Erros, fracassos, frustrações e burocracia na liberação de recursos para pesquisa

Raquel Ramos - Hoje em Dia
30/11/2014 às 10:03.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:13
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

Para eles, a graduação foi apenas o pontapé de uma longa jornada dedicada aos estudos. Enquanto a maioria dos colegas tentava uma colocação no mercado após receber o diploma, preferiram permanecer no ambiente acadêmico e fazer desse espaço um lugar de trabalho. Com mentes inquietas e inovadoras, pesquisadores de todo o Brasil são os responsáveis pela criação de novos conhecimentos e tecnologias que trazem avanços e melhorias para a sociedade.   Gustavo Menezes faz parte desse grupo. Com apenas 33 anos, é o chefe do laboratório de Imunobiofotônica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Apesar da pouca idade, tem gabarito para assumir o cargo: já fez mestrado, doutorado e três pós-doutorados.   “A paixão pela ciência surgiu na infância, depois de ganhar um microscópio de brinquedo e um jogo de alquimia”, brinca. O que era apenas entretenimento virou coisa séria quando entrou no curso de Odontologia e fez a primeira iniciação científica, que lhe rendeu um prêmio internacional. Desde então, não parou. Emendou um estudo ao outro, tendo sempre como foco a pesquisa sobre o funcionamento do sistema imunológico.   Realizado, Gustavo fala com empolgação dos projetos desenvolvidos. “Fenômenos relacionados à ação do sistema imunológico foram descritos aqui, pela primeira vez, com estrutura exclusivamente nossa”. Agora, tem um novo motivo para orgulhar-se. Ele tenta obter a patente de uma formulação promissora para tratamento de doenças hepáticas por uso exagerado de medicamentos ou álcool. “O mérito não é apenas meu”, ressalta. “Uma equipe estava envolvida nesse trabalho há cinco anos”.   Outro lado   Como em outras carreiras, os pesquisadores também têm que lidar com inúmeros desafios. Dentre eles, Gustavo cita a burocracia. Com a maioria dos trabalhos financiados pelo governo federal, precisam enfrentar um longo processo para adquirir insumos e equipamentos para as pesquisas.   Além disso, erros, fracassos e frustrações estão presentes no dia a dia da profissão. “A maior parte dos experimentos que fazemos traz um resultado diferente do que era esperado. É decepcionante, mas temos que encarar isso como uma oportunidade de crescimento”.   Que o diga o biólogo Fabrício Vilas Boas, de 33 anos, que desde 2011 passa grande parte do tempo em laboratório ou debruçado sobre livros, dedicando-se à tese, já em fase de conclusão, sobre tratamento de tumores cerebrais. “Podemos ter tudo nas mãos e, mesmo assim, não alcançarmos o objetivo desejado. Fazemos várias tentativas, cometemos muitos erros antes de um acerto”.   No projeto de doutorado, por exemplo, fez menos avanços que esperava. Ainda assim, Fabrício sabe que o trabalho não foi em vão. “No futuro, outra pessoa pode se valer da minha pesquisa e, com nova técnica, alcançar resultados diferentes. É aos poucos que trazemos resultados importantes para a sociedade”.   Enquanto o biólogo está no início da carreira científica, o engenheiro mecânico Marcos Pinotti, de 49 anos, já é “veterano” na área. Com 49 anos, coleciona 56 registros de patentes. “É um número assustador. Sou o professor universitário com mais patentes. Integrei ou liderei esses projetos, a maioria deles na área da saúde”.   Dentre as invenções de mais destaque, ele cita um dispositivo de bombeamento de sangue para cirurgia extracorpórea, um tênis com amortecimento especial inspirado no pulo de um gato, e uma luva robotizada que ajuda pessoas que sofreram derrame a restaurar os movimentos da mão.   Experiente no assunto, Pinotti elogia o crescimento de pesquisas feitas no Brasil nos últimos 20 anos. “Agora, é a hora de fazer a evolução. Transformar todo esse conhecimento científico em inovação, gerar novos produtos e serviços que irão aumentar a riqueza do país”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por