Drama da chikungunya: doença que cresce no Estado impõe a pacientes meses de dor e sofrimento

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
27/04/2017 às 20:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:19
 (Patrice Coppee)

(Patrice Coppee)

Depois das batalhas contra a dengue e a febre amarela, a chikungunya é a nova vilã da saúde pública em Minas. O salto assombroso no número de casos da doença no Estado impressiona, mas o poder de deixar pacientes incapacitados é o que mais chama a atenção. Os sintomas não se resumem ao vômito e às dores de cabeça, mas também a uma prostração extrema e a dores agudas que podem, inclusive, permanecer depois da cura da doença.

No primeiro quadrimestre deste ano, 9.986 casos prováveis da chikungunya foram registrados em municípios mineiros pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). O crescimento é de nada menos que 3.355% em relação ao mesmo período de 2016, quando foram 289.

Quem já foi infectado pelo vírus afirma que viveu uma das piores experiências da vida. É o caso da pensionista Norma Salomão, que chegava a chorar de dor durante os 15 dias em que ficou de cama por causa da chikungunya. 

Ela diz que até chegou a cogitar estar com uma crise de dores na coluna, problema que já tratava há tempos. Mas, depois do diagnóstico médico, viu a saúde piorar drasticamente.

“Começou com muita dor nas juntas das pernas e braços. Depois aumentou e eu não conseguia beber nem água, em uma situação que a hidratação é essencial. Foi horrível. Hoje ainda tenho dores nos joelhos. Me lembro que, antes disso, eu tive dengue, mas não chegou nem perto do que passei com a chikungunya”, relembra Norma.

Drama

O poeta Ismael Rocha, de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), também viveu momentos dramáticos durante os sete dias que permaneceu sem forças até mesmo para mastigar os alimentos. Ele conta que as dores no corpo evoluíram para um quadro de febre alta, cansaço intenso e vômitos contínuos. 

“Emagreci pelo menos sete quilos em uma semana e pensei que ia morrer. Eu não sentia fome alguma e tinha delírios tanto de dia quanto à noite. Até meu maxilar e minhas unhas doíam. Parecia até que esses mosquitos não vieram da natureza. Era como se tivessem injetado algo neles”, explica.

Cenário

A grande quantidade de pessoas não imunes ao vírus da chikungunya e as condições propícias para a proliferação do mosquito transmissor da doença formam um cenário ideal para que ela se espalhe cada vez mais em Minas.

A avaliação é do médico e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano. Para ele, o avanço da enfermidade só poderá ser contido se houver um esforço coletivo para a conscientização da sociedade, sobretudo nas grandes cidades. 

“É necessária uma ação mais intensa do poder público e da população, uma vez que ainda não há vacina desenvolvida para a doença. As condições de proliferação estão todas aí, há uma quantidade enorme de criadouros dentro das residências. Portanto, é preciso intensificar a prevenção em todos os seus níveis para que situação não saia do controle”, alerta o especialista. 

Em Belo Horizonte, dados da Secretaria Municipal de Saúde apontam 22 casos de chikungunya até 20 de abril; dentre eles , 15 são importados, ou seja, contraídos fora da capital mineira, e sete autóctones (contraídos no município)

 do país 

As ações governamentais para frear o aumento de casos da chikungunya em Minas têm sido desenvolvidas tanto em âmbito municipal quanto estadual e federal. No entanto, o foco principal são cidades que estão no topo do ranking de ocorrências da doença, como é o caso de Governador Valadares, no Leste de Minas. Lá, já foram registrados 6.444 casos suspeitos da enfermidade apenas nos quatro primeiros meses deste ano. 

O município é uma das áreas prioritárias para a Secretaria de Estado de Saúde (SES), junto com Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri. O plano de contigência elaborado pela pasta prevê apoio para implantação das Unidades de Hidratação, fornecimento extra de medicamentos e insumos utilizados para atendimento aos pacientes, além do envio de médicos para capacitação em serviço.

Ainda de acordo com a SES, os recursos para combate à proliferação da chikungunya estão garantidos. “O orçamento aprovado para as ações que envolvem Vigilância Epidemiológica e Ambiental soma R$ 89 milhões. Dentre as ações, inclui-se o combate ao Aedes aegypti, no montante de R$ 41,9 milhões, e para as ações de Emergências em Saúde Pública o montante de R$ 47,6 milhões”, disse a pasta em nota.

Redução

Dados do Ministério da Saúde comprovam que Minas está na contramão do país no que diz respeito ao avanço da chikungunya. Segundo o órgão federal, houve redução de 73% no número de casos em todo o território nacional. 

Até 11 de março, foram 26.856 notificações da enfermidade no país, o que representa uma taxa de incidência de 13 casos para cada 100 mil habitantes. No ano passado, foram 101.633 neste mesmo período.

Já em Belo Horizonte, dados da Secretaria Municipal de Saúde dão conta de 22 casos da doença até 20 de abril. Dentre eles, 15 são importados, ou seja, contraídos fora da capital mineira, e sete autóctones (cujos pacientes foram infectados no município). 

Além disso, há ainda 28 casos em investigação para a confirmação da doença. Durante todo o ano de 2016 foram contabilizados 51 doentes em Belo Horizonte, sendo 28 autóctones e 23 importados.

Em todo Brasil, foram registrados 26.856 casos da doença até 11 de março, segundo dados do Ministério da Saúde; o total representa uma queda de 73% na comparação com o mesmo período do ano anterior, quando 101.633 casos haviam sido contabilizados
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