Em dia de paralisação de agentes de saúde e médicos, postos ficam lotados

Letícia Alves, Patrícia Santos Dumont e Raquel Ramos - Hoje em Dia
24/02/2016 às 07:01.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:33
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Em um momento crítico para a saúde pública em função do aumento dos casos de dengue – média de 54 doentes por dia na capital –, e diante de um aumento de 40% nos atendimentos públicos realizados em BH, médicos, agentes comunitários de saúde e de combate a endemias cruzaram os braços nessa terça (23). Como resultado, Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) lotadas, demora no atendimento e um dia de trégua para o Aedes aegypti, transmissor da doença, do zika vírus e da chikungunya. Em algumas unidades, o tempo de espera chegou a 12 horas.
 
O atendimento na UPA Leste, na avenida dos Andradas, por exemplo, foi um dos mais problemáticos. “Estou aqui desde ontem (segunda-feira). Eles não me passaram um exame de sangue nem um raio-X. Esperei horas para me darem só um antiinflamatório”, reclamou a recreadora Jaqueline Ferreira, que foi embora com falta de ar.

O caso da balconista Michele Paula Lisboa foi considerado brando. Por causa disso, ela teria de aguardar pelo menos oito horas até ser atendida. Mesmo sentindo fortes dores, ela cogitava voltar para casa da forma como chegou: sem receber o diagnóstico.


UPA PAMPULHA – Fabiano da Silva ficou horas esperando para receber soro (Foto: Frederico Haikal/Hoje em Dia).

DO LADO DE FORA

Situação semelhante foi encontrada por quem procurou as UPAs do Hospital Odilon Behrens e da Pampulha. Nas duas unidades, havia pacientes em pé e aguardando do lado de fora.

“Não há previsão de atendimento. Os médicos não falam nada com a gente. Ninguém toma uma posição”, reclamou a cuidadora de idosos Vanessa Silva de Souza, que acompanhava o irmão doente.

Filas também na Upa Odilon Behrens, anexa ao hospital de mesmo nome

No bairro Santa Terezinha – onde apenas um dos quatro médicos escalados estava trabalhando na UPA Pampulha, segundo uma funcionária –, pacientes com sintomas da dengue recebiam soro em uma área externa da unidade. Segundo a prefeitura, nenhum médico havia faltado.


Ainda conforme a nota, não houve suspensão nos atendimentos médicos em UPAs e centros de saúde (Foto: Carlos Henrique/Hoje em Dia).

Alguns enfermos, como Fabiano Ferreira da Silva, passaram a madrugada no local enquanto aguardavam atendimento. “Cheguei há mais de 24 horas, só agora fui colocado no soro, mas estou em um banco de concreto esperando uma vaga em um hospital”, desabafou.

Reivindicação

A categoria médica cobra reajuste salarial e melhores condições de trabalho. Em nota, a prefeitura informou que um plano de carreira “inovador” está em processo de finalização para ser enviado à Câmara Municipal. Após aprovado, o médico terá a opção de aderir ao novo plano ou permanecer no atual. Nesse caso, seria concedido aumento de 5%, negociado com os demais servidores.

Segundo a superintendente do Hospital Municipal Odilon Behrens, Paula Martins, o aumento da demanda já era previsto. “Atendemos cerca de 300 pessoas por dia e estamos chegando a 400 em virtude da sazonalidade da dengue”.

Agentes comunitários reclamam de falta de qualificação e acusam sobrecarga de trabalho

A inclusão de 2.500 agentes comunitários de saúde (ACS) no combate à dengue não significa a ampliação das vistorias, segundo o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), Israel Arimar. Ele destaca que esses servidores não estão qualificados para eliminar o mosquito Aedes aegypti e não dispõem dos equipamentos de segurança necessários.
 
Nessa terça (23), a categoria paralisou em reivindicação ao desvio de função, determinado pela prefeitura para reforço ao mutirão de combate ao mosquito. Agentes de combate a endemias (ACEs), responsáveis pela eliminação dos focos nas residências, também participaram do movimento.

“Nós estamos exigindo que o trabalho do ACS no mutirão seja de orientação das famílias e a ação nos focos seja do ACE”, disse Arimar.

Aperto

Quem visita semanalmente as residências para orientações de saúde, reclama da falta de qualificação. “Já achei foco e não tive o que fazer. O morador pergunta se a gente trouxe o veneno, mas não temos nada”, afirmou a ACS Ilda Camilo de Almeida.
 
Para a ACS Cleia Adriana de Souza, o problema é o acúmulo de função. “Estamos ficando sobrecarregados. Queremos trabalhar na nossa área, com salário digno”, disse.

Enquanto um ACE ganha R$ 1.020, um ACS recebe R$ 780. A prefeitura informou que paga o piso nacional da categoria, mas não se posicionou sobre o desvio de função.

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