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Quinta-Feira,25 de Abril

Compostos para garantir a alimentação por sonda em pacientes estão em falta em BH

Simon Nascimento
05/07/2019 às 20:12.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:25

(LUCAS PRATES)

Usuários da rede pública de saúde de Belo Horizonte incapazes de se alimentar adequadamente por via oral enfrentam um drama. Dois dos três compostos de nutrição enteral – suplemento administrado por sonda – estão com estoques zerados há pelo menos três meses. Sem os produtos distribuídos gratuitamente, muitas famílias são obrigadas a gastar até R$ 1 mil por mês para garantir a dieta do paciente.

A dificuldade é ainda maior para crianças com microcefalia ou paralisia cerebral. Sem condições financeiras para comprar o produto, algumas mães lançam mão de alternativas caseiras, como processar a comida em um liquidificador, coar e dar aos filhos. A medida, no entanto, pode favorecer o risco de infecções e, a longo prazo, comprometer o desenvolvimento.

O Hoje em Dia fez contato com cinco postos de saúde de diferentes regionais e constatou a escassez. “Recebemos um comunicado institucional. Informava que é um problema com licitação e não havia data para resolver”, disse uma funcionária.

A dona de casa Andrea Ferreira, de 35 anos, vive o drama desde abril. O filho Isac, de 2, foi diagnosticado com microcefalia e a alimentação é feita, exclusivamente, por sonda. Desempregada, ela recebe um salário mínimo por meio do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O marido dela é porteiro e a renda da família é de cerca de R$ 2 mil.

Cada lata da dieta que o menino precisa custa R$ 60. Por mês, são necessárias 20 embalagens. “Estou vivendo de doação. A nutricionista dele disse que poderia usar o leite de soja misturado com vitamina e aveia. Faço isso e monitoro para ver se não dá diarreia”, conta. Andrea também diz que faltam sondas na rede SUS-BH.

Rifas

Já a engenheira mecânica Edna Paula Nascimento, de 40 anos, tem conseguido comprar o composto que a filha Mônica, de 3, precisa nas refeições. A criança recebe, a cada duas horas, 100 mililitros (ml). São 20 latas por mês, a R$ 50 cada. A mãe organiza rifas para ajudar na despesa.

Desde abril, Edna não tem retorno sobre quando a situação será normalizada. “Essa dieta contém todos os nutrientes para garantir uma alimentação saudável. Antes, ela pesava seis quilos, com 1 ano. Com o nutriente, ganhou cinco quilos”. Segundo a engenheira, a situação é corriqueira. “Ano passado aconteceu o mesmo. Fiquei quatro meses sem receber”.

Professora nos cursos de nutrição e enfermagem das Faculdades Kennedy, Ana Carolina Barbosa Duarte explica que, a curto prazo, a falta do insumo não provoca danos à saúde, desde que preparada de forma balanceada e com alimentos apropriados para a alimentação saudável. Entretanto, problemas podem surgir caso a situação se prolongue. “Compromete completamente o desenvolvimento e o aprendizado da criança. Ela não vai ter os nutrientes necessários e esse desenvolvimento não se recupera”. 

Outro fator de risco é a produção caseira. “O manejo do alimento deve ser feito com muito cuidado. Além da limpeza das mãos, o liquidificador e as facas precisam estar devidamente higienizados”, alerta.

Licitação

As fórmulas alimentares industrializadas são adquiridas anualmente pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), por meio de licitação. Atualmente, 1.390 solicitações são atendidas. A maioria é formada por idosos, conforme informou a pasta, em nota.

O órgão disse que o estoque do tipo em pó está regular. Já as versões “enteral líquida” e “enteral pediátrica” estão com o processo de compra finalizado, “aguardando a assinatura do contrato por parte das empresas”. A previsão é a de que a regularização aconteça neste mês. A data exata não foi divulgada. “Até esse prazo, a família pode procurar o centro de saúde para avaliar se é possível a substituição”.

A SMSA reforçou que fornece, de forma alternativa, a sonda “Nasoentérica”. “Este insumo é utilizado na administração de dietas enterais e está com estoque regular na rede SUS-BH”. A distribuição segue um protocolo. O fluxo abrange avaliação do usuário por profissionais dos centros de saúde. Quando há a liberação, o produto é retirado mensalmente, em local específico. A pessoa é acompanhada e reavaliada periodicamente para a manutenção da dieta.

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