Engajamento da população ajuda a contar a história dos 121 anos de BH, celebrados nesta quarta

Malú Damázio e Mariana Durães
11/12/2018 às 21:05.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:31
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Do pequeno arraial de Curral del-Rei à metrópole, BH viveu intensas transformações. Mudanças sociais e urbanas possibilitaram novos usos e significados para ruas, praças e prédios planejados ainda na época da construção, em 1897. Hoje, ao completar 121 anos, a capital dos mineiros é o retrato de modificações promovidas após o engajamento da população ou pelo poder público. 

A cidade se modernizou, mas sem perder a relevância cultural e social. Quem desconhece a região do Barreiro e passa pela Praça Modestino de Sales Barbosa, por exemplo, nem imagina que o local onde funciona uma escola municipal já abrigou um centro para menores infratores. 

O mesmo vale para o mais famoso centro de compras de Belo Horizonte. Muito antes de se tornar o imponente Mercado Central, o terreno na avenida Augusto de Lima era o estádio de futebol do América.

Professor da Escola de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFMG, Roberto Andrés reforça que a própria história local foi marcada por processos de renovação. “Belo Horizonte nasce em um momento de pensamento positivista, sob o signo do novo. O arraial foi substituído e eliminado para construir outro projeto. E essa mudança é muito comum em grandes cidades. Os centros desses locais, que abrigaram as grandes atividades econômicas da primeira metade do século 1920 foram se esvaziando e houve uma dinâmica de reocupação”.

“Um dia disseram que a rua (Sapucaí) seria a Lapa de Minas” (Beth Sily, da Associação de Moradores do Bairro Floresta)

Popular

Muitas das mudanças profundas vividas só foram possíveis após a participação popular, como na criação do Centro de Referência da Memória de Venda Nova. O sobrado, na rua Boa Vista, foi a residência de diferentes famílias até o tombamento, em 2003. Mas, após anos de abandono, um incêndio destruiu o imóvel, que só foi reerguido em 2013.

“Na época, foi uma tristeza enorme porque a casa sempre foi uma referência e sabíamos que era importante preservá-la. A reconstrução foi muito importante”, conta Lúcia César Santos, de 84 anos. A mulher foi uma das moradoras que mais lutou pelo restauro.

Para a professora da Escola de Ciência da Informação da UFMG Ivana Parrela, nenhuma mudança acontece por acaso, e sim por mobilizações. “Quando a população se apropria de um espaço que está se degradando, é porque ela vê naquele local uma possibilidade de construção de memória, de uso coletivo. Isso mostra que a cidade é viva e está sempre mudando”, pontua a historiadora, que já dirigiu o Arquivo Público da Cidade.

Outro exemplo

De aglomerado de casas improvisadas dos profissionais que ergueram a capital em 1987 a conjunto de galpões de depósito de produtos que chegavam à cidade pelo trem, a rua Sapucaí, no bairro Floresta, também é um exemplo. Atualmente, a via é um importante polo de cultura e ponto de encontro dos que vão admirar a ampla vista e os grafites recém-pintados em edifícios do Centro.

Residente da região, Beth Sily, membro da Associação de Moradores do Bairro Floresta, conta que a mudança da Sapucaí teve ação popular e também da prefeitura. “Um dia disseram que a rua seria a Lapa de Minas. Para isso, trocaram os canos e o asfalto. Bares e restaurantes começaram a chegar. Agora, sempre há pessoas lá vendo o pôr do sol, turistas, festas. Isso trouxe uma nova vivacidade para o bairro”.

Desafios

Transformado em Museu da Moda em 2016, o antigo Centro de Cultura Belo Horizonte continua abrigando uma biblioteca – detalhe ignorado por muita gente que frequentava o espaço antes da mudança. Agora, um dos principais desafios é atrair novos leitores e reconquistar os antigos, diz a bibliotecária Maria do Carmo Costa e Silva, que trabalhou no imponente edifício da rua da Bahia, esquina com avenida Augusto de Lima, por 17 anos. 

Embora o acervo, que conta com 5 mil livros de humanidades e artes, não tenha sido alterado, apenas acrescido, Maria do Carmo conta que alguns frequentadores não se adaptaram à proposta.

“Algumas pessoas desconhecem a realidade, pensaram que o espaço havia se transformado em um centro feminino, por acharem que moda é algo só de mulher”, afirma. Para recuperar os primeiros leitores, a equipe do museu foi atrás dos contatos de cada um no cadastro da biblioteca.

Região Nordeste
Na Usina de Cultura, que já foi um galpão da prefeitura, na região Nordeste, a ideia de incorporar ao espaço uma biblioteca pública que existia há dez anos em outro endereço da mesma regional foi benéfica para atrair a população.

Além disso, o boca a boca, conforme o diretor da Usina, Randolpho Silva, chegou a chamar um número recorde de frequentadores no mês passado, que ultrapassaram os 3 mil. A série de atividades culturais também ajudou no processo.

Mapa interativo 
(Bárbara Donhini / Hoje em Dia)



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