estudo da usp

Crianças recuperadas da síndrome rara ligada à Covid podem apresentar sequelas cardíacas

Luiz Augusto Barros
@luizaugbarros
Publicado em 16/02/2022 às 06:00.
Estudo do Hospital das Clínicas mostra que os pacientes podem desenvolver problemas cardiovasculares na fase adulta (Pressfoto/Freepik)

Estudo do Hospital das Clínicas mostra que os pacientes podem desenvolver problemas cardiovasculares na fase adulta (Pressfoto/Freepik)

Crianças recuperadas da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), uma condição rara ligada à Covid, podem apresentar sequelas cardíacas seis meses após saírem das UTIs e até desenvolver problemas cardiovasculares a longo prazo, revelou um estudo do Instituto da Criança e do Adolescente, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Em Minas, o número de casos da SIM-P cresceu 176,5% em um ano.

A síndrome é uma reação inflamatória exacerbada, potencialmente grave, que acomete os jovens semanas após a infecção pelo vírus. No território mineiro, o segundo que mais notifica casos da SIM-P no país, são 177 ocorrências, conforme a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Três evoluíram para óbito.

Durante a primeira onda do coronavírus, em 2020, uma pesquisa avaliou o ecocardiograma de 48 pacientes internados com a forma grave da doença no estado paulista. Desses, 20 foram diagnosticados com a síndrome. Segundo a médica Gabriela Leal, as crianças com SIM-P tiveram mais problemas no coração e ficaram mais tempo hospitalizadas. “Acabavam tendo uma evolução mais arrastada, mais problemática do que aquelas que não desenvolviam”. 

Em seguida, foi realizada uma análise das autópsias dos pequenos que morreram pela enfermidade. “Encontramos inflamação no músculo cardíaco, na parede dos vasos que irrigam o coração e pequenos trombos dentro desses vasos”, explicou.

O próximo passo foi acompanhar os meninos e meninas que se recuperaram da síndrome. Após seis meses da alta hospitalar, foram identificadas alterações no fluxo dos vasos que nutrem o músculo cardíaco. Os pacientes, no entanto, não apresentavam mais nenhum sintoma de Covid.

De acordo com a pesquisadora, essas crianças precisam ser monitoradas para avaliar se as alterações irão desaparecer ao longo do crescimento. “Caso permaneçam, existe a possibilidade de que tenham um risco cardiovascular maior quando forem adultas, principalmente se somarmos a outros fatores, como tabagismo, ganho de peso e alteração do colesterol”, avaliou.

No Brasil, segundo Gabriela Leal, a taxa de mortalidade da SIM-P gira em torno de 6%, valor considerado alto em comparação a outros países, como os Estados Unidos. “A melhor forma de evitar que aconteça é restringindo a circulação do vírus entre as crianças, mantendo a higienização das mãos, usando máscara e, principalmente, vacinando”.

Cardiologista pediátrica e coordenadora da equipe de ecocardiografia da Unimed-BH, Patrícia Ramalho Fonseca Cruvinel reforça que os pais devem ficar atentos a sintomas como febre muito alta, náuseas, vômito e diarreia, além de manchas na pele, olhos avermelhados, língua e lábios feridos, alterações nas pontas dos dedos e inchaço nas plantas do pés. 

“Este quadro está acontecendo em crianças que não têm qualquer problema de saúde. É muito assustador”, disse a especialista. 

Em nota, a SES afirmou que o acompanhamento médico dos pacientes é realizado pela rede de saúde municipal e que nem todos precisam de alguma assistência após a alta hospitalar. “Com aumento do número de casos de Covid-19, redobra-se a atenção, de forma geral, pois após 2 a 4 semanas os casos de SIM-P surgem”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por