Uma das imagens que mais chamaram atenção e marcaram a cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesse domingo (1º), em Brasília (DF), foi a entrega da faixa presidencial no Palácio do Planalto.
Lula subiu a rampa de acesso ao palácio acompanhado de oito pessoas, escolhidas para representarem a diversidade da população brasileira. A faixa presidencial, normalmente passada pelo antecessor, foi entregue ao petista pelas mãos da brasiliense Aline Souza, de 33 anos, mulher, negra e catadora de recicláveis.
Aline é presidente da Central das Cooperativas de Trabalho de Catadores de Materiais Recicláveis (Centcoop) do Distrito Federal e está na profissão desde os 14 anos. Ela é a terceira geração de catadores da família, seguindo os passos da mãe e da avó.
A quebra de protocolo na posse de Lula, trazendo a representatividade da população na subida da rampa do Planalto e na entrega da faixa, não despercebida. Quem acompanhou o momento foi Maria das Graças Marçal, mais conhecida como Dona Geralda, que também é presidente de uma cooperativa de recicláveis: a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare) de Belo Horizonte.
Ela foi uma das fundadoras da Asmare e trabalha há 33 anos na profissão. Ao Hoje em Dia, ela contou que se sentiu muito bem representada com a iniciativa da posse presidencial.
"Nós nos sentimos muito representados ao ver uma catadora passando a faixa para um presidente. Isso é muito importante para nós, que trabalhamos com o material que as pessoas chamam de lixo, mas na verdade nunca foi lixo. Para nós, sempre foi trabalho e renda", observou Maria das Graças.
A profissão de catador de recicláveis só foi regulamentada no último ano, por meio do Decreto 10.936, de janeiro de 2022. O texto descreve a responsabilidade das empresas e de cada participante da cadeia da reciclagem de lixo.
Ainda assim, na Justiça do Trabalho, muitas decisões trabalhistas não efetivam o direito à dignidade humana para esse segmento da sociedade brasileira. Os profissionais não recebem a devida atenção do Estado.
"A gente precisa de reconhecimento. O catador tem que ser reconhecido como trabalhador. Há quantos anos nosso trabalho contribui para a preservação do meio ambiente?", questionou Dona Geralda.
A presidente da Asmare contou ainda que o presidente Lula já visitou a sede da associação, na capital mineira, muito antes de ocupar o cargo pela primeira vez – o primeiro mandato foi em 2022.
Apesar de reconhecer que, segundo ela, o petista “sempre lutou” pelo reconhecimento dos catadores, ainda há muito trabalho a ser feito para melhorar as condições desses profissionais.
"Temos muitas dificuldades, principalmente de estrutura, que está saturada, e dos caminhões (que recolhem o material), que estão sucateados. Todo presidente que entra a gente espera melhoria", disse Maria das Graças Marçal.
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