Dominicanos e haitianos: a busca dos imigrantes pelo "sonho brasileiro"

Alessandra Mendes - Hoje em Dia
29/04/2014 às 09:07.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:21
 (Frederico Haikal/Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

A lista dos estrangeiros que buscam no Brasil um porto seguro não é composta unicamente por indivíduos que estão fugindo de conflitos armados ou de perseguições de qualquer natureza. Há quem esteja atrás de oportunidades. Um desejo que motivou a viagem de quase cinco mil quilômetros de Dionicio Nillar, de 51 anos. O dominicano, conhecido como Blanco, é apenas um entre os vários caribenhos que apostam no “sonho brasileiro”.

“Estou em busca de uma vida melhor. Meu país não oferece o que encontro aqui no Brasil, emprego e valorização”, afirmou Blanco. Há um ano e cinco meses no país, ele aguarda a liberação do visto definitivo para providenciar a vinda dos três filhos que ficaram na República Dominicana. Enquanto espera a documentação, ele envia para os filhos cerca de R$1 mil todos os meses, o equivalente a 40 mil pesos dominicanos, suficientes para comprar um automóvel.

Juntamente com outros caribenhos, Blanco trabalha 14 horas por dia em uma distribuidora de laranjas em Contagem, na Grande BH. Apesar das agruras do trabalho, que envolve o transporte manual de caixas de 26 quilos, o dominicano diz não ter do que reclamar.
“Agora estou bem. Os dois primeiros meses aqui no Brasil, em um acampamento no Acre, foram muito difíceis. Faltava comida e trabalho. Nessa época cheguei a pensar em voltar para o meu país”, contou o dominicano.

Pensamento que nunca passou pela cabeça do colega de trabalho de Blanco, o haitiano Joseph Jocelet, de 39 anos. “A situação no meu país está muito ruim, principalmente depois do terremoto, em 2010. Não tem trabalho, educação e saúde. Quero trazer meus filhos e fazer minha vida aqui”, afirmou Joseph. Após um ano e dois meses em território brasileiro, ele conseguiu trazer a mulher, mas os filhos de 9, 6 e 4 anos continuam no Haiti.

Alto Custo

Para providenciar a vinda de Gerline, de 31 anos, Joseph teve que desembolsar cerca de R$ 7 mil. Quase todo o dinheiro que conseguiu juntar desde a chegada no Brasil. “Se não pagar, não consegue o visto. A espera é muito grande”, disse. Após o pagamento, os haitianos embarcam em uma viagem que passa pela República Dominicana, Equador e Peru, antes de chegar no Acre.

Apesar de transpor a barreira inicial, que é conseguir um emprego e providenciar o envio de dinheiro para os familiares, ainda há outros obstáculos pelo caminho. “Gostaria de estudar o português e outras coisas, para me qualificar, mas não tenho tempo”, disse Joseph, para quem não sobra tempo para lazer.

Além da língua, a cultura, principalmente no aspecto da culinária, ainda é um entrave. “Não gosto da comida daqui e sinto falta dos pratos do meu país. Não consigo me acostumar, mas como porque preciso de energia para o trabalho”, afirmou o dominicano Blanco. As dificuldades, entretanto, não superam o vislumbre de uma vida melhor que, aos poucos, parece se delinear em uma nova pátria.

Após a conquista, o desejo do regresso

Separados apenas por uma linha imaginária, dominicanos e haitianos dividem a mesma ilha na região do Caribe. Apesar da proximidade, preservam diferenças substanciais. Localizada nos dois terços orientais da ilha de São Domingos, a República Dominicana não passou por situação semelhante à vivida pela vizinha do lado ocidental.

Em 2010, o Haiti foi assolado por um terremoto que matou mais de 200 mil pessoas, deixando o país em ruínas e gerando um fluxo de milhares de imigrantes. Muitos deles vieram para o Brasil, que acabou concedendo visto humanitário para os haitianos, devido à situação vivida pelo país.

A medida aumentou ainda mais a vinda desta população para o território brasileiro. A porta de entrada é pelo Acre, que agora começa a enviar os haitianos para outras regiões, principalmente São Paulo, sob a justificativa da falta de estrutura para acolher a demanda.

Nos mesmos acampamentos de acolhimento a haitianos também é possível encontrar dominicanos que têm outros motivos para fugir de seu país. “Tinha um programa na TV e um emprego no governo. Após a eleição presidencial perdi tudo e fui vítima da pressão política. Por causa disso tive que deixar tudo para trás”, contou o jornalista Victor Manuel Guerrero Reyes, de 37 anos.

Apesar de motivados por situações distintas, os caribenhos buscam em território brasileiro uma vida melhor. Alguns ainda desejam conseguir regressar para seus países de origem vitoriosos após a jornada do “sonho brasileiro” ter sido concluída. “Tudo aqui é bom, mas estar junto a seu povo é sempre o que buscamos”, afirmou Reyes.

Impasse sobre destino de haitianos

O secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Rogério Sottili, disse que os refugiados haitianos estão sendo “despejados” na cidade. Mesmo com a polêmica em torno do envio dos imigrantes do Acre, um novo grupo chegou nesta segunda-feira (28) à capital paulista. “O que não podemos admitir é a atitude de ‘despejar’ os refugiados na cidade sem contato político para garantir seus direitos e condições de vida”, disse.

Desde 2011, 2 mil haitianos chegaram a São Paulo. No último mês, 500 chegaram à cidade vindos do Acre.
 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por