Denúncia da aparição de Momo em vídeos infantis assusta pais; assista a um trecho

Cinthya Oliveira
Publicado em 18/03/2019 às 14:51.Atualizado em 05/09/2021 às 17:51.
 (Reprodução)
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O medo causado pela Momo, imagem demoníaca e de olhos esbugalhados que viralizou no ano passado, está de volta. Circula no WhatsApp a denúncia de que um vídeo com a imagem da boneca-monstro estaria sendo veiculado no meio de publicações do Youtube Kids, plataforma do Google que se propõe a filtrar conteúdos seguros para o público infantil. Nos vídeos que teriam inserções da Momo, a boneca ensinaria crianças a cortarem os pulsos.

Uma mãe de Campinas relatou no Facebook que a filha teve contato com um vídeo da Momo enquanto assistia a vídeos de slime no YouTube Kids. Segundo ela, a descoberta de que a filha havia visto o conteúdo aconteceu no momento em que fazia o alerta à menina, de 8 anos, sobre a existência da boneca assustadora. “Soube que a Bia estava com medo há tempos após nossa conversa (sobre a Momo)”, publicou a professora Juliana Tedeschi Hodar.

O Youtube chegou a ser cobrado publicamente pela celebridade americana Kim Kardashian, que postou um alerta reproduzindo no Stories a denúncia de um terceiro sobre inserções da Momo em vídeos infantis na plataforma YouTube Kids. Veja o conteúdo compartilhado pela digital influenciar:

kim kardashian momo

Kim Kardashian reproduziu a postagem com um pedido de pronunciamento do Youtube

Por meio de sua conta no Twitter, a plataforma de vídeo informou que não conseguiu identificar qualquer vídeo com imagem da Momo no Youtube Kids:

Hoje em Dia teve acesso um dos vídeos com a aparição da boneca-monstro. Nas imagens, a Momo convida o espectador a buscar objetos cortantes em casa.

Toda a fala acontece em inglês. "Vocês fizeram tudo que a Momo disse da última vez e agora preciso de outro favor. Dessa vez é fácil, crianças: peguem os objetos mais cortantes ... , diz a Momo no início do vídeo, para depois dar orientações perturbadoras de como cortar os pulsos. Assista a um trecho:

O assunto cresceu de tal forma que o Ministério Público do Estado da Bahia, por meio do Núcleo de Combate a Crimes Cibernéticos (Nucciber), instaurou procedimento para apurar os fatos relacionados a vídeos possivelmente disponibilizados em plataformas de vídeos e compartilhados em redes sociais com a Momo. Foram enviadas notificações ao Google e ao WhatsApp, por meio das empresas sediadas no Brasil, para remoção do conteúdo. O Google informou, por meio de nota, que não recebeu nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou promovendo o desafio Momo no YouTube Kids, e que esse tipo de conteúdo seria removido imediatamente.

