Depredação é cenário comum em todas as praças do hipercentro da capital

Simon Nascimento
23/08/2019 às 21:01.
Atualizado em 05/09/2021 às 20:08
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

Quase metade dos bancos instalados na Praça da Estação estão quebrados e sem condições de uso. Dos 22 assentos de madeira, dez foram danificados. O retrato de um dos principais pontos de eventos da capital comprova que a depredação é comum nos espaços de lazer do hipercentro de Belo Horizonte.

A ação de vândalos deixa um rastro de destruição em todas as praças da região mais movimentada da cidade. Além das cadeiras deterioradas, há pichações, sujeira e danos variados em monumentos, bebedouros e pisos. Drama social cada vez maior na cidade, a presença de moradores de rua também é constante. 

Nesta semana, a equipe de reportagem do Hoje em Dia esteve por duas vezes em cada um dos espaços de lazer. A constatação foi a mesma: estado de conservação precário. A situação é mais crítica na Praça da Estação. Lá, todas as pilastras com luminárias estão pichadas. “Precisa de mais cuidado”, resume a aposentada Lúcia Maria Guimarães, de 62 anos, que passava pelo local na sexta-feira.

e Afonso Arinos

Ao lado

Do outro lado da avenida dos Andradas, os problemas se repetem na praça Rui Barbosa, onde os rabiscos estão espalhados pelos equipamentos públicos e monumentos foram quebrados. Um bebedouro instalado em meio aos jardins, que passam por manutenção, está danificado.

Vendedor de balas, Diego Lopes, de 29 anos, disse que falta policiamento na região. “À noite, tenho receio de trabalhar aqui. É abandonado, tem muita gente usando droga”, diz. 

A menos de dois quilômetros, já na área hospitalar, mais falhas. Na Hugo Werneck, na avenida Alfredo Balena, a estátua que dá nome ao local está pichada. O piso está aos pedaços, devido às raízes de uma árvore de grande porte, em frente ao ponto final da linha SC04. “Quase todo dia um idoso tropeça e cai. Está perigoso”, disse uma mulher que vende pipoca.

Piso quebrado e escada danificada também podem ser vistos na Afonso Arinos e Rio Branco, que têm pichações por toda parte. Já no contorno das avenidas Amazonas, Augusto de Lima, Bias Fortes e Olegário Maciel a falta de zelo é com os jardins da Raul Soares.

A cuidadora de idosos Tereza Vieira, de 60 anos, passa por lá todos os dias ao ir para o trabalho. “Parece que não estão plantando mais. E a praça está cheia de morador de rua, tinham que tentar tirar eles daqui, dando uma moradia, um local para ficarem”, avalia. 

O cenário precário retira das praças o conceito de espaços de lazer e cultura. A afirmação é do arquiteto e urbanista Sérgio Myssior. Ele reforça a necessidade de recuperar as áreas e evitar novos danos. “Percebo um processo intenso de degradação, sem a manutenção devida, que vai comprometendo o uso pela população”, frisa. 

262 ocorrências de danos e pichações ao patrimônio público foram notificadas pela PBH, de janeiro a julho deste ano

Manutenção

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que enviará funcionários para verificar os problemas listados. Cerca de R$ 15 milhões foram investidos, desde 2017, para a conservação das praças da cidade. No caso específico dos jardins da Raul Soares, o Executivo disse que rosas plantadas foram furtadas, mas outras mudas serão colocadas.

Sobre os moradores de rua, a administração municipal garantiu que equipes do Serviço Especializado de Abordagem Social abordam os sem-teto dia e noite. O foco das ações é entender os motivos que levaram essas pessoas a iniciar essa trajetória e “construir, junto com cada cidadão, oportunidades de superação dessa condição”.

Estatísticas

Pelo menos um bem público é depredado a cada 24 horas em Belo Horizonte. Dados da prefeitura apontam que, de janeiro a julho deste ano, foram registradas 262 ocorrências de danos e pichações na metrópole. A região Centro-Sul lidera as estatísticas com 59 casos. 

Na tentativa de conter o vandalismo, a PBH aposta no patrulhamento da Guarda Municipal, com rondas diárias. Outra medida é o monitoramento em tempo real com 1.500 câmeras espalhadas, controladas pelo Centro de Operações (COP-BH). 

A Polícia Militar também garantiu que faz a patrulha rotineiramente, além de contar com a presença das bases móveis em praças como a Rio Branco, Hugo Werneck e Afonso Arinos. Denúncias podem ser feitas pelo telefone 190. 

Porém, para o professor de Arquitetura e Urbanismo das Faculdades Kennedy e Promove, José Maurício do Couto, uma ação punitiva não surtirá o efeito necessário sem campanhas educativas. “O caminho é trabalhar a conscientização, principalmente nas escolas, com o futuro da nossa geração”, afirma.

Para o docente, as pichações são manifestações que refletem um sentimento de revolta social. “Não existe respeito e preocupação em cuidar e dar valor aos elementos que embelezam o local em que você reside. Aos poucos, a cidade vai perdendo suas características”, acrescenta. 

Em nota, a prefeitura informou que não realiza campanhas específicas. “É importante ressaltar que a população precisa ajudar na conservação das praças, por exemplo, não jogando lixo e não depredando os equipamentos do espaço público”.

Colaborou Renato Fonseca

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