
A explosão no número de estacionamentos rotativos em Belo Horizonte tem sido alvo de polêmica entre motoristas e moradores de áreas residenciais da capital. De janeiro a agosto deste ano, 625 vagas físicas foram criadas na cidade dentro do sistema Faixa Azul, conforme dados da BHTrans. Um montante 15 vezes maior do que o registrado em todo 2016.
O Centro e o bairro Floresta ganharam, no início de agosto, 268 novas vagas físicas, a maioria delas com o limite de duas horas de permanência. Apesar de recente, a mudança já motivou a revolta de dezenas de pessoas.
100 mil oportunidades de estacionamento rotativo
Na avenida Francisco Sales, no trecho entre as ruas Itajubá e Sapucaí, moradores organizam um abaixo-assinado para ser entregue à BHTrans, solicitando a retirada do sistema de rotativo recém-implantado. No local há um colégio, uma faculdade e dois prédios residenciais.
A psicóloga Alessandra Salles, síndica do Edifício Sapucaí, afirma que pelo menos 120 famílias estão sendo prejudicadas, já que o prédio é antigo e não possui garagem. “Estamos em um quarteirão residencial. O que temos é a necessidade da criação de vagas reservadas para idosos e para carga e descarga”, afirma.

Acessibilidade
Moradora do mesmo condomínio há mais de uma década, Luzinete de Oliveira, de 59 anos, explica que, desde que as vagas rotativas foram implantadas, está sendo obrigada a parar o carro a muitos quarteirões de distância, o que dificulta a rotina. “Para piorar, meu marido é cadeirante e não há vagas para deficientes físicos aqui”, protesta.
Quem não é morador, mas frequenta o local todos os dias, também desaprova a novidade. A jornalista Luciana Morais não gostou de saber que vai precisar pagar para estacionar todas as vezes que for à escola onde os filhos estudam há dez anos. “Se não existem comércios por aqui, qual a razão para colocarem Faixa Azul?”, questiona.
Demanda
Segundo a BHTrans, o aumento na quantidade de vagas de rotativo decorre do crescimento da frota do município. O gerente de Estacionamento e Logística Urbana do órgão, Sérgio Rocha, explica que, diante de um número cada vez maior de veículos, o sistema de Faixa Azul é a solução mais eficaz para que todos consigam estacionar.
“Antigamente, um quarteirão era disputado por uma média de 20 veículos. Hoje, o número é muito maior. Acompanhamos essa mudança de dinâmica da cidade”, afirma.
Os dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), no entanto, mostram que, de julho de 2016 até o mesmo mês deste ano, a frota da capital cresceu apenas 6%. Já o número de vagas físicas de estacionamento rotativo teve um acréscimo de mais de 1.400%.
De acordo com o gerente, todos os pontos onde as vagas são implantadas passam por um estudo prévio. Porém, há um período para que cada mudança seja avaliada e eventuais alterações feitas. “Podemos errar. Se constatarmos que a decisão não foi a ideal, é totalmente possível desfazer a modificação”, frisa Rocha.

Critério na escolha de locais para implantação do sistema é essencial, reforçam especialistas
Desde o início do ano, mais dois bairros além do Centro e do Floresta tiveram as vagas físicas de estacionamento rotativo ampliadas na capital. Em abril, o Cidade Nova, na região Nordeste, teve 137 em cinco quarteirões. Em maio, foi a vez do Nova Granada, que ganhou 220.
Especialistas afirmam que o mecanismo é útil para organização do trânsito da cidade, mas defendem critério na distribuição das vagas.
Para o engenheiro de transportes e professor da Fumec Márcio Aguiar, é natural a insatisfação da população caso os rotativos sejam implantados de maneira indiscriminada. “Essa expansão de vagas deve se concentrar em áreas comerciais e não pode ser feita sem estudos. Fazem muito bem os moradores em querer negociar com a BHTrans”, avalia.
O consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto diz que a necessidade da maioria deve ser analisada. Ele explica que, havendo conscientização por parte da população, o rotativo pode funcionar melhor. “É mais fácil para quem fica o dia inteiro no trabalho usar o ônibus e deixar o carro em casa. Já para quem vai fazer uma atividade de curto prazo, como ir ao dentista, não. O rotativo existe para isso”, observa.
Custos
Hoje, a folha do rotativo em Belo Horizonte custa R$ 4,40 e é válida para utilização em qualquer dos tempos regulamentados.
A receita líquida, de acordo com a BHTrans, é aplicada em melhorias do sistema viário da cidade, como manutenção e implantação de sinalização, operação de tráfego, fiscalização do trânsito e programas de segurança e educação.