Muitos pais se manifestaram sobre o assunto nas redes sociais após a denúncia sobre o vídeo da Momo ganhar os grupos de WhatsApp. Um dos mais emblemáticos foi do perfil Mamas Sanas, da digital influencer Roberta Ferec. O texto alerta que a Momo não deve ser o maior medo dos pais, porque, na verdade, o Youtube esconde muitos outros perigos. "Centralizar a nossa preocupação em boatos acaba por nos distrair dos verdadeiros riscos presentes no Youtube. Redes de Pedofilia. Pornografia. Violência. Consumismo", escreveu o perfil.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Momo é uma lenda urbana originada em 2018. Como toda lenda urbana da era digital ela viralizou em megabits por segundo, e se perpetuou através da mídia e milhōes de compartilhamentos. O Centro de Segurança na Internet do Reino Unido logo soltou um Comunicado chamando a tal da Momo de fake news. A Samaritans, ONG que atua na prevenção do Suicídio, se manifestou no sentido de que é a perpetuação da lenda urbana e não a lenda urbana em si que acaba criando riscos para pessoas vulneráveis. Dr Anne Longfield, especialista em segurança digital, fez um apelo aos pais: - Alertas bem intencionados a riscos inexistentes acabam por enfraquecer alertas a riscos reais. Olha. Ser mãe analógica já nunca foi fácil. Ser mãe na era digital, bombardeada com informaçōes de que troços assustadores interrompem a Peppa Pig e ameaçam as quiança tudo é de matar. Nossa preocupação é legítima. A Internet é mesmo uma festa estranha com gente esquisita. Além do que, como saber o que é lenda e o que é verdade? E apesar de ter começado como lenda urbana, é bem possível que agora, dada a repercussão que foi dada ao tema, a coisa caia nas mãos dos trolls e se torne uma ameaça verdadeira. Mas, vejam: centralizar a nossa preocupação em boatos acaba por nos distrair dos verdadeiros riscos presentes no youtube. Redes de Pedofilia. Pornografia. Violência. Consumismo. Ainda que a tetéia da Momo seja fake news, o youtube segue sendo essa plataforma que não dá conta de ser um lugar seguro ou aconselhável para crianças. Esse ano ficou claro, por exemplo, que o youtube não sabe lidar com a pedofilia e com os milhares de predadores sexuais que ali circulam livremente(*). Não tem controle dos algoritmos. E se você buscar desenhos da Elsa e do Homem Aranha estará a seis cliques de se deparar com uma suruba entre o super herói, a Elsa e a Ana. Mas voltando a Momo. Como bem disse Dr Glasbrook, especialista em Segurança Digital: - O verdadeiro perigo das lendas viralizadas é que os pais se distraiam com elas, em vez de focar em ensinar a crianças e adolescentes como navegar de modo seguro. Nesse sentido, em se tratando de youtube, a Momo parece ser o menor dos nossos problemas.

Uma publicação compartilhada por Mamas Sanas (@mamas.sanas) em

A Polícia Civil de Minas Gerais informou que não recebeu nenhuma denúncia formal referente ao Desafio Momo. Mesmo assim, tem feito monitoramento para verificar se realmente existe um vídeo no Youtube com tal característica.

Segundo o delegado Guilherme da Costa Oliveira, da Delegacia de Crimes Cibernéticos, os pais devem sempre monitorar o conteúdo visto pelos filhos na internet. “Deem preferência por plataformas de streaming que têm controle total sobre os dados que estão lá, como a Netflix. Ninguém consegue colocar um vídeo inadequado lá”, afirma.

Ele explica ainda que dificilmente um hacker conseguirá inserir o trecho de imagens da Momo dentro de um vídeo. “Teria que invadir o computador de onde veio o vídeo original”, explica. Caso a presença do vídeo da Momo no Youtube se mostre verídica, possivelmente é por meio de vídeos postados na plataforma com informações que burlem a segurança. “Você pode subir um vídeo dizendo que é da Peppa e ter dez minutos de desenho animado e 30 segundos de conteúdo inadequado no meio. O Youtube só vai saber se alguém fizer uma denúncia”.

Tudo começou com um jogo

O Desafio Momo virou assunto internacional no início de agosto do ano passado. O jogo do terror, como também é chamado na web, desafia as pessoas a se comunicarem com o perfil desconhecido, que envia fotos e vídeos violentos e quase sempre começa com +81, o DDD do Japão. Pode parecer bobo e sem sentido, mas quem conversa com um desconhecido nas redes sociais está sujeito a ser vítima de, pelo menos, quatro crimes: estelionato, fraude, extorsão e ameaça.

A orientação da Polícia Civil de Minas Gerais para o Desafio Momo é ignorar todos os perfis desconhecidos. Também é importante que os pais conversem com os filhos e mostrem que a Momo não é uma brincadeira e, sim, o início de um golpe.

(Colaborou Daniele Franco)

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