões da prefeitura, que serão usadas na limpeza de entulhos e lixo.
O jornalista Tiago Nagib participava de um curso de vinhos na praça Marília de Dirceu quando a enxurrada desceu pela via. Ele chegou a tirar o carro da rua e colocá-lo sobre o passeio, mas não foi suficiente para evitar que o veículo fosse arrastado.
Doze horas depois do grande susto, ele e sua mãe estavam no local da enchente tentando saber o que era preciso fazer sobre o veículo. “Se aqui, que é um dos lugares mais ricos da cidade ficou assim, imagine em outras regiões. É preciso que o governo federal invista mais em prevenção”, afirmou.
O empresário José Lourenço, que mora em Lourdes desde a infância, disse que nunca presenciou tamanha destruição na região. “Tenho 55 anos e nunca tinha visto algo tão assustador. Minha família ficou apreensiva quando vimos a enxurrada. O medo era que alguém fosse arrastado”, relatou.
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Vários carros foram arrastados na Marília de Dirceu